Com sucata, escola ensina engenharia para crianças a partir de 4 anos
Presente em 35 países, Engineering for Kids oferece cursos em sede própria e também em escolas privadas
por Vanessa Fajardo 21 de novembro de 2018
Bumerangues e catapultas feitos com garrafas plásticas e elástico ensinam o conceito de energia. Palitos de sorvete e balas de goma formam pontes que lembram a estrutura de treliça muito utilizada nos Estados Unidos.
Canudos se transformam em foguetes, e marshmallows viram astronautas que não podem cair quando a aeronave pousa. Com o slime, geleca que virou febre entre a criançada, é possível ver na prática a alteração das propriedades químicas das matérias.
Por meio de sucatas, que se transformam em experiências, a escola Engineering For Kids Brasil (Engenharia para crianças) ensina conceitos de engenharia para crianças de 4 a 14 anos. Também há aulas de programação e robótica. São cursos livres e pagos que ocorrem no período do contraturno escolar das crianças.
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A escola é uma franquia presente em 35 países, criada pela americana Dori Roberts, que dava aulas de engenharia para crianças em escolas dos Estados Unidos. A única unidade do Brasil fica na Vila Nova Conceição, na Zona Sul de São Paulo, e foi inaugurada no início deste ano.
Atualmente cerca de 150 crianças frequentam os cursos regulares uma vez por semana. A maioria tem até 10 anos, e cerca de 40% é menina. A Engineering For Kids também oferece oficinas em cinco escolas particulares da cidade de São Paulo. No ano que vem, o proprietário Rodrigo Oliveira Alhadeff quer fechar parcerias com instituições filantrópicas e atingir alunos da rede pública.
“É muito legal quando acaba a aula e a criança não quer ir embora, é bom ver o quanto elas se divertem, ainda mais sabendo que estamos impactando na educação delas. Uma das nossas preocupações era oferecer educação, e não entretenimento disfarçado de educação”, afirma.
Alhadeff formou-se em engenharia pela Poli na (USP) Universidade de São Paulo, fez MBA no exterior, trabalhou em bancos no Brasil e foi gerente nacional de vendas da Livraria Cultura. Do último emprego, herdou o gosto de ver as pessoas buscando lazer e educação. “Queria algo que enchesse os olhos nas pessoas, e como na época meus filhos tinham 5 e 8 anos, tinha acesso direto ao perfil do meu público.”
O engenheiro orgulha-se ao contar que já sente o impacto do trabalho da escola nos alunos. “Estamos com uma criança que sofria bullying na escola, sempre ficava de lado, depois que veio para Engineering For Kids mudou e ficou mais autoconfiante.”
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Mineração de cookies e vazamento de óleo
O currículo é padronizado em todas as unidades da escola e formatado por uma equipe de oito pessoas na sede nos Estados Unidos. A pedagogia é baseada no método desenvolvido pela empresa de consultoria Falconi chamado de PDCA que é originado dos verbos plan (planejar), do (executar), check (verificar) e act (agir).
Neste modelo os alunos são inspirados em perguntar qual o problema, pensar em possíveis soluções, projetá-las, construir o modelo com base nessa projeção, testá-lo e melhorar o que foi implementado.
Por conta da metodologia, durante as aulas práticas os professores fazem com que as experiências não funcionem na primeira vez para que a criança pense o que deu errado e faça mudanças para melhorar o projeto.
“Além da prática, tem a parte teórica. Quando falamos dos foguetes, contamos que ele foi inventado em 1300 pelos chineses para se defender de uma tentativa de invasão mongol. Já existia foguete em 1300 e fui aprender aqui. Até para nos adultos é interessante. Trazemos a história do tema e no final há um resumo para reforçar os principais pontos de aprendizado”, diz Alhadeff.
Uma das atividades que faz sucesso entre os alunos é a simulação de uma mineração de cookies cujo o impacto ambiental é avaliado a partir do volume de farelo gerado no entorno.
“Vendemos materiais mais caros e mais eficientes, e mais baratos e menos eficientes. Vira diversão comprar e vender o chocolate sendo minério de ferro”, explica.
Outra missão dos alunos durante as aulas é impedir que o óleo que vazou no mar se alastre até a praia. O “desastre ambiental” na verdade é um pouco de azeite jogado em uma bacia com água e areia. Os alunos precisam comprar materiais que tenham capacidade de absorver o azeite e conter o vazamento hipotético.
Robô herói e jogador de basquete
As atividades de engenharia e robótica podem ser feitas por crianças com idade a partir de 4 anos, mas para a programação, pela complexidade do tema, a idade mínima é de 7. Mesmo os alunos menores têm acesso às noções e ferramentas básicas de programação, e os desafios crescem à medida do tempo do curso.
Entre as atividades que envolvem robótica e programação estão a do robô que joga basquete e o que tem a missão de salvar o patinho de um terremoto. “A criança programa o robô para andar, parar e tentar acertar a bolinha na cesta. Também tem o que limpa os detritos do terremoto até salvar o patinho e que precisa reconstruir a ponte para passar.”
Além dos cursos, a escola promove atividades de robótica em festas de aniversário. Os convidados constroem robôs que lutam a partir dos comandos do controle remoto. As crianças também utilizam o sensor de cores para manter os robôs dentro da arena.