O melhor da escola é o professor, avaliam estudantes
Para jovens que responderam à 2ª fase da pesquisa Nossa Escola em (Re)Construção, educadores se destacam entre principais aspectos do ambiente escolar
por Marina Lopes / Vinícius de Oliveira 18 de abril de 2019
Entre os principais aspectos que compõem o ambiente escolar, os professores são os mais bem avaliados pelos estudantes. Em contrapartida, o uso de tecnologia na escola é o pior item entre os analisados pelos adolescentes e jovens que responderam à segunda fase da pesquisa Nossa Escola em (Re)Construção, realizada pelo Porvir, em parceria com a Rede Conhecimento Social e a Inketa.
Realizada a partir de dados coletados nos anos de 2017 e 2018, a segunda fase da pesquisa foi respondida por 19.884 adolescentes e jovens de 11 a 21 anos. A consulta é uma atualização, com algumas alterações, da primeira edição, que teve a participação de 132 mil estudantes em 2016. Criada a partir da metodologia PerguntAção, desenvolvida pela Rede Conhecimento Social, que envolve o público pesquisado em todas as etapas do processo, ela foi disponibilizada por meio da plataforma de escuta online e gratuita Nossa Escola em (Re)Construção.
Na plataforma, os participantes foram convidados a dizer como é a sua escola atual ou a última em que estudaram e como eles gostariam que ela fosse. Ao avaliar 11 aspectos da instituição de ensino, em uma escala de 1 (Tá tenso) a 5 (Tá tranquilo, tá favorável), as maiores notas foram para o professores (3.9), seguidos pelas aulas e matérias (3.8). Entre os últimos itens, aparece o uso de tecnologia (2.7) e as atividades extraclasse (2.9).
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“Os educadores precisam conhecer os sonhos e demandas de seus estudantes para que possam construir junto com eles uma escola que tenha a cara deles e possa prepará-los para seus desafios”, diz Tatiana Klix, gestora de mobilização do Porvir.
Apesar dos resultados apresentarem percepções dos jovens sobre diferentes aspectos da escola, a consulta não apresenta um rigor científico na seleção dos respondentes por região, faixa etária, sexo, cor, escolaridade e rede de ensino. “Deve-se tomar cuidado com a comparação porque a pesquisa não trabalha com amostra representativa, nem na primeira nem na segunda edição. Assim não é possível dizer que os números de 2017 e 2018 representam uma evolução em relação aos obtidos na primeira sondagem”, pondera Marisa Villi, cofundadora e diretora executiva da Rede Conhecimento Social.
Parceria com redes
Por meio de parcerias com redes que responderam ao questionário da pesquisa, em 2016, a amostra teve foco em São Paulo e Goiás, enquanto a segunda fase traz um olhar para o Espírito Santo, que teve 13.649 respostas da rede estadual. “A ferramenta nos mostrou o quanto é possível ouvir os alunos de uma forma mais ampla, em larga escala. A gente fazia encontros presenciais e não tínhamos como chegar a todas as escolas. A pesquisa foi interessante porque mudou a cultura da secretaria, que começou a criar ferramentas para ter acesso aos alunos de várias perspectivas”, conta Carmem Prata, assessora de tecnologia educacional da Secretaria de Educação do Espírito Santo.
Ela avalia que a consulta gerou impacto na formação de professores da rede, de forma que eles pudessem mudar suas práticas e usar metodologias ativas para trazer mais protagonismo e engajamento dos estudantes. A percepção dos alunos sobre o uso de tecnologia na escola também gerou mudanças. Segundo ela, as escolas começaram a ser equipadas com laboratórios móveis e o uso de celular em sala de aula foi liberado. “Tornamos uma lei antiga sem efeito e criamos uma nova política para uso de celular na escola. Com isso, o aluno pode usar conexão wi-fi com o próprio celular”, explica.
O que os jovens querem
Entre uma das grandes novidades do questionário aplicado em 2017 e 2018, está uma questão que avalia quais são as características mais valorizadas pelos jovens em um professor. Para eles, o mais importante é saber explicar bem os conteúdos (54%) e ter muito conhecimentos sobre um assunto (33%). Por outro lado, ser exigente e saber colocar limites nos alunos (8%) foi a opção menos destacada.
Na consulta, os jovens também foram convidados a refletir sobre dois ambientes educacionais diferentes: a escola para aprender mais e a escola que deixa mais feliz. Para cada um desses cenários, eles imaginaram seis aspectos: o foco da escola, o jeito de aprender, a organização curricular e os conteúdos.
Em relação a estrutura física das escolas, a pesquisa demonstrou que a tecnologia está presente na vida dos jovens. Entre os participantes, 56% disseram que ela não pode faltar na escola e não deve estar presente apenas no laboratório de informática. Ao mesmo tempo, os jovens também reconhecem a importância de quadras e equipamentos esportivos (53%) e de área verde (37%).
Assim como na pesquisa realizada em 2016, os estudantes demonstram que se preocupam com o futuro e querem, em sua maioria, que a escola tenha foco na preparação para o Enem e o mercado de trabalho. No entanto, em um cenário que considera a escola que os deixa mais felizes, cresce o número de respostas que representam o desejo por desenvolver habilidades artísticas e culturais e preparar para relações humanas e lidar com emoções.
Quando avaliam o jeito de aprender, as abordagens tradicionais (aulas teóricas e estudar sozinho) ainda são preferidas pela maioria dos participantes, mas metodologias centradas em relações (trabalho em grupo e interagindo com a comunidade) também se destacam. Para um quarto dos participantes, as atividades mão na massa (aulas baseadas em tecnologia ou projetos práticos) são o melhor jeito de aprender.
“O lançamento dos resultados de 2017 e 2018 marca uma nova fase da plataforma Nossa Escola em (Re)Construção. Para acompanhar os debates sobre o Novo Ensino Médio, a consulta agora traz perguntas específicas sobre o que os jovens esperam da etapa e quais caminhos querem seguir. “Será uma ferramenta poderosa para gestores e professores implementarem as mudanças com base nas expectativas de seus alunos”, destaca Tatiana.
Confira o relatório completo aqui.