Gincana cultural marca chegada dos alunos ao ensino médio
Professor relata como a atividade entrou para o calendário da escola e se tornou uma estratégia para trabalhar o desenvolvimento de competências com os jovens
por Paulo de Tarso Rezende Ayub 18 de julho de 2018
Como adepto de iniciativas interdisciplinares e integrante há mais de 20 anos da equipe do ensino médio do Centro Educacional Leonardo da Vinci, em Vitória (ES), ainda sentia falta de um trabalho mais integrador, algo que marcasse a transição para esse ciclo da formação acadêmica e instigasse os estudantes a reunir aptidões, saberes e recursos em prol de dinâmicas culturais. Esse foi o propósito maior que culminou na concepção da Gincana Cultural do Ensino Médio, projeto existente desde 2007.
A Gincana Cultural tem o objetivo de instigar o aluno a demonstrar habilidades e competências em atividades em grupo, valorizando o espírito de equipe; acionando o potencial de mobilização a partir de focos produtivos, e coordenando fatores como as possibilidades e os limites da pesquisa, a expressão cultural por diferentes vias, a socialização dos saberes e o recurso à internet como elemento agregador.
A escola enfatiza movimentos pedagógicos que tirem os alunos de suas zonas de conforto, permitindo aflorar habilidades e competências além dos domínios especializados. Para assegurar a perspectiva cultural do currículo e a formação continuada de seus colaboradores, o Da Vinci seleciona um tema transversal por ano para ser trabalhado com profundidade. Entre eles, estão a vida e obra de grandes ícones do conhecimento, do universal ao local, como Leonardo Da Vinci, Oscar Niemeyer e Augusto Ruschi; as etnias na formação do Espírito Santo e suas influências na cultura local; e, mais recentemente, o eixo Educação Alimentar-Estética-Virtuosa.
A tarefa coletiva propõe uma dinâmica de interface com a comunidade, como a simulação de festas típicas locais, montagem de mercados temáticos de diferentes culturas, realização de bazares para arrecadação de recursos em prol de instituições filantrópicas, ou simulação de food trucks para exercitar o valor agregador cultural da gastronomia. Os alunos são estimulados à iniciativa empreendedora e autônoma, o que consiste em evitar terceirizações, buscar customizações e prestar contas com transparência.
Além dessa atividade principal, há duas outras tarefas em grupo: uma “prévia”, para execução em curto intervalo de tempo (divulgadas no primeiro dia, executadas no segundo e socializadas no terceiro) e outra “relâmpago”, executada imediatamente após a proposição. Todas apresentam pluralidade de enfoques e interfaces com disciplinas de diferentes campos, critérios avaliativos previamente difundidos e professores consultores para tirar dúvidas e dar orientações.
O uso da tecnologia e da internet também é incentivado e exercitado na Gincana, seja como recurso para pesquisa e interlocução; seja como fonte para produção de saberes, conexões e criações, inclusive com o compartilhamento das atividades em páginas de redes sociais.
Nossas primeiras experiências com a Gincana Cultural talvez tenham sido muito ambiciosas. Com uma amplitude de enfoques e propostas, elas impactavam a dinâmica do horário integral, já bastante diversificada em sua estrutura. Isso deixava os alunos um tanto atribulados, e os professores, pressionados a compatibilizar as atividades com as sequências didáticas de suas disciplinas. Mesmo em meio às atribulações e críticas, nunca deixamos de reconhecer o papel de destaque que o projeto assumiu no currículo, por sua riqueza dos processos e produções culturais.
Hoje, a atividade faz parte do calendário de eventos da escola e é compartilhada entre todos os profissionais e disciplinas. Após muitas idas e vindas na busca de um formato ideal, com qualidade e objetividade, decidimos concentrar as atividades da gincana em três dias. Ao divulgar o trabalho aos alunos, apresentamos previamente apenas a tarefa coletiva, que demanda uma estrutura complexa e compartilhamento de atribuições, com planejamento de longo prazo. As demais etapas concentram-se em curto prazo.
A Gincana antecipa para os alunos algumas vivências que encontrarão na universidade e no trabalho; e também propicia, por via indireta, conhecimentos e conexões que favorecem seu desempenho em exames como o Enem (Exame Nacional do Ensino Médio). Além disso, a atividade cria um ambiente de cooperação e trocas, pois a competitividade é minimizada pelo aprofundamento das relações humanas e pelo sociointeracionismo, sem falar na ampliação do repertório cultural e do leque de sensações. A partir da difusão de valores e virtudes como ética, transparência, resiliência a desafios e convicção de princípios, os alunos participantes saem do projeto conhecendo seus potenciais, respeitando seus limites e dispostos a fazer a diferença no mundo.
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Paulo de Tarso Rezende Ayub
Graduado em letras-português pela Universidade Federal do Espírito Santo e pós-graduado em linguística pela Faculdade Saberes (ES). Atua no Centro Educacional Leonardo da Vinci como professor de língua portuguesa. É entusiasta da perspectiva cultural do currículo.