Matthew Shirts: ‘A escola é importante para ajudar a entender que o clima vai definir o futuro’
Em entrevista ao Porvir, o jornalista, que lançou recentemente o livro “Emergência Climática”, explica como a escola é um lugar potente de discussão para o combate às mudanças climáticas
por Mariana Rossi 23 de novembro de 2022
Tempestades e enchentes, secas prolongadas e furacões mais perigosos – esses são alguns dos eventos extremos que o mundo todo está vivendo com maior frequência e intensidade por conta das mudanças climáticas. Discutir a questão tema da 27ª COP (Conferência do Clima da Organização das Nações Unidas), realizada nas últimas semanas em Sharm el-Sheik, no Egito, não cabe apenas aos cientistas. É também pauta da educação
“As mudanças climáticas vão piorar muito antes de melhorar. Isso é fato, não tem como evitarmos”, alerta Matthew Shirts, jornalista que estuda a questão climática desde 2004. “Podemos tornar esse problema cada vez menor, podemos controlá-lo, mas ele vai aumentar antes de melhorar”, explica.
Para alertar sobre a urgência do debate e evidenciar a atuação da juventude, o jornalista lançou, no final de agosto, o livro “Emergência Climática: o aquecimento global, o ativismo jovem e a luta por um mundo melhor” (Ed. Claro Enigma, 2022). Em entrevista ao Porvir, Shirts contou mais sobre o livro, o protagonismo jovem e a importância da escola na luta climática.
Ativismo jovem e a escola
Assim como na educação o estudante tem se tornado cada vez mais protagonista do seu processo de aprendizagem, na luta climática a juventude também tem ocupado lugar de destaque, uma vez que será a parcela da população que vai sofrer os principais impactos das mudanças climáticas. Ao viralizar nas redes sociais em 2018, a ativista sueca Greta Thumberg, então com 15 anos, abriu portas para que a juventude liderasse as conversas sobre qual mundo que querem viver.
Em contato direto com as futuras gerações, a escola é um lugar privilegiado para discutir o tema. “Para enfrentar as mudanças climáticas, a primeira coisa é que todo mundo tem que falar desse assunto. As mudanças climáticas não vão se resolver se a gente não discutir como fazer isso. É complexo, mas tem muitas soluções, e o mundo pode ficar muito melhor”, avalia Shirts.
A biologia, a geologia e a história do mundo podem ser abordadas por meio do clima, mas o problema das mudanças climáticas não fica restrito a esses componentes curriculares. “A escola é superimportante para ajudar a entender que o clima vai definir o futuro, vai definir o que você vai comer, onde você vai trabalhar, o que você vai discutir. Tudo o que você vai fazer vai ser relacionado com clima”, explica o jornalista.
Para Shirts, embora a ciência do clima esteja bem resolvida e, há muitos anos, exista um consenso entre os cientistas sobre as mudanças climáticas, dois problemas devem ser levados em consideração: primeiro, o excesso de técnica e jargões científicos nos dados divulgados; em segundo lugar, as fake news e desinformações que são disseminadas na internet, diminuindo a credibilidade da ciência. Esses problemas, levantados no livro “Emergência Climática”, também podem ser trabalhados na escola, com o letramento científico e a educação midiática.
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Justiça climática e ação
Outro ponto trazido por Shirts tem a ver com um conceito que começa a ganhar força no movimento pelo clima: a justiça climática. Englobando questões políticas, econômicas, raciais e étnicas, a expressão defende que a luta por um clima mais estável é também a luta das minorias em situação de vulnerabilidade, que correm maior risco por impactos ambientais.
Mais inclusiva e em busca de equidade, a justiça climática também passa pela educação, no sentido de compreender como o clima pode afetar cada grupo ou território. “A gente precisa passar a falar de clima o tempo inteiro. Para isso, a educação precisa chegar até os jovens para eles entenderem como suas vidas serão modificadas pelo aumento da temperatura da Terra”, alerta Shirts.
Algumas medidas individuais, como andar menos de carro, plantar árvores ou comer menos carne, contribuem para frear as mudanças climáticas, porém em uma escala reduzida. “A maior solução para mudança do clima é o ativismo mesmo. O que nós podemos fazer é protestar, se juntar, falar, discutir e exigir medidas do governo. A mudança climática é, sobretudo, uma questão política, não é uma questão pessoal”, defende o jornalista.
Como superpotência ambiental, o Brasil tem lugar de autoridade nas discussões sobre o clima. É preciso priorizar o assunto na política brasileira e entre a população. “O mundo inteiro vai enfrentar a questão do clima nos próximos anos, então o principal é se engajar com esse assunto, cada um à sua maneira”, diz Shirts, “e eu acho que o professor está numa posição absolutamente privilegiada para puxar essas discussões”.