A matemática está em tudo e o metaverso é mais um exemplo disso
O metaverso é uma realidade virtual que simula uma vida real e também é um exemplo de que que a matemática está em todo lugar
por Ruam Oliveira 10 de dezembro de 2021
Talvez você já tenha ouvido falar o nome “Metaverso“. Em poucas palavras, trata-se de um espaço virtual que mistura redes sociais, realidade aumentada, jogos online e criptomoedas, por exemplo.
Ele não tem um dono especificamente, mas já gera renda e chama a atenção de muitas empresas. Segundo informações do DappRadar, que é uma plataforma que reúne dados descentralizados de aplicativos, U$106 milhões foram gastos em propriedades virtuais na última semana de novembro de 2021. Foram compras de terrenos digitais, iates de luxo e artigos NFTs (certificado digital de propriedade).
E essa introdução toda só para dizer que a tecnologia veio para ficar. E onde tem tecnologia, tem também matemática. O que começou com os números binários – zeros e uns – agora se expandiu (ainda mantendo os zeros e uns) para quase tudo o que existe e que foi criado pela mente humana.
Leia também
- Professor precisa se colocar no lugar do aluno para dar boas aulas de matemática
- Economia e mundo do trabalho do amanhã dependem da matemática
- Professora usa dados de erros e acertos de Messi para ensinar matemática
“Na era digital, nosso mundo ficou mais complexo, porque o digital se tornou mais uma dimensão do mundo, mais uma dimensão das nossas vidas. Nós estamos conversando aqui por conta do digital. Certamente há pessoas que você só conhece digitalmente e a pandemia nos forçou a fazer ainda mais coisas pelo digital”, disse Hallison Paz, doutorando do IMPA (Instituto de Matemática Pura e Aplicada), durante o 3º Seminário de Mentalidades Matemáticas.
Ele reforça que a matemática é relevante neste período digital porque é com ela que se constroem essas dimensões digitais do mundo. O metaverso, por exemplo, é uma realidade que não existe fisicamente, mas que ainda assim movimenta e interage com a vida real das pessoas. A matemática presente nos gráficos, nas transações econômicas ou até mesmo na criação desses universos é pensada por pessoas reais e está ligada diretamente com a vida de muitos.
“Na era digital, algoritmos matemáticos intermediam muitas das nossas interações com o mundo e, consequentemente, têm impacto sobre as nossas decisões e sobre as vidas de muitas pessoas. Com isso, a era digital deixa ainda mais evidente o papel da matemática no desenvolvimento da sociedade e reforça a importância de nós buscarmos compreendê-la para exercemos a nossa cidadania e construímos um futuro”, ressalta Hallison.
Linguagens para o exercício da cidadania
Pensando em futuro, essas realidades virtuais parecem futuristas, apesar de já acontecerem nos dias de hoje – com uma tendência de expansão, claro. Mas algo que o Hallison chama a atenção é justamente para o quão importante é entender as conexões das linguagens matemáticas para o exercício da cidadania.
O pesquisador Roberto Imbuzeiro, também do IMPA, aponta que ainda falta muito para que exista um diálogo efetivo entre a matemática da sala de aula e o mundo digital, mas que essa forma de interação deve aparecer cada vez com mais propriedade dentro dos currículos.
Vale lembrar que a BNCC (Base Nacional Comum Curricular) já prevê que sejam desenvolvidas habilidades que envolvem uma leitura crítica do mundo, capacidade de compreender diferentes informações e tecer conexões entre a realidade e o que está sendo exposto na sala de aula.
O conhecimento matemático presente nesse mundo digital também se traduz em dados, tidos por muitos como “o novo petróleo”. Desde o início da pandemia se tornou cada vez mais introjetado na realidade mundial verificar gráficos, contendo números de infectados, números de mortes ou até mesmo informações sobre vacinações – porcentagens de pessoas vacinadas, percentual de eficácia etc.
Conheça e faça parte da rede de educadores Mentalidades Matemáticas
Entender esse tipo de dado também faz parte de uma construção cidadã. “A gente tem que dar um jeito de transformar isso que a Base Curricular pede em realidade e talvez, até além disso, dando outras habilidades aos nossos alunos”, pontua Roberto.
De certa forma é um desafio para os tempos atuais fazer essa conexão entre tecnologia, matemática e tudo o que acontece nesse mundo interconectado que está cheio de dados. Criar um avatar no metaverso é uma forma de representação, mas também é importante criar os próprios espaços e compreender quais mecanismos são necessários para fazê-lo existir.
O professor Imbuzeiro aponta que é preciso ter cuidado, mas que a tarefa deve ser realizada. “Eu acho que tem dois caminhos naturais para trazer a matemática que tem a ver com esses dois aspectos da era digital: a presença da computação e a necessidade de transformar dados em informação e conhecimento do ponto de vista da computação”, diz.
Tecnologia perto, mas longe
Apesar de ser uma realidade em muitos espaços, a tecnologia ainda não está presente na totalidade de escolas brasileiras. Existe um descompasso na oferta de computadores em muitas instituições.
E isso tem um reflexo não só no acesso à aprendizagem, como também no desenvolvimento da cidadania dos estudantes. O pesquisador do IMPA afirma que ter esse contato com a tecnologia não serve somente para preparar os estudantes para o mercado de trabalho – que em grande parte vai demandar tecnologia – como também para quem ele será em uma perspectiva mais integral.
“É importante que o computador chegue não só para que o aluno aprenda a usar e fique apto para diferentes posições de trabalho, é importante que ele chegue para que o aluno possa brincar, testar conceitos matemáticos no computador e tenha uma interação muito interessante entre entender a matemática e vê-la acontecendo”, disse.
Olhando para os cenários de inteligência artificial, internet das coisas, big data e até mesmo as muitas realidades virtuais, as conexões entre tecnologia, matemática e dados são cada vez mais intrínsecas à vida.
Karla Esquerre, professora da Universidade Federal da Bahia (UFBA) e coordenadora do Projeto Meninas na Ciência de Dados, afirma que educadores e educadoras devem voltar a encantar estudantes para uma área que por vezes eles seguem afastados, como é o caso da matemática. “Acredito que o nosso grande desafio é formar jovens, formar indivíduos para viver em um mundo que ainda não foi construído. Então, como é que a gente faz isso? Explorando experiências e pensando no futuro.”