Formação de professor em tecnologia deve focar aluno
Seminário em São Paulo discute a importância de capacitar professores para melhorar a aprendizagem de estudantes
por Maria Victória Oliveira 21 de setembro de 2015
Capacitação de professores para melhoria da experiência de ensino-aprendizagem dentro de sala de aula a partir de recursos tecnológicos. Esse foi o tema que esteve constantemente presente nas falas dos palestrantes do Seminário Internacional Liderança e Inovação na Educação, evento organizado pela Fundação Santillana e o jornal El País na sexta-feira (18), em São Paulo. Voltado a gestores educacionais, o encontro se propôs a ser um ambiente de compartilhamento de experiências de êxito em inovação, além de pesquisas e reflexões que estimulem a mudança no modo como a questão educacional é tratada no Brasil.
Para a coordenadora da IIEB (Iniciativa para Inovação na Educação Brasileira), Lucia Dellagnelo, é preciso ter um esforço conjunto para que professores aprendam como utilizar a tecnologia visando sempre a aprendizagem dos alunos. Ela afirma que recursos digitais são essenciais para que professores e lideranças educacionais troquem ideias e inspirem uns aos outros, além de transformar o que costumavam ser problemas individuais em tarefas coletivas. “Cocriação e colaboração são ações facilitadas pela tecnologia, que permitem inúmeras combinações de materiais e recursos digitais. As criações em conjunto devem fazer sentido e ajudar os professores a serem cada vez melhores”, afirmou.
A resistência dos professores
Além da barreira imposta pela falta de equipamento e internet de qualidade nas escolas do Brasil, a inserção da tecnologia esbarra em mais uma dificuldade: a resistência dos professores. Já que grande parte dos docentes em atuação não foi formada em um meio computadorizado, alguns profissionais questionam o valor das novas ferramentas e outras novidades dentro da sala de aula. “Pela primeira vez na história da humanidade, a geração que está ensinando as crianças não tem conhecimento das ferramentas que essas crianças utilizam e irão utilizar no futuro mercado de trabalho”, ressalta Dellagnelo.
Entretanto, segundo a coordenadora do setor de Educação da Unesco no Brasil, Maria Rebeca Otero Gomes, o receio que muitos têm da tecnologia substituir o professor é um pensamento a ser desencorajado. Em entrevista ao Porvir, ela defende que o papel do educador continua o mesmo: formar um indivíduo que tenha uma cidadania global, que respeite os direitos humanos e que saiba viver em sociedade. “A tecnologia é só mais uma ferramenta, assim como o lápis ou o livro. A possibilidade de trazer uma gama muito grande de informações de forma muito rápida deve ser usada com fins pedagógicos”.
Otero destaca ainda que é papel do educador buscar novas formas de abordar os conteúdos curriculares. “Se o professor dá uma aula pouco criativa, que é desmotivadora, o aluno vai se distrair, com ou sem o celular. Mas, se a aula é motivadora, ele vai participar e usar a tecnologia pra buscar mais informações e aprender mais sobre aquele assunto”.
Já a gerente de Projetos Sociais da Fundação Telefônica Vivo, Mila Gonçalves, ressalta que conhecer os recursos tecnológicos é um passo importante para que o educador passe a utilizá-los em sala de aula. “Se ele tem habilidade com esses recursos na sua vida pessoal, por exemplo, sente-se mais desenvolto no uso das tecnologias”, afirma. “Dar um voto de confiança a essa cultura contemporânea que faz parte do dia a dia do aluno é fundamental. É uma falsa crença achar que a tecnologia vai tirar a atenção do jovem. Ele já não está prestando atenção, porque a escola não o interessa mais”.
O aluno como protagonista
Outro assunto discutido no seminário é a importância do diálogo entre coordenadores, diretores e professores com os alunos. Segundo Otero, os estudantes devem ser sempre ouvidos. “Eles devem participar da tomada de decisões. Deve haver um diálogo com os jovens, e não uma série de imposições”.
Já Mila Gonçalves acredita que, muitas vezes, a falta de diálogo se dá pelas formas pelas quais tenta-se estabelecê-lo. Em entrevista ao Porvir, ela defendeu que, se o jovem não souber se expressar de uma forma que não pareça agressiva, inicia conversas com professores e coordenadores de forma equivocada. “É importante estabelecer uma conversa, e não um ataque: 30 alunos contra um professor não vai resolver nada. Pequenos ritos de organização, como eleger representantes dos dois lados da situação e combinar o que pode ou não ser falado durante a conversa ajudam bastante os alunos a serem ouvidos”.
Por sua vez, o diretor da Innovation Unit e especialista em desenvolvimento e implementação de estratégias de inovação e transformação em educação e serviços públicos, David Albury, defendeu um sistema de educação que reconheça a realidade tecnológica das crianças e jovens de hoje. “O sistema educacional atual não é ligado à realidade. Na verdade, não foram os alunos que abandonaram a educação, foi a educação que abandonou os alunos”.