Como engajar os alunos no combate ao mosquito Aedes aegypt
Porvir reuniu estratégias e recursos para ajudar os professores que desejam trabalhar o tema em sala de aula
por Marina Lopes / Maria Victória Oliveira 17 de março de 2016
A preocupação com a crescente epidemia de zika chegou também a diferentes escolas de todo o país. Na tentativa de incentivar o combate ao mosquito Aedes aegypti, também responsável pela transmissão de doenças como a dengue e a chikungunya, muitas instituições estão organizando debates e atividades com os alunos.
De vídeos animados com cenários do jogo Minecraft a projetos que envolvem a comunidade, existem diversas maneiras de abordar o tema de uma maneira engajadora. Para ajudar os educadores que pretendem desenvolver atividades sobre o combate ao mosquito e doenças relacionadas, o Porvir conversou com professores e também reuniu algumas estratégias que podem ser aplicadas na sala de aula.
Ao notar a quantidade de informações que já estavam circulando sobre o zika vírus, os professores Atila Iamarino e Sônia Lopes, do Instituto de Biociências da Universidade de São Paulo, incentivaram que os seus alunos de licenciatura da disciplina “Internet no Ensino de Ciências e Biologia” elaborassem propostas de atividades para que outros educadores pudessem desmentir alguns boatos.
O material foi publicado na página Wikiversity e apresenta diferentes atividades. Entre elas, está a sugestão de criar um jogo chamado “Desvendando Boatos”, que tem a proposta de ensinar aos alunos sobre como buscar fontes seguras sobre o assunto. A ideia é dividir a classe em três grupos: os boateiros, que espalham informações falsas; os cientistas, que divulgam descobertas confiáveis; e os detetives, que precisam investigar para selecionar as informações verdadeiras, com base no que foi aprendido.
– Confira as sugestões de atividades desenvolvidas pelos alunos da licenciatura
“Quando você sai da escola e vai procurar uma informação por conta própria, você não encontra um muro [que separa as informações confiáveis]. Você encontra o YouTube, o Facebook, o Google e a Wikipedia. A ideia é ganhar fluência nesses meios também”, explica Iamarino, que gravou aulas do curso online Zika Vírus na escola.
De acordo com ele, o tema apresenta inúmeras possibilidades para os professores explorarem na sala de aula. “É um problema de saúde que tem demanda dos alunos, da família e da sociedade para entender melhor sobre o assunto”, defende. “Se o professor também tiver tempo e fôlego, é um problema que se encaixa bonitinho dentro dos parâmetros curriculares”, completa, ao comentar que os educadores também podem convidar outros colegas para desenvolver um trabalho interdisciplinar.
Diante de inúmeras possibilidades de explorar o assunto, na Escola Santi, em São Paulo, o professor de ciências Stefan Bovolon organizou diversas atividades com turmas dos anos finais do ensino fundamental. Envolvendo pesquisas, análises de dados e debates, ele dividiu o projeto em diferentes subtemas: maneiras usadas para combater o mosquito no Brasil e em outros países, para o sexto ano; doenças que relacionadas ao zika vírus e formas de transmissão, no sétimo ano; possíveis relações entre o zika vírus e os casos de microcefalia, no oitavo ano; e por fim, produção de vacinas e patentes, para os alunos do nono ano.
Segundo o professor, a ideia de trabalhar esse tema surgiu a partir das discussões do momento e a percepção de que a sociedade estava preocupada com o assunto. “Os próprios alunos trouxeram essa inquietação de saber mais sobre o que estava acontecendo”, conta. Para instigar os alunos, após terem se aprofundado na discussão, Bovolon estimulou que as turmas fizessem pesquisas e questionários para saber o que os pais e conhecidos já sabiam sobre o tema.
Percebendo que muitos assuntos ainda eram desconhecidos por boa parte da população, algumas equipes produziram materiais de divulgação, como foi o caso dos alunos do oitavo ano, que escreveram textos para compartilhar as descobertas que fizeram em jornais e na internet.
A partir da experiência desenvolvida com as suas turmas, o professor afirma que para engajar os alunos no desenvolvimento de projetos relacionados ao tema é preciso instigar os alunos e aproximar a discussão da vida real. “Esse tema está super presente cotidiano deles. É super factível de ser trabalhado em sala de aula”, diz.
Além das experiências relatadas pelos professores, confira alguns recursos reunidos pelo Porvir que também podem ser úteis para trabalhar o tema na escola:
Minecraft e o combate ao mosquito
Que tal aproveitar o interesse dos alunos pelo universo dos games? Recorrendo ao cenário de Minecraft, o youtuber Marco Túlio, do canal AuthenticGames, criou um vídeo que traz orientações para combater o Aedes Aegypti. A história mostra vários moradores de uma casa que apresentam sintomas de dengue, como febre e dores de cabeça. Ao perceber o problema, alguns personagens começam a percorrer a vizinhança em busca de possíveis focos do mosquito.
Além de exibir o vídeo, os professores também podem se inspirar no game e propor uma atividade para os alunos utilizarem os blocos virtuais do Minecraft na construção de cenários e histórias que tratam do tema.
Agente de saúde no combate ao mosquito
O game Agente Aedes também ajuda a atrair a atenção dos alunos para o combate ao mosquito. Desenvolvido pelo LabTime, o Laboratório de Mídias Educacionais e Tecnologia da Informação da Universidade Federal de Goiás, o jogo, online e gratuito, é inspirado no clássico Pac-man, onde o agente de saúde da cidade deve eliminar os focos do mosquito e evitar uma epidemia. Segundo Igor Avelar, que participou do desenvolvimento como designer do jogo, o objetivo é chamar as crianças a participar da força-tarefa contra os focos do mosquito. “Nós já levamos o jogo a duas escolas de Goiânia. Os alunos disseram que já fazem algum tipo de prevenção em casa, mas que é difícil fazer com frequência”.
Segundo o designer, por ser um jogo de ação, no qual você faz a mesma tarefa – no caso, destruir os focos do Aedes – repetidas vezes, o aluno fica condicionado a evitar novos berçários das larvas. “O jogador tem que destruir o mesmo foco várias vezes; não aparece só um pneu, mas uma jarrinha de planta, uma latinha, e ele tem que destruir todas essas coisas durante o jogo inteiro”.
Desenho animado do Chaves
Ainda na caçada ao Aedes, um desenho animado produzido pela Fundação Chespirito IAP convoca toda a turma do Chaves para fazer a limpeza da vila e eliminar possíveis focos do mosquito. Entre uma cena e outra, além de apresentar medidas preventivas de forma lúdica, também aparecem referências clássicas da série mexicana, como as atrapalhadas do Chaves e os diálogos entre os personagens Dona Florinda e Professor Girafales.
Podcasts sobre zika vírus
Os podcasts também podem ser um recurso educacional interessante. Com a participação de pesquisadores e médicos, o programa Nerdcast, do blog Jovem Nerd, usa uma linguagem jovem e um pouco de humor para discutir sobre o zika vírus.
Outra opção também é o podcast Mamilos, do Brainstorm9, que escalare boatos sobre o zika, o impacto de uma epidemia no país e possíveis relações com casos de microcefalia. Após ouvir as gravações, os professores também podem sugerir que os alunos gravem os seus próprios podcasts sobre o assunto.
Quadrinhos do Menino Maluquinho
Para os professores que desejam trabalhar diferentes linguagens, as histórias em quadrinhos também podem ser uma opção que ajudam a abordar o tema. Em duas edições (primeira e segunda), o Menino Maluquinho, famoso personagem do cartunista Ziraldo, convoca sua turma para combater o mosquito Aedes aegypti.
Outros boatos desmentidos pela Fiocruz
Na tentativa de também desmentir assuntos relacionados ao vírus zika e os casos de microcefalia, a Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz) produziu um vídeo que traz informações sobre o tema. Entre os boatos apresentados, a gravação diz que não existem evidências científicas de que há diferença de gravidade entre crianças, adultos e idosos, mas a infecção pode ser mais séria para gestantes.