‘Tendência na universidade é modular conhecimento’
Shigehisa Kuriyama, professor da história da ciência em Harvard, defende a divisão de aulas em vídeos de 10 a 15 minutos
por Patrícia Gomes 12 de outubro de 2012
Sabe aquela aula teórica, densa, de mais de uma hora que a universidade costuma dar? O professor pode ser a maior autoridade no assunto, o auditório pode estar lotado por centenas de pessoas interessadas, mas pode apostar: algumas dezenas de alunos estarão navegando pela internet em seus laptops, outro tanto estará nas redes sociais a partir dos seus celulares. A solução para essa situação, defende o professor Shigehisa Kuriyama, do departamento de história da ciência em Harvard, passa pela modularização do conhecimento.
“A maior parte das aulas pode ser dividida em pedaços. São tópicos que você pode dividir em 5 ou 10 minutos cada”, diz Kuriyama, que é especializado em estudos asiáticos e vem se destacando ao dar a seus alunos de Harvard a opção de produzir trabalhos acadêmicos em vídeo, no lugar dos tradicionais papers. Para o professor, esses tópicos que compõem a aula devem ser tratados de forma bem objetiva e podem ser gravados e disponibilizados virtualmente – bem à moda inaugurada por Salman Khan, que produz vídeos curtos para explicar tópicos principalmente da educação básica. “Não tem o menor sentido ter uma aula longa sem interação. É mais fácil gravar essa aula e aí os alunos podem assistir e reassistir quando quiserem”, diz ele.
Nesses módulos, ao terminar sua exposição, os professores podem indicar material complementar para os alunos que quiserem se aprofundar naquele tópico e até mesmo indicar módulos gravados por outro professor. Com isso, o aluno ganha autonomia para montar a série de conhecimentos que quer ter, decidir quão longe ele quer ir em cada tema, além também de poder escolher a ordem em que vai assistir os vídeos – e até não assistir, se não fizer sentido para ele.
Para o ano que vem, Kuriyama quer levar a ideia de modularização também para a apresentação dos trabalhos finais dos cursos de Harvard. “Normalmente, quem faz física não sabe nada sobre poesia chinesa. Mas se você oferece apresentações curtas, os alunos de outras áreas podem se interessar”, diz. A partir dessa ideia, ele está planejando um evento de uma hora de duração com nove apresentações presenciais de cerca de 5 minutos das melhores pesquisas que estão ocorrendo na universidade, nas mais variadas áreas.
“Algumas mudanças radicais estão acontecendo na universidade agora. Mesmo nos últimos dois anos. E o foco dessa mudança é tecnologia”, Para o professor, o ato de ensinar está passando do que nos EUA se chamava “the sage on the stage”, algo como “o sábio no palco”, para um modelo em que predomine “the guide on the side”, ou “o guia ao lado”. “No passado, o professor universitário devia dividir sua sabedoria. Agora, o modelo é mais próximo ao treinador que orienta o seu atleta. Essa é a ideia do professor. Não é mais importar conhecimento, mas desenvolver habilidades”, diz Kuriyama, que citou o lançamento do edX neste ano como um exemplo de como sua universidade vem se mostrando preocupada em acompanhar o movimento das tecnologias na educação.
Avaliação por vídeo
Mesmo antes de as tecnologias estarem tão disponíveis – e até baratas – quanto hoje, Kuriyama já era um entusiasta das novas mídias. Em 2005, ele começou a deixar de lado as metodologias tradicionais de avaliação, como os trabalhos acadêmicos escritos, e passou a estimular que seus alunos produzissem vídeos com duração entre 90 e 120 segundos a partir de suas pesquisas. “Os alunos acabam enviando os vídeos para os pais, para os colegas. Eles nunca teriam feito isso com papers. É uma relação completamente diferente.”
Os cursos de Kuriyama têm um site no qual os alunos conseguem salvar suas produções visuais e todos os colegas – os sites dos cursos não são abertos – podem ver o que seus pares têm feito. Na opinião do professor, essa lógica reverte a ideia do dever de casa: “deixa de ser uma coisa que você faz para o professor para uma coisa que você faz para os colegas”. “Ao ver o que os outros colegas já fizeram, eles conseguem perceber o que é bom. É muito melhor eles verem um bom exemplo do que ouvirem do professor ‘isso pode ser feito melhor’”, diz ele.
De acordo com Kuriyama, a habilidade de se comunicar por mídias digitais tem sido reconhecida por professores e é fundamental no mundo atual. Mesmo acadêmicos têm desenvolvido trabalhos interessantes que outros colegas não têm paciência de ler. “Há muitas fontes de informação possíveis hoje. A menos que você seja hábil ao comunicar a importância da sua pesquisa, ninguém vai ouvir o que você tem a dizer.”