Desenhos animados locais divertem e educam crianças na África - PORVIR
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Inovações em Educação

Desenhos animados locais divertem e educam crianças na África

Empresa social sem fins lucrativos, a Ubongo atinge milhões de pessoas no continente com conteúdo original e interativo. Projeto foi um dos seis vencedores do WISE Awards 2017

por Fernanda Nogueira ilustração relógio 30 de janeiro de 2018

Criada em 2014 por um grupo de profissionais na Tanzânia, a empresa social sem fins lucrativos Ubongo cria entretenimento educacional para crianças de países da África. Seu desenho mais conhecido é o “Ubongo Kids”, que ensina matemática e ciências com histórias animadas e músicas divertidas. Enquanto assistem, as crianças podem interagir, usando celulares para responder questões por SMS ou pelo Facebook.

Voltado para o público de sete a 14 anos, o programa tem cerca de 2,8 milhões de telespectadores semanais no leste da África, sendo 1,1 milhão da Tanzânia, 800 mil de Uganda, 500 mil do Quênia e 400 mil de Ruanda, de acordo com a Ubongo. É exibido em suaíli (idioma falado na Tanzânia, Quênia e em Uganda), kinyarwanda (ou quiniaruanda, falado em Ruanda e também no Congo e em Uganda), inglês e francês.

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O projeto alia conteúdo educacional com mídias tradicionais, como TV, rádio e celular. Está disponível também na internet, em aplicativos e DVDs. “Queríamos usar a mídia e a arte para ajudar as crianças a aprender de maneiras novas e inspiradoras, diferentes da memorização rotineira usada nas salas de aula de toda a África”, conta Nisha Ligon, cofundadora da Ubongo. O projeto foi um dos seis premiados pelo WISE Awards em 2017, por sua abordagem inovadora e impactante para os desafios mais urgentes da educação no mundo.

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Outro projeto da empresa, o desenho animado “Akili and Me” ensina pré-alfabetização, iniciação aos números, habilidades socioemocionais, artes e inglês como segundo língua para crianças de três a seis anos. Lançado em 2016, foi o primeiro voltado para o entretenimento e educação de crianças em idade pré-escolar da Tanzânia. O programa já tem 1,4 milhões de telespectadores por semana no país e outros 800 mil espectadores semanais no Quênia, segundo a Ubongo. Será exibido em breve também em Uganda, Ruanda, Burundi e Gana.

“Akili and Me” tem ainda um programa de rádio na Tanzânia, com 1,5 milhão de ouvintes por semana. Há ainda álbuns disponíveis em programas de streaming como Deezer, Amazon Music, iTunes, Rhapsody e Napster, aplicativos no Google Play, ebooks e DVDs.

Um terceiro projeto da organização é o Ubongo Kids Clubs, que tem patrocínio da Usaid (United States Agency for International Development) para testar o uso de unidades móveis de vídeo, centros de mídia abastecidos por energia solar e locais que já tenham acesso a TV e vídeo para levar os desenhos animados a mais crianças do continente. “Somos inspirados pelas crianças, com suas incríveis mentes e imaginações! Sempre ouvimos as crianças e deixamos que elas nos guiem em como melhorar o produto e sobre o que fazer a seguir”, afirma Nisha.

Um estudo, chamado “Uma quase-experiência que examina o impacto de desenhos animados educacionais em crianças da Tanzânia”, da pesquisadora da Universidade de Maryland, nos EUA, Dina L. G. Borzekowski, recém-publicado no Journal of Applied Developmental Psychology, mostrou que a exposição ao programa “Akili and Me” melhorou significativamente as habilidades das crianças em desenho, conhecimento de formas, reconhecimento de números, contagem e habilidades de inglês.

Segundo a Ubongo, testes feitos em escolas rurais mostraram ainda que as crianças melhoram sua performance na resolução de perguntas de matemática sobre assuntos específicos após assistirem a um episódio de “Ubongo Kids”. Isso não ocorre se elas assistirem a outros tipos de desenhos animados. No caso de “Akili and Me”, crianças que viram o programa melhoraram 1,3 vez mais em aptidão escolar e duas vezes mais em compreensão de números em relação a crianças que tiveram contato com desenhos animados comuns.

Em entrevista ao Porvir, Nisha Ligon conta como foi o início do projeto, fala sobre os objetivos e inspirações da equipe e sobre as novidades para 2018. Confira:

Porvir – Como você e seus parceiros tiveram a ideia de criar a Ubongo?
Nisha Ligon –
 Queríamos usar a mídia e a arte para ajudar as crianças a aprender de maneiras novas e inspiradoras, diferentes da memorização rotineira usada nas salas de aula de toda a África. Vimos que o eLearning estava transformando as oportunidades de aprendizagem ao redor do mundo, mas as crianças da Tanzânia (e de todo o continente africano) estavam perdendo isso porque não tinham acesso a computadores. Então, decidimos encontrar uma forma de levar a eles aprendizado interativo baseado em tecnologias que eles já tinham: TVs, rádios e telefones celulares básicos.

Porvir – Como foi começo do projeto? Quais foram suas inspirações?
Nisha Ligon –
 Somos um grupo bastante diversificado de cinco co-fundadores: Rajab Semtawa, animador, Cleng’a Ng’atigwa, educador de artes, Tom Ng’atigwa, professor inovador, Arnold Minde, desenvolvedor de softwares e eu, produtora de mídia, entusiasta STEM (sigla para ciências, tecnologia, engenharia e matemática) e empreendedora. Cada um de nós trouxe inspiração de diferentes contextos, eu trago do eLearning global e da educação com entretenimento, Cleng’a traz de músicas e histórias tradicionais da Tanzânia, Tom, da sala de aula, Rajab, da tradicional animação 2D, e Arnold, do mundo da tecnologia. E, é claro, todos nós somos inspirados pelas crianças, com suas incríveis mentes e imaginações! Sempre ouvimos as crianças e deixamos que elas nos guiem em como melhorar o produto e sobre o que fazer a seguir.

Porvir – Quais eram seus objetivos no início? Quais são eles agora após quatro anos do projeto em andamento?
Nisha Ligon –
 Nossos objetivos eram atingir crianças em toda a Tanzânia com aprendizagem local e interativa… e tornar aquilo um negócio social sustentável. Ultrapassamos bastante estes objetivos em termos de alcance (você pode assistir aos nossos programas em TVs abertas em cinco países e em TVs pagas em 28!) mas ainda estamos trabalhando para conquistar sustentabilidade. Hoje, nosso objetivo é alcançar mais de 20 milhões de famílias até 2020 com aprendizagem local, divertida e multimídia.

Porvir – Qual é a diferença entre os programas da Ubongo e outros desenhos animados que ajudam crianças a aprender na África?
Nisha Ligon –
 Para ser sincera, não há muitos outros desenhos animados educacionais na África. Existem alguns excelentes programas educacionais, como Tsehai Loves Learning, na Etiópia, e Kilimani Sesame, na África do Sul (Kilimani Sesame é a versão tanzaniana para o programa Takalani Sesame, conhecido no Brasil como Vila Sésamo), mas o que mais nos diferencia é que somos os únicos que criam programas educacionais pan-africanos, em diferentes idiomas. Criamos nosso conteúdo para ser altamente adaptável e escalável. A demanda por desenhos animados educacionais é bem alta, por isso não vemos necessidade de competir. Estamos tentando fazer parcerias com outros produtores de entretenimento educativo ao redor do continente para construir blocos de conteúdo infantil que possamos distribuir juntos!

Porvir – “Ubongo Kids” ensina matemática e ciências. Pensam em incluir novas disciplinas no programa? Quais?
Nisha Ligon –
 Sim! Em 2017, adicionamos engenharia, tecnologia e desenvolvimento de caráter e agora estamos produzindo alguns episódios sobre alfabetização financeira! Nosso foco para o “Ubongo Kids” é “aprendendo para a vida”, por isso tudo que é uma habilidade crítica para a vida é algo que se encaixa! Todo episódio também tem um tema social, como não discriminação (do episódio de matemática que ensina maior que e menor que), conservação ambiental (do episódio de ciências sobre energias limpas) e adesão às coisas com perseverança e paixão por objetivos de longo prazo (do episódio de engenharia sobre Faça Você Mesmo).

Porvir – As crianças gostam de interagir com os programas pelo celular? Como vocês gerenciam as atividades interativas?
Nisha Ligon –
 Não temos interação contínua, mas usamos isso para diferentes coisas. Como agora, temos usado SMS e o Facebook para fazer pesquisas com as crianças durante cada episódio sobre suas esperanças e sonhos e também dando a elas espaço para escrever sobre seus pensamentos.

Porvir – Como foi receber o prêmio WISE Awards no ano passado?
Nisha Ligon – Foi um grande reconhecimento para nós. Nos sentimos muito honrados de estar entre projetos tão sensacionais de todo o mundo. Sempre seguimos o WISE para aprender sobre inovações em educação e nunca imaginamos que poderíamos ganhar um prêmio deles! O Summit foi uma experiência incrível e pude conhecer tantos inovadores educacionais e pessoas que tomam decisões sobre políticas no mundo. Isso realmente nos inspirou para os próximos passos do nosso crescimento.

Porvir – Quais são as novidades da Ubongo para 2018?
Nisha Ligon –
 Virar uma operação realmente multinacional! Levar o entretenimento educacional da Ubongo para mais crianças, em mais países, em mais idiomas! Esperamos falar sete línguas até o final do ano e dobrar nosso alcance!


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aplicativos, educação infantil, educação online, empreendedorismo, ensino fundamental, equidade, negócios de impacto social, tecnologia, videoaulas

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