Protagonismo juvenil: por mais espaços de escuta, investimento e incentivo à participação
Em artigo para o Porvir, quatro jovens pesquisadores da Rede Conhecimento Social falam sobre os anseios de transformar escola, comunidade e agenda política do país
por Caio Henrique / Emilly Espildora / Laís Duanne / Vitor Zanelatto 23 de março de 2022
Abrir espaços para a participação juvenil é essencial para a consolidação de ações democráticas. No entanto, sem escuta, essas iniciativas contradizem e desestimulam a mobilização coletiva. O Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) de 2020 foi um exemplo emblemático desse contrassenso. Para garantir democratização na escolha das datas da prova, o Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira) realizou uma consulta online. Apesar de cerca de 50% dos respondentes terem indicado o mês de maio, dentre as três opções, a aplicação ocorreu nos meses de janeiro e fevereiro de 2021, contrariando a manifestação de alunos e professores pelo adiamento.
A pesquisa “Juventudes e a Pandemia do Coronavírus” aponta as consequências dessa decisão: dos 68 mil respondentes, 31% dos jovens tinham a pretensão de realizar o ENEM 2020, mas, ao final, apenas 17% fizeram a prova. Esse é somente um dos muitos exemplos de políticas públicas voltadas às juventudes que não consideram sua opinião na hora da implementação.
Contrapondo o senso comum de que jovens não possuem interesse na participação social, o que existe é falta de estímulo para que a criticidade seja desenvolvida. A participação em projetos sociais, como observado pelo estudo Liga Criativos (pesquisa sobre o panorama das ações dos estudantes na transformação escolar e comunitária), desperta a vontade de causar mudanças efetivas nos territórios, criar conexões entre pares e ampliar os espaços de atuação. Os dados também evidenciam a vontade dos alunos em transformar a escola e comunidade para atender suas expectativas e necessidades: dos seis mil projetos analisados, 45% pretendem melhorar a educação e o espaço escolar.
A metodologia PerguntAção, adotada pela Rede Conhecimento Social, por exemplo, protagoniza jovens na produção e análise de dados sobre suas realidades para influenciar a agenda política do país. Essa atuação aproxima jovens do seu contexto e da possibilidade de atuação efetiva. Embora a falta de escuta e incentivo à participação social condicione, em alguma medida, parte dos jovens a comportamentos passivos, é preciso romper esse ciclo com estratégias que oportunizem o jovem a se perceber como agente de mudança, e a grande aliada nessa virada de chave é a educação. Os processos educativos devem estar alinhados a esse propósito: empoderar e formar jovens para ações cidadãs e para construção de suas próprias narrativas.
Para que a sociedade avance na construção do futuro, é necessário que existam espaços de escuta, investimento e incentivo à participação das juventudes. Elas devem ser estimuladas ao exercício ativo da cidadania, a partir da compreensão dos seus direitos e de sua responsabilidade para o fortalecimento da democracia. Formar cidadãos críticos e tomadores de decisão possibilita a construção do futuro com e para as juventudes. Caminhos e condições são elementos necessários para que os jovens sejam, de fato, participantes ativos da vida pública.
O futuro da participação social, pelo olhar dos jovens pesquisadores
“Olhar para o futuro é vislumbrar um cenário em que a participação social e a inserção democrática das juventudes são uma realidade. Sendo assim, precisamos analisar o presente e construir esse caminho hoje, junto com os setores público e privado, a fim de garantir que os nossos jovens sejam e façam o mundo amanhã.” – Caio Santos
“Para mim, a participação social e a educação política de jovens são requisitos essenciais para a construção e garantia do futuro, não só do nosso país, mas de toda a sociedade. Por isso, é necessário que instituições públicas e privadas abram espaços para o protagonismo juvenil, fortalecendo jovens como construtores da história e tomadores de decisão.” – Emilly Espildora
“Não existe construção do amanhã sem a participação de quem irá desfrutar dele. O incentivo e esforço para que as juventudes sejam responsáveis pela concepção do mundo que desejam viver é elemento substancial para a formação de uma sociedade que se importa, se compromete e coloca a mão na massa. A gente já tem falado muito, cabe a quem tem poder de fazer, escutar.” – Lais Duanne
“Os caminhos para que o Brasil se estabeleça como um país progressista, que de fato respeita e valoriza a diversidade que o constitui; demanda escuta e acesso aos espaços onde são tomadas as decisões que podem mudar o rumo dos livros de geografia, história e sociologia que temos nas escolas. É preciso abrir caminhos para que as juventudes do interior, da periferia e da floresta, entre tantos outros que nosso país exalta em discursos sobre a história, tenham espaço e para participar da busca por um futuro melhor que a realidade brasileira, apática aos sonhos das juventudes.” – Vitor Zanelatto
Leia também:
Evasão escolar e possíveis soluções apontadas por jovens para reverter o atual cenário
Especial Porvir | Participação dos Estudantes na Escola
‘Segue os profes’: uma plataforma para engajar jovens na carreira docente
Caio Henrique
Licenciando em Física na UFPE, professor voluntário e bolsista PIBID-Capes no CAP-UFPE. Desde 2018 estudando, pesquisando e discutindo ativismo em educação e pelas juventudes.
Emilly Espildora
Bacharel em Gestão de Políticas Públicas e pesquisadora do Colab-USP, possui experiência em projetos com o primeiro e terceiro setor. Desde 2017 atua e pesquisa sobre processos de participação social utilizando tecnologias digitais, com foco em pesquisas coletivas.
Laís Duanne
Pernambucana, tem 23 anos. É engenheira de produção pela UFPE e apaixonada por movimentos sociais. Engajada na construção de uma sociedade menos desigual aliada a organizações como o Global Sharpers Recife, Enactus, TETO, Incentifico e Mulheres do Brasil. Atua como Líder de implementação de parcerias e projetos no movimento Educação Livre (UNESCO/SESI NACIONAL), fortalecendo o protagonismo das juventudes em escolas e ambientes de aprendizagem, dentro e fora do estado de Pernambuco, com objetivo de disseminar o propósito macro desse movimento que é o de proporcionar uma educação gratuita, divertida e conectada ao mundo real para as juventudes de todo o Brasil.
Vitor Zanelatto
Jovem catarinense, ativista ambiental e climático. É membro fundador do grupo de jovens ambientalistas Plantando o Futuro e atual conselheiro da iniciativa. Em 2019, foi eleito integrante da Ashoka Youth Changemakers no Brasil; colaborador Apremavi, relevante ONG com core em restauração de áreas degradadas na Mata Atlântica; entusiasta do Movimento Fridays For Future Brasil; é voluntário em projetos ambientais, educacionais e com enfoque no protagonismo das juventudes. Membro da rede YCL - Youth Climate Leaders. TEDx Speaker.