Professora troca prova de recuperação de Física por desafio
Em escola estadual de Foz do Iguaçu (PR), alunos tiveram que criar embalagens de ovos resistentes a quedas para aprender as leis de Newton
por Raquel Rodrigues Dias 25 de abril de 2018
No desejo de propor uma atividade lúdica e diferente aos estudantes para trabalhar conceitos de dinâmica e as leis de Newton, propus um desafio de férias como ferramenta avaliativa de recuperação no Colégio Estadual Monsenhor Guilherme, em Foz do Iguaçu (PR). A ideia era que eles pudessem criar uma embalagem resistente a quedas para proteger um ovo cru de uma queda de até cinco metros.
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A atividade proposta foi adaptada de um artigo que obteve sucesso em condições similares. Para tanto, os estudantes foram divididos em grupos de até cinco participantes. Com materiais de reúso, eles deveriam propor uma embalagem resistente a quedas, onde a mesma seria solta de uma altura de aproximadamente cinco metros e, ao chegar ao chão, o ovo no seu interior deveria estar intacto.
Os estudantes receberam as instruções, e o sistema de avaliação era composto de um relatório técnico simplificado, em que o grupo devia explicar, inclusive demonstrar por cálculos, o sucesso ou não de seu protótipo, afim de integrar teoria e prática.
Além da fundamentação teórica, que incluiu cálculos, fotografias e vídeos, os estudantes precisavam elaborar uma conclusão estabelecendo um diálogo entre a teoria estudada e os resultados obtidos, relatando como foi a experiência com a atividade.
Os testes de protótipos foram realizados na casa dos estudantes durante o período de férias. Foi criado um grupo de WhatsApp para manter o contato dos estudantes com o professor para que pudessem tirar dúvidas e enviar as fotos e vídeos durante os testes realizados neste período.
A apresentação do protótipo foi feita nas dependências do colégio, em uma data preestabelecida no retorno das aulas. Como o colégio conta com uma estrutura de dois pisos, foi medida a altura para os protótipos serem lançados. A cada tentativa bem-sucedida, os estudantes comemoravam a sobrevivência do ovo, que nos diversos grupos ganhou nomes, como: a queda da princesa; ovoador; Cleiton suspenso; Bob quer voar; entre outros.
A atividade foi aplicada com uma turma de primeiro ano do ensino médio e com outra de nível técnico em administração. A criatividade não foi pouca, oscilou de embalagens complexas e bem idealizadas a outras simples, mas com extrema eficiência.
Ao fim da atividade, o relatório entregue amarrava muito bem todas as fases, a ideia por trás de cada protótipo e, claro, a ligação com as leis de Newton. Para fechar a atividade, pedi aos estudantes que fizessem uma análise da mesma e que relatassem o que deu certo e errado, o que poderiam ter melhorado e ainda que avaliassem o trabalho do colegas fazendo as mesmas considerações.
O resultado foi fantástico, os estudantes tiveram muita clareza das falhas e acertos em seus projetos, conseguiram fazer críticas construtivas aos trabalhos dos colegas e avaliar pelo trabalho realizado sem influências interpessoais, de modo que foram muito éticos e reconheceram a importância do trabalho em equipe, além de que, pediram mais desafios como este.
Frequentemente fala-se da apatia dos alunos em sala de aula e da dificuldade que os mesmos apresentam em relação às disciplinas de ciências naturais (biologia, física e química), mas percebe-se que ao propormos atividades que permitam os estudantes extrapolar a sala de aula, sendo motivadoras, lúdicas e com objetivos bem definidos, os estudantes dão retorno positivo, mostrando que tem ânsia de aprender e construir.
Vejo uma carência de atividades assim nas escolas públicas e espero que este relato sirva de inspiração a outros professores para que se motivem a fazer a atividade e insistir nessa forma de ensino.
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Raquel Rodrigues Dias
Especialista em atendimento educacional especializado na perspectiva inclusiva (2016). Graduada em ciências da natureza, biologia, física e química (2014), pela UNILA (Universidade Federal da Integração Latino-Americana). Atua como professora de física na rede pública de Foz do Iguaçu (PR). Licenciada no curso de química da Unila, ex-bolsista de extensão no projeto “Construção de recursos didáticos para o empoderamento da temática água: jogos didáticos e sua importância para o ensino e aprendizagem de temas transversais”. Foi integrante do Núcleo de Desenvolvimento de Pesquisas em Ensino de Química (NuDPEQ).