Como descobri o ensino híbrido há mais de 25 anos - PORVIR
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Diário de Inovações

Como descobri o ensino híbrido há mais de 25 anos

Prof. José Moran, um dos fundadores da Escola do Futuro, conta como reencontrou o prazer em lecionar saindo do modelo convencional

por José Moran ilustração relógio 15 de abril de 2015

Nascido na Espanha, comecei minha vida profissional no Brasil. Fui professor convencional por mais de quinze anos em faculdades de comunicação, em um colégio e na Universidade de São Paulo, durante meu mestrado e doutorado. O número elevado de alunos, de turmas, de trabalhos e provas, aos poucos, foi desanimando-me. Alguns materiais e estratégias de ensino começaram a não surtir o mesmo efeito de antes. Intimamente não encontrava mais prazer em estar na sala de aula. Dava aula para poder pagar as contas do mês.

Em crise profunda, dei-me um tempo para reencontrar o prazer de lecionar ou, então, desistir. A primeira saída veio pelo diálogo, de conversar mais com as pessoas, com os alunos, comigo mesmo. Escutar mais foi o primeiro passo para reencontrar o caminho pedagógico: menos aula expositiva e mais comunicação e envolvimento com os interesses dos alunos.

A descoberta da Internet em 1988 na USP foi impactante e decisiva. Eu e o professor Fredric Litto juntamos nossos orientandos de mestrado e doutorado e começamos a discutir em 1988 como seria a Escola do Futuro e criamos um núcleo de Pesquisa com esse nome, que existe até hoje lá. Foi meu primeiro contato significativo com a educação à distância (Tony Bates e Pierre Bordeleau), com as inovações metodológicas (David Thornberg), com a Rede Guri, de compartilhamento digital de experimentos no ensino de ciências (Uri Marhein) e com a teoria das múltiplas inteligências de Gardner.

Decidi aproveitar um laboratório com Internet para levar os alunos de graduação para aulas-pesquisa com supervisão em tempo real. Pesquisávamos inicialmente alguns materiais básicos sobre um tema específico, filtrávamos os melhores resultados e líamos esses materiais em casa previamente para discuti-los na aula presencial seguinte. A integração das atividades de pesquisa supervisionada no laboratório, as da leitura e fichamento dos textos em casa e da discussão posterior em classe, nos trouxe a todos um grande dinamismo e motivação.

Para guardar os materiais pesquisados no laboratório e poder consultá-los durante a semana, criamos uma página na Internet. Esta página web trouxe a possibilidade de manter contato com a informação, com e entre os alunos. O espaço principal de ensinar e aprender foi ampliado para três: o presencial, o do laboratório conectado e o do ambiente virtual. Cada um, com suas características específicas, nos permitiu realizar atividades diferentes e complementares, com um resultado mais enriquecedor, pela mobilização afetiva dos alunos, muito mais fácil e intensa. Utilizávamos algumas variações de aula invertida (leitura antes e aprofundamento depois, em sala); pesquisa supervisionada como ponto de partida para aprofundamentos posteriores e evolução para modelos flex (que chamávamos à época semipresenciais).

– Acesse o blog Educação Humanista Inovadora, do prof. Moran 

Experimentei o modelo flex, de forma mais consistente, na pós-graduação da USP, na segunda metade dos anos 90, liberando os alunos de algumas aulas presenciais e realizando atividades a distância, algumas em tempo real (chat) e outras de forma assíncrona, como os fóruns. Como muitos alunos vinham de outros estados, a liberação da necessidade de estar sempre fisicamente juntos, mostrou que podíamos ensinar e aprender em vários espaços, em diferentes tempos e de múltiplas formas, de forma prazerosa e com resultados mais consistentes.

A partir de 2003 tive a oportunidade de implementar na Faculdade Sumaré (SP) um modelo curricular blended ou híbrido: todos os professores planejavam as disciplinas de todos os cursos com atividades presenciais e online de forma integrada. Depois enveredei pela educação a distância e atualmente apoio a mudança para currículos mais inovadores, com metodologias ativas e tecnologias digitais.

O que considero mais importante de todo este processo foi a decisão, no período de crise profissional, de sair do modelo convencional para o de experimentar pequenas inovações possíveis.  Isso aumentou minha confiança, a visão de mundo, da educação e minha realização em todos os níveis (pessoal, familiar, profissional e social). Agora meu desafio maior é o de aprender a envelhecer, mantendo a mesma paixão por viver e por contribuir para melhorar nossa educação.


José Moran

É doutor em comunicação pela Universidade de São Paulo, professor de Novas Tecnologias na USP (aposentado) e um dos fundadores da Escola do Futuro. É professor de cursos online na USP e na Universidade Anhembi-Morumbi. É autor dos livros A educação que desejamos: novos desafios e como chegar lá e coautor de Novas Tecnologias e Mediação Pedagógica (Papirus) e Educação a Distância: Pontos e Contrapontos (Summus). Mantém o blog Educação Humanista Inovadora em www2.eca.usp.br/moran.

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ensino híbrido, tecnologia

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