Mais espaço para alunos e pais diminui indisciplina
Instituição de Guarulhos (SP) reformulou suas formas de atuação para aproximar a comunidade das decisões escolares
por Redação na Rua 9 de setembro de 2014
Do Centro de Referências em Educação Integral
Ainda não se completaram nem dois anos, mas o trabalho da diretora Solange Turgante e sua equipe à frente de uma escola municipal de Guarulhos, na região metropolitana de São Paulo, já se faz sentir. Em 2013, com o objetivo de pensar o desenvolvimento integral dos estudantes, a gestora assumiu a escola com a proposta de abrir mais espaço de participação e construir relações de maior autonomia com os estudantes; aproximar a instituição da comunidade e investir na formação e capacitação dos professores.
A primeira medida foi estimular o protagonismo dos educandos, com a participação nas decisões escolares e o desenvolvimento de responsabilidade e autonomia. Em cada classe foi eleito um representante para participar das decisões da escola, que reúne alunos do maternal ao quinto ano do ensino fundamental. Os gestores da escola formulam a pauta das reuniões e repassam aos representantes para que eles debatam com a turma, e o professor tem o papel de auxiliar as discussões. No caso das crianças mais novas, o educador também tem o papel de criar formas de registro do que foi debatido para que elas consigam levar à reunião. “São desenhos ou objetos que as crianças levam para conseguir lembrar o que foi discutido e o que elas têm que falar”, explica a diretora Solange Turgante.
O passo seguinte da abertura de espaço ao protagonismo foi o debate sobre o que queriam aprender. Cada turma fez um levantamento sobre os interesses dos alunos, identificando o que já sabiam e o que gostaria de aprender. Assim, chegou-se ao tema do projeto que foi ponderado com os professores e se desenvolvido neste segundo semestre, de maneira interdisciplinar.
Já que esta nova rotina implica em modificar as atividades e o modo de trabalhar do professor, surge o segundo eixo de atuação: a capacitação dos educadores. Além de um primeiro momento de formação com especialistas, semanalmente o tempo de reunião é utilizado para tal fim. Ali, os professores podem trazer suas dúvidas e a coordenação pedagógica segue com a capacitação continuada, com a apresentação de texto e de vídeos, sobre outras experiências e discussões complementares.
A aprendizagem também se dá pela troca com a comunidade, que é o terceiro foco de atuação da escola. Nas reuniões realizadas, a instituição já adotou dois modelos. Em um deles, a reunião foi mais aberta aos questionamentos dos pais, em contraposição ao tradicional, em que os pais só escutam o que a escola tem a dizer. Em um segundo modelo, os pais foram divididos em pequenos grupos que debateram situações-problema apresentadas pela escola. Foram apresentadas questões corriqueiras da vida escolar e os pais puderam apresentar suas opiniões e propor soluções, assumindo sua corresponsabilização pela gestão pedagógica e do espaço.
Principais resultados
A partir destes três focos, a Escola Manuel Bandeira começou a mudar o seu modo de funcionamento. No entanto, o processo demanda um tempo de implementação e a escola optou por fazê-lo de maneira gradual, por etapas.
Contudo, há menos de dois anos do início das novas atividades já é possível perceber modificações. A diretora Solange afirma que “a primeira mudança grande foi dos alunos”. Segundo ela, era comum que os professores reclamassem da indisciplina e hoje diminuiu muito, quase não acontece. Além disso, os estudantes estão mais envolvidos na escola, inclusive demandando participação nas assembleias para apresentar suas demandas. “Outro dia cheguei à escola e tinha um abaixo assinado na minha mesa, eram alunos da educação infantil que queriam providências porque durante o lanche um grupo recebeu bolacha e outro, bolinho”, relata Solange.
A diretora conta também que os estudantes estão mais atenciosos com os colegas, pensando mais nos outros. Por exemplo, quando houve uma atividade que demandava que os alunos trouxessem materiais para a escola, alguns procuraram a diretora para dizer que, talvez, algumas crianças não tivessem condições de conseguir o que era necessário e pedindo para que a escola os providenciassem aos colegas.
A relação com os pais também melhorou, muitos estão satisfeitos com a maior abertura da escola para ouvir suas demandas. “O nosso foco é que a escola vire um centro de referência do bairro, para que a gente consiga ser, de fato, da comunidade; ainda somos muito isolados”, pontua Solange. “Nosso objetivo é extrapolar os muros e gerar conhecimento para o bairro.”
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