Alunos são protagonistas de projetos ambientais em Porto Velho
Professora de Rondônia conta como o programa Com-Vida envolve estudantes em projetos para resolver problemas socioambientais da escola e do entorno
por Carmem Silvia de Andrade Corrêa da Silva 24 de fevereiro de 2016
O programa Com-Vida (Comissão de Meio Ambiente e Qualidade de Vida) é uma proposta do MEC, que deveria ser implantada em todas as escolas públicas do país. Mas muitas Com-Vidas foram criadas e algumas não foram levadas adiante. A Com-Vida da escola Murilo Braga, em Porto Velho (RO), existe desde 2009. Os alunos reúnem-se no horário contrário ao das aulas: primeiro almoçam e tomam banho na escola e depois ficam no projeto.
Estudantes do sexto ao nono ano do ensino fundamental podem participar da comissão, que reúne-se uma vez por semana, para diagnosticar os problemas socioambientais presentes na escola e entorno. Eles saem munidos de celulares e câmeras fotográficas e, quando voltam à sala da Com-Vida, os problemas detectados são apresentados e discutidos. Nós incentivamos que os próprios alunos busquem soluções para as questões identificadas.
Geralmente, os problemas da escola são resolvidos com o que temos à nossa disposição. Mas algumas questões encontradas na comunidade são levadas até a Prefeitura, a Câmara dos Vereadores e Secretaria Municipal de Meio Ambiente.
Não há uma seleção para participar do grupo. Os estudantes vêm pela afinidade que têm com a questão ambiental. Mesmo alguns que não têm tanta proximidade com essa questão acabam participando porque percebem que é coisa séria. Nós fazemos vídeos mostrando tudo o que foi feito na escola e na comunidade e os alunos veteranos conversam com os novatos, falam do projeto e de tudo o que já foi desenvolvido dentro da Com-Vida. As crianças – e até os pais – ficam com vontade de participar. As mães de alguns estudantes nos ajudam nos projetos, dão oficinas e acompanham em atividades realizadas fora da escola.
Uma ação desenvolvida em 2015 foi a feira de adoção. O rio Madeira encheu e as pessoas que foram remanejadas de suas casas abandonaram gatos e cachorros em um mercado perto da escola. Com isso em mente, os alunos realizaram uma feira de adoção na frente da Murilo Braga. Cerca de 60 animais foram reunidos e adotados. Os estudantes anotaram o endereço das pessoas que levaram os bichinhos e, no final do ano, nós fomos visitá-los.
Outra iniciativa do ano passado foi a doação de mudas frutíferas. Depois de ter uma oficina de germinação, os alunos plantaram as sementinhas, que germinaram e deram origem a várias mudas. A feira de doação dessas mudas aconteceu na frente da escola, que é bem no centro comercial. As pessoas levaram as plantas para diferentes bairros da cidade. Os estudantes também anotaram o endereço e agora nós vamos mapear para quais lugares de Porto Velho nós já levamos verde.
Também no ano passado, um projeto desenvolvido na Com-Vida foi premiado pelo Desafio Criativos na Escola, do Instituto Alana. A iniciativa “Ar Refrigerado e Água: uma combinação que dá vida” foi construir um tubo feito de garrafa pet, com o qual os alunos aproveitam a água que pinga do ar condicionado e utilizam na horta.
A ideia da criação de um Eco Ponto de coleta de lixo eletrônico surgiu a partir da observação da grande quantidade de eletrônicos lançados no meio ambiente. Como solução, os alunos criaram um dos primeiros eco pontos de coleta desse material, que depois de recolhido, é enviado para a reciclagem em São Paulo. Em dois anos do nosso eco ponto, já recolhemos mais 1900 quilos de eletrônicos que iriam para no lixo comum.
Como coordenadora da Com-Vida, o que me levou a buscar essa inovação foi o fato de acreditar que um dos papéis da escola é educar essa geração, tornando os alunos participantes de uma sociedade capaz de respeitar o próximo, além de ser integrante do meio ambiente. Ainda, a criação de um espaço para ouvir e dar voz ao coletivo escolar sobre a melhoria da qualidade de vida e o uso de uma metodologia lúdica de elaboração de projetos ajuda no trabalho desenvolvido dentro da Com-Vida.
Se dependesse dos alunos, eles não sairiam do projeto, porque gostam muito das atividades, que são realizadas coletivamente, para que eles aprendam a trabalhar em grupo. Uma coisa que nós percebemos é que eles começaram a divulgar o programa fora da escola, para a família, vizinhos e amigos. Além disso, a verificação das notas dos estudantes serve como um incentivo para que estudem, tirem notas boas e continuem participando da Com-Vida.
Carmem Silvia de Andrade Corrêa da Silva
Graduada em Geografia pela Universidade Federal do Pará/UFPA. Coordenadora da Com-Vida (Comissão de Meio Ambiente e Qualidade de Vida) e Programa Mais Educação na E.E.E.F.M Murilo Braga/Porto Velho/RO. Participante da Comissão Organizadora Estadual das conferências Infantojuvenil em Rondônia.