Requalificação profissional depende da abertura ao novo e de 'bolhas porosas' - PORVIR
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Inovações em Educação

Requalificação profissional depende da abertura ao novo e de ‘bolhas porosas’

Evento "IBM School" discute a integração entre o humano e a tecnologia para requalificação profissional

por Vinícius de Oliveira ilustração relógio 13 de setembro de 2019

Sair da faculdade com diploma debaixo do braço e a insegurança na cabeça é comum para muitos jovens. Depois de quatro anos, muita teoria e pouca prática, resta o choque com a realidade do mercado de trabalho. Mas esse é apenas um lado da moeda. Do outro, estão indivíduos formados há muito tempo que ligam o sinal de alerta para empresas, que sentem a pressão pela transformação digital e a necessidade de requalificação em massa para conseguir inovar e atender novas necessidades de seus clientes.

Manter uma formação continuada é processo que nunca foi fácil, mas a complexidade das novas tarefas guiadas por automação e inteligência artificial fazem com que as empresas demorem dez vezes mais tempo para desenvolver dentro de casa as competências necessárias para o século 21, segundo pesquisa do Institute for Business Value, da IBM, realizada com presidentes de grandes empresas globais. Mesmo quando o profissional já tem anos de casa, o frio na barriga do tempo de recém-formado permanece: oito em cada dez deles afirmam não ter habilidades necessárias para progredir na carreira.

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A edição de 2016 do levantamento destacou que conhecimentos técnicos na área de ciências e habilidades básicas de computação eram vistos por executivos como pontos críticos. Já em 2018, as duas principais habilidades procuradas foram as comportamentais – vontade de ser flexível, ágil e adaptável às mudanças, além de gerenciamento de tempo e de traçar prioridades.

Abertura à requalificação

Os impactos dessas mudanças e exemplos de quem soube se adaptar a elas foram discutidos no último dia 5, durante o painel “Muito além da tecnologia: os desafios do reskilling e o temor da obsolescência profissional” do evento IBM School – Protagonismo humano na era digital, realizado em São Paulo (SP).

Com a participação da professora de semiótica no Programa de Pós-Graduação em Comunicação e Semiótica na PUCSP, Lucia Santaella, da pesquisadora e pensadora de futuro, Lígia Zotini, e de Leandro Yoshida, profissional de tecnologia da IBM, a discussão mostrou que a expressão “aprendizagem ao longo da vida”, que domina palestras e eventos de educação, precisa virar realidade o quanto antes.

A adaptação às novas demandas, na opinião dos debatedores, requer essencialmente a abertura ao novo. “A gente veio de uma época em que era preciso conhecer muito bem as melhores práticas. Isso era ensinado até 2010, uma época em que as tecnologias que estão acelerando a obtenção de dados não estavam bem desenvolvidas entre nós”, disse Lígia.

Segundo ela, que comanda o ecossistema digital de educação Voicers, os próximos anos vão exigir outra postura e demandam autoconhecimento e polivalência. “O futuro de qualquer área vai passar por aqueles que são plurais”. Neste ambiente, ganham espaço os polímatas, indivíduos que estudam ou que conhecem muitas ciências, que vão saber lidar com tecnologias, como a inteligência artificial, da maneira certa. “A inteligência artificial não será capaz de nos dar as perguntas. Ela nos dará insights, mas as melhores perguntas ainda vão depender do olhar humano”, avalia.

Essa ideia é exemplificada pela experiência de Leandro Yoshida, hoje programador, mas que decidiu trocar de carreira há 10 anos, quando já estava na pós-graduação em fisioterapia. “No meio da pós-graduação, vi que aquilo não era o que eu pretendia para o meu futuro, mas achava que com 23 anos eu estava muito velho para mudar de área. Fiquei triste com isso, era só uma questão de coragem”, disse.

“Sabia o que precisava fazer para conquistar o que queria. Levantei da cama pesquisando cursos e faculdades e, no mesmo mês que eu terminei minha pós-graduação, comecei a faculdade do zero em ciência da computação. Como era de se esperar não consegui eliminar nenhuma matéria”, relembra.

Yoshida conta que passou anos combinando uma agenda apertada de segunda a sexta-feira, quando trabalhava em horário comercial, fazia o curso de ciência da computação à noite e, aos finais de semana, dava plantão como fisioterapeuta. “Eu nunca tinha 24 horas de repouso e minha única certeza era que aquilo não iria durar para sempre, dando certo ou errado na área de TI. Era insustentável, mas olhando para trás eu fico feliz com minhas escolhas”.

Humano tecnológico
A pesquisadora Lucia Santaella complementou a discussão criticando a separação entre o humano e a tecnologia. “O ser humano é tecnológico de saída. Ele não teria sobrevivido na biosfera se não fosse pelas técnicas que ele próprio inventa. Durante muito tempo fiquei me indagando por que as pessoas têm preconceito com a tecnologia? Sofremos com a praga ocidental de divisão do mundo em pólos opostos. Essa divisão que é feita entre o humano, orgânico, que a gente vê no espelho e a tecnologia que está lá fora não existe”. Ao aprofundar seu ponto de vista, Lucia lembra, por exemplo, que o ser humano tem dentro de si uma tecnologia própria, o aparelho fonador, que o diferencia dos demais seres vivos.

Ao antecipar ideias de seu próximo livro, “Do pós-humano ao neo-humano – A sétima revolução cognitiva do sapiens, ela reforçou que o que interessa para o ser humano é a cognição. “Por que vocês acham que a inteligência artificial apareceu por aí? A tendência da inteligência é crescer. Não vamos tomar inteligência nem como progresso e nem de sabedoria. O que caracteriza a inteligência é o desenvolvimento de habilidades”, explica.

Para a pesquisadora, a tecnologia de inteligência artificial tende a conquistar espaço “porque nem indivíduos e nem coletivos humanos estão dando conta da hipercomplexidade do mundo atual”. A professora da PUCSP também relativizou o poder que empresas de tecnologia conquistaram em razão do grande número de dados que possuem dos usuários. “Eu adoro ser vigiada pelo Google e pelo Facebook. Adoro. A minha bolha é porosa. Então temos que desenvolver bolhas porosas com ética da curiosidade”.

Neste cenário, a recomendação que a professora da PUCSP faz é procurar se manter atualizado e aberto ao que está acontecendo, “porque o ser humano tem uma riqueza maravilhosa que é sua capacidade adaptativa”. E qual seria o papel da escola? “A escola é maravilhosa enquanto fonte de inspiração. É capaz de alimentar desejos, que são o que movem a nossa vida”.


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competências para o século 21, ensino fundamental, ensino médio, ensino superior, equidade, tecnologia

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