Projeto promove atendimento psicológico gratuito para educadores
Quero na Escola em parceria com Fundação SM relançam projeto de apoio emocional devido ao aumento de demanda
por Ruam Oliveira 20 de maio de 2021
Assim como grande parte da população, os professores também foram pegos de surpresa pelas mudanças no ensino provocadas pela pandemia de Covid-19. Esse novo formato de ensinar e de se relacionar, sempre mediado pelas tecnologias digitais, traz consigo outros fatores de adoecimento psíquico que requerem cuidado.
O tema da saúde mental tem atraído mais atenção nos últimos dias justamente pelos diferentes cenários que provocam cansaço e desgaste emocional. Tendo isso em vista, como fica a situação dos professores?
“A pandemia jogou luzes em alguns aspectos. Acho que a questão da saúde mental tanto dos alunos quanto dos educadores sempre esteve presente, mas [era] pouco explorada”, aponta Mariana Franco, gerente da Fundação SM. Em parceria com a ONG Quero na Escola, a SM promove o projeto Apoio Emocional, que visa oferecer atendimentos psicológicos a educadores. Para isso, a plataforma conta com profissionais de saúde mental voluntários.
O projeto oferece possibilidade de atendimentos em grupo, individual ou rodas de conversa formativas com alunos a partir de 12 anos. Tanto psicólogos quanto educadores podem se inscrever até julho pelo site. Após a inscrição, a equipe do Quero na Escola agenda os atendimentos.
Como a pandemia afeta a saúde mental dos educadores
Suzete Petter, psicóloga clínica e voluntária no projeto, aponta que os relatos mais frequentes são sobre a pandemia e sobre como os educadores estão tendo que compreender as próprias limitações para trabalhar.
Sobre isso ela aponta que às vezes é difícil até mesmo para os educadores identificarem que estão passando por algum tipo de problema ou desequilíbrio emocional. “Muitas vezes a pessoa não consegue reconhecer que está um pouco mais frágil, um pouco mais pra baixo”, aponta Deise Ruiz, psicóloga e neuropsicóloga que também atua no projeto de Apoio Emocional.
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Deise destaca que é muito comum que se espere do professor que ele seja sempre forte, um exemplo. Muitas vezes o próprio educador se impõe essa relação por achar que está “deixando os alunos na mão”.
Neste sentido, o professor também pode ser frequentemente visto como modelo, como aquele que vai acolher e dar escuta aos estudantes e, por esse motivo, é importante que ele esteja bem, destaca a neuropsicóloga. “Antes de serem professores, são seres humanos com problemas em casa, problemas de internet, problemas com a família etc”, reforça Suzete.
Pesquisa realizada em 2020 pela Nova Escola apontou que 72% dos educadores tiveram sua saúde mental afetada pela pandemia.
“Entendemos que educação só existe com afeto, e demanda uma troca, uma relação de conhecimento e acolhida. Quando você não acolhe os sentimentos diante de uma situação tão extrema quanto essa que vivemos há 14 meses, não conseguimos produzir conhecimento, produzir aprendizados”, destaca Cínthia Rodrigues, criadora do Quero na Escola.
Luto e espaços para troca de experiências
Em 2021, a ONG relançou o projeto que começou em 2020. Se no ano passado, as incertezas apareceram na maioria das conversas, este ano as demandas mudaram um pouco. Agora grande parte dos educadores aborda principalmente a questão do luto coletivo e como se perdeu espaço para refletir ou vivenciá-lo.
“É difícil tornar tangível alguns aspectos como o tamanho da dor, os diferentes lutos ou ter que ser cobrado em uma estrutura diferente”, aponta Mariana. “É um problema sistêmico, que não cabe só à educação, é uma intersetorialidade que precisa de políticas públicas para gerar transformação”, diz.
Tanto Mariana quanto Suzete apontam que o período da pandemia evidenciou a importância de entender o papel social da escola, de trabalhar também questões socioemocionais, colaborando inclusive para desconstruir preconceitos associados à saúde mental.
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