O ensino híbrido permite ao professor usar o tempo de modo mais eficiente?
Estudo do Clayton Christensen Institute, nos EUA, mostra como docentes que adotam a metodologia combinam atividades em suas aulas
por Clayton Christensen Institute 7 de março de 2016
O ensino híbrido tem potencial de transformar a maneira com que os professores administram seu tempo. É como disse uma professora em uma entrevista feita por telefone: “O ensino híbrido… demanda muito trabalho, esforço, e dedicação durante e após a jornada de trabalho. Entretanto, a recompensa é enorme… Eu conquisto mais em sala de aula do que jamais consegui antes”. Ao liberar professores de algumas atividades que ocupam a maior parte de seu tempo – como planejamento de aula, correções e exposição de conteúdo –, o ensino híbrido permite com que a atenção seja direcionada a outras experiências de aprendizado – tal como explicação individualizada, tutoria em aprendizagem profunda e raciocínio complexo, ajuda no desenvolvimento de habilidades não-cognitivas e mentoria para que eles atinjam seus objetivos educacionais. Mas na prática, o ensino híbrido realmente faz com que professores readequem seu tempo?
No final do ano passado, em um esforço para dar respostas preliminares para essa questão, liderei um projeto para pesquisar e entrevistar professores que usam ensino híbrido sobre como eles usam seu tempo. (Eu me sinto sinceramente agradecido a um grupo de estudantes da Harvard Graduate School of Education que me ajudaram com essa pesquisa). Para o projeto, pesquisamos e entrevistamos professores que fazem parte de nossa rede de escolas Universo do Ensino Híbrido. Dos 44 professores que participaram, 16 eram de escolas charter (públicas com administração privada), 23 de escolas públicas tradicionais e quatro trabalhavam em particulares. Além disso, 18 são professores de ensino médio, 11 de ensino fundamental 2 e 13 cuidam do fundamental 1. Nós ainda estamos no meio do processo de análise dos resultados dessa pesquisa para entender em que medida o ensino híbrido mudou a prática de professores, mas abaixo estão algumas descobertas preliminares.
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Uma de nossas primeiras questões era se o ensino híbrido permite aos professores sair do modelo de aula para a classe inteira e focar no trabalho com pequenos grupos de estudantes. Para desenvolver hipóteses para essa pergunta, comparamos respostas da nossa pesquisa com a de professores que participaram do levantamento Teachers Know Best, da Gates Foundation, que avaliou professores de escolas com configurações diversas, incluindo algumas onde o ensino híbrido era usado. Como mostrado na tabela abaixo, o professor médio que adota ensino híbrido que pesquisamos usa somente 23% de sua aula para instrução para toda a classe, enquanto professores sondados por Teachers Know Best levam em média 35% de seu tempo nessas atividades. Além disso, professores que entrevistamos revelam dedicar 30% do tempo de aula para orientar pequenos grupos, enquanto professores da Teachers Know Best disseram direcionar somente 19%. O fato de que os professores por nós avaliados que usam ensino híbrido parecerem gastar menos tempo em instruções para classe e mais em pequenos grupos sugere confirmar nossa hipótese que essa metodologia permite aos professores privilegiarem a personalização do ensino. Mas existem certas nuances nas práticas dos professores que ainda não foram capturadas nesse conjunto de dados, tais como a maneira com que a alocação tem tempo varia de acordo com a disciplina, série e modelos de ensino híbrido.
Além dos dados numéricos que recolhemos sobre como professores usam seu tempo, perguntamos a vários professores como o ensino híbrido afeta suas práticas. Nas entrevistas, professores frequentemente afirmavam que o ensino híbrido requer muito planejamento e preparação prévios, mas que melhora a competência para apoiar seus alunos desde que eles tivessem preparado os materiais. Os professores também disseram que, em geral, o ensino híbrido também os libera para passar mais tempo com estudantes individualmente e em pequenos grupos. Como disse um professor uma vez, “Eu amo o modelo de ensino híbrido. Ele me empodera a trabalhar pessoalmente com os estudantes e atender suas necessidades de aprendizagem diárias”. Um outro disse, “Eu fico totalmente preparada para trabalhar com as crianças individualmente… então eu faço isso”.
Dado o desenho informal desse projeto, não se pode concluir que esses resultados representam a opinião da maioria dos professores dos Estados Unidos, ou que o ensino híbrido melhora o desempenho dos alunos. Para esses resultados iniciais, consideramos a necessidade de ampliar pesquisas em escolas ou salas de aula específicas para medir e determinar se diferenças na divisão do tempo estão associadas a um desempenho mais alto. Porém, os resultados trazidos aqui nos deixam otimistas de que o ensino híbrido faz com que professores usem seu tempo de maneira mais eficiente.
* Texto publicado originalmente no blog do Clayton Christensen Institute por Thomas Arnett e reproduzido mediante autorização