Projeto brasileiro de educação midiática fica entre os 6 melhores do mundo
Premiação de educação midiática realizada pela Unesco reconhece o Imprensa Jovem, que alcança mais de 400 escolas da rede municipal de São Paulo
por Vinícius de Oliveira 4 de novembro de 2020
A Unesco MIL Alliance (Aliança promovida pela Organização das Nações Unidas para alfabetização midiática e informacional) anunciou na sexta-feira que o projeto brasileiro Imprensa Jovem – Agências de Notícias na Escola, liderado pelo educador Carlos Lima, na Secretaria Municipal de Educação de São Paulo (SP), ficou entre os seis melhores na UNESCO MIL Alliance Award. Em sua quinta edição, a premiação reconhece líderes e projetos que promovem o acesso às competências em mídia e informação. Neste ano, houve um empate para primeiro, segundo e terceiro lugares. O Imprensa Jovem ficou em terceiro, ao lado do paquistanês Daastan.
O Imprensa Jovem estimula a participação e amplia os canais de comunicação da escola com a sua comunidade. Nele, os estudantes não ficam só na teoria. Em atividades práticas, desenvolvem habilidades e a criatividade a partir de pesquisas e produção de reportagens que são compartilhadas por meio de blogs, rádios virtuais, canais no YouTube e mídias sociais.
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“Esse prêmio é realmente um feito incrível porque referenda a educomunicação como proposta de educação midiática e também o Imprensa Jovem, uma iniciativa da rede de São Paulo que agora ganha destaque pela Unesco”, disse Carlos Lima ao Porvir, reiterando durante a conversa a importância do protagonismo do estudante para o desenvolvimento de ações dentro do ambiente escolar.
“O prêmio mostra o que a educação brasileira pode desenvolver de bom quando a gente consegue ter uma proposta em que o estudante está ao lado do professor no desenvolvimento das ações e da produção de conhecimento. No caso do Imprensa Jovem, o estudante vai muito além disso, e produz intervenções efetivas na comunidade”, disse Carlos. Em 2019, 411 escolas receberam o projeto. Neste ano, mesmo com a pandemia, 386 unidades escolares tiveram atividades do projeto.
? Conheça a história do projeto Imprensa Jovem aqui no Porvir
Ao comentar o destaque dado ao projeto brasileiro, Alexandre Le Voci Sayad, educador brasileiro copresidente do conselho da Unesco MIL Alliance se disse muito feliz. “Gostamos muito do resultado final pela qualidade dos projetos, que acabaram todos super bem pontuados, por isso que deu esse empate tão grande. E também é possível perceber uma representatividade bem grande de continentes e de áreas diferentes da informação, como cinema e tecnologia”, disse Alexandre Le Voci Sayad,
“O prêmio é importante porque reconhece iniciativas pioneiras, como é o caso do Imprensa Jovem, que tem 15 anos de existência. Eu acompanho o trabalho do Ismar (de Oliveira Soares, professor da Universidade de São Paulo) desde do fim dos anos 1990, com nascimento do NCE (Núcleo de Comunicação) e o trabalho do Carlos Lima desde o começo. Acho muito merecido esse prêmio pelo que eles têm feito em educomunicação, que conta com uma relação simbiótica aí com a educação midiática e informacional”.
Conheça os projetos premiados
1º) Michelle Ciulla-Lipkin – National Association for Media Literacy Education – Estados Unidos
Por meio de conferências, redes e colaboração, a NAMLE leva as melhores práticas de educação midiática para estudantes, educadores, famílias, organizações, escolas e universidades.
Michelle Ciulla-Lipkin, diretora-executiva da NAMLE, foi reconhecida pela Unesco pelo esforço incansável em denunciar violações de direitos humanos, trabalhar pela redução dos índices de pobreza
1º) Willice Onyango – The Youth Cafe – Quênia
O Youth Cafe é uma organização dirigida e voltada para os jovens que, entre outros objetivos, trabalha para a capacitação em educação midiática. Por meio de uma forte presença institucional e de uma comunidade de prática centrada na mobilização de atores-chave para consolidar a democracia, a organização já publicou pesquisas de ponta e realiza um trabalho de alfabetização midiática e informacional.
Em cinco anos, o diretor Willice Onyango pretende alcançar mais de 5 milhões de homens e mulheres jovens na África com habilidades de alfabetização de mídia: pensamento crítico, verificação de fatos, segurança online, checagem de mídias sociais, da qualidade da informações online e identificação de suas fontes. A organização já recebeu mais de US$ 500 mil em incentivos do Google e da Fundação Ford.
2º) Sam Wineburg – Margaret Jacks School of Education/Universidade de Stanford – Estados Unidos
O professor Sam Wineburg e o History Education Center da Universidade de Stanford são pesquisadores, fundadores e distribuidores da abordagem “Lateral reading” (que pressupõe uma verificação durante o processo de leitura) para a educação básica e superior.
Com um alcance enorme em escolas, o projeto chegou a milhões de estudantes nos Estados Unidos. O projeto conta com apoio de escolas, associações de pais e mestres, além de organizações de educação midiática.
De acordo com Sam, quanto mais as pessoas conseguirem desenvolver habilidades midiáticas, mais conseguirão acreditar e ajudar umas às outras, diminuindo a polarização que atinge a sociedade.
2º) Silvia Bacher – Las Otras Voces. Comunicación para la Democracia – Argentina
O programa Las Otras Voces tem como missão central fortalecer a participação da comunidade na vida democrática, promovendo o exercício do direito à comunicação desde a infância.
Las Otras Voces atua com a comunidade educacional, ONGs, centros comunitários, instituições fechadas e unidades acadêmicas em torno do direito à comunicação, participação social, questões da infância e juventude e educação. A iniciativa já estabeleceu parcerias com outros países da América Latina e com a Espanha.
Entre outras ações, leva técnicas de radialismo para educadores e estudantes, além de ter uma plataforma chamada Entre Jóvenes para abrigar a produção dos alunos e materiais de apoio.
3º) Syed Ommer Amer – Daastan – Paquistão
A organização Daastan influencia a alfabetização midiática e informacional em geral, realizando campanhas temáticas mensais que usam técnicas de narrativa como uma ferramenta para promover o diálogo e criar um espaço seguro para as pessoas expressarem suas preocupações. Essas atividades acontecem em uma base semestral ou mensal.
Recentemente, a Daastan lançou o concurso de redação de contos #WeToo em colaboração com Stories to Action – Uma plataforma global que trabalha pelos Direitos de Saúde Sexual e Reprodutiva durante a Covid-19. As atividades recentes da Dastan abordam diferentes temas, como promoção da paz por meio da literatura; storytelling (técnica de narrativa) para unir as pessoas; e ainda realizou uma conferência para discutir o papel e a segurança dos jornalistas no Paquistão.