Videoaulas gratuitas estimulam o ensino de arte e a criatividade em sala de aula
Inspirado no movimento "faça você mesmo" e na artesania brasileira, projeto Feito em Casa apoia o desenvolvimento artístico dos educadores
por Vinícius de Oliveira 3 de maio de 2023
Reimaginar a natureza, as brincadeiras e o cotidiano com materiais acessíveis é o ponto de partida do projeto Feito em Casa, que oferece 32 oficinas de arte online e gratuitas, inspiradas no movimento “faça você mesmo”. Comandadas por profissionais com diferentes trajetórias, etnias e formações, as videoaulas contribuem para o desenvolvimento artístico de educadores e são elemento de inspiração para aulas mais criativas.
O Feito em Casa tem seu conteúdo disponível em um site organizado em quatro módulos, com oito oficinas cada. Nas aulas, os participantes têm contato com um panorama da produção visual e artesanal brasileira, além de conhecer técnicas e maneiras de adotar recursos que respeitem o meio ambiente. A curadoria das oficinas é feita pelo coletivo Zebra5 e a realização é da Muda Cultural, do Ministério da Cultura e do Governo Federal – União e Reconstrução. Todo o projeto é viabilizado pela Lei Federal de Incentivo à Cultura e conta com patrocínio da empresa química BASF.
Dentro do universo escolar, o conteúdo disponível é recomendado para atividades com turmas a partir do ensino fundamental 2. Ele pode interessar não apenas a um professor já iniciado no mundo da arte que deseja aprimoramento, como também aos de outras áreas que buscam recursos diferentes para realizar um projeto interdisciplinar.
Gestora da Muda Cultural, Alice Coutinho pondera que mesmo aqueles educadores que trazem consigo uma formação em artes plásticas podem sentir que ainda não dominam todas as técnicas e possibilidades. “Pensando primeiro no professor de arte, aí eu falo com experiência de gestão e de causa, porque eu sou formada em educação artística, na faculdade a gente tem experiências de práticas artísticas básicas, sobretudo as linguagens tradicionais”, afirma.
O projeto também abre espaço para iniciantes. “São 32 opções de linguagens e práticas para professores saírem um pouco do lugar confortável e do digital e terem acesso a práticas diversas de formas didáticas, porque a gente traz essas oficinas em uma linguagem trabalhada e adaptada para o jovem e para adultos, de uma forma ampla e fácil”, descreve Alice.
Para a escolha das oficinas, foram levados em conta a diversidade de propostas, a ênfase no conceito de experiência, potência estética e a acessibilidade de materiais. “Para a seleção dos profissionais que ministram as videoaulas, priorizamos o conceito norteador de diversidade, seja de gênero, de etnias, de procedências e de formações, contemplando desde autodidatas até doutorandos, mas igualmente atentos às excelências artística, técnica e pedagógica”, complementa Alberto Duvivier, arte-educador do coletivo Zebra5, responsável pela curadoria de oficinas do Feito em Casa.
Mediação para autonomia do estudante
Disponíveis para qualquer pessoa interessada em artes, as videoaulas do projeto Feito em Casa ganham ainda mais relevância quando mediadas por um professor em sala de aula. “É claro que o trabalho de um educador é super importante, mas principalmente no sentido de proporcionar autonomia. Isso para mim era muito claro quando atuei em museus, por exemplo, porque o principal era o contato das pessoas com as obras, e não com o mediador. Às vezes é muito fácil a gente escorregar, tomar a palavra e deter todo o conhecimento, enquanto as pessoas ficam muito dependentes”, descreve.
Para Andrea Aly, docente na área de artes há 15 anos e formadora de professores, as videoaulas apoiam a construção de repertório, algo que o aluno necessita para chegar ao momento em que realmente é protagonista.
Responsável pelas oficinas de aquarela e maquetes lúdicas, ela reforça a importância da mediação: “Tem uma coisa que é como a escola trabalha e como são as propostas nas aulas de arte. Se tem uma aula específica, com profissional específico, e existe esse encontro semanal garantido, já é um passo enorme”, afirma.
Segundo Andrea, o direcionamento do currículo demanda duas frentes, uma mais direcionada e a outra que possibilita ao aluno o protagonismo de sua criação. “Para chegar a esse lugar, é preciso repertório para que a criança não fique perguntando em todo o momento ao professor o que fazer em seguida.”
Cabe ao educador proporcionar situações que façam sentido para cada estudante, não copiando o que o colega está fazendo (isso pode acontecer!), mas que permitam o desenvolvimento individual. “É complexo, mas quando você vê uma turma se desenvolvendo desde pequena, é bem interessante”, comenta a professora.
Interdisciplinaridade e relação com a vida
Outro ponto importante para quem busca levar as oficinas do Feito em Casa para sala de aula tem a ver com a capacidade de gerar trabalhos interdisciplinares. Para Alberto, ter como missão a conexão de diferentes conhecimentos é justamente o que vai atrair professores de outras áreas. “A interdisciplinaridade é onde as coisas fazem sentido, senão a gente vai para um mundo muito cartesiano”, argumenta.
Para o educador, todos trazem consigo um potencial artístico a ser desenvolvido. “Essa coisa de que arte é só para quem tem um dom não existe aqui. Todos nós temos, assim como eu acho que todo mundo tem o potencial lúdico de jogar. Se a gente não joga, não faz arte, é porque talvez não tenha entrado em contato com uma linguagem que nem sabe que curtiria, que nos diria respeito. Cabe a cada professor fazer conexões entre as disciplinas, o trabalho e as coisas que nos cercam.”.
Em uma das turmas da professora Andrea, as aulas sobre maquetes deram origem a uma pesquisa sobre o bairro em que cada estudante mora. Com isso, organicamente entram no currículo temas como arquitetura, política e mudanças da vida na cidade. “Sempre dá para ter umas aulas antes e depois das videoaulas para complementar”, exemplifica.
Respeito aos saberes
Além da mão na massa, os profissionais do Feito em Casa também falam de suas carreiras e de como foi a entrada no mundo das artes. Uma das histórias registradas é a de Cleide Toledo, artesã há 40 anos e mestra na palha de taboa. Na videoaula, enquanto trança pequenas peças, ela explica que essa técnica tem origem indígena e mostra como é possível conseguir a planta que serve como matéria prima, desde que respeitado o meio ambiente. “A taboa é uma planta aquática, facilmente encontrada em mangues e brejos. Eu tenho uma licença do IBAMA para podar essa palha, que volta a crescer bonita após três meses”, descreve Cleide.
“O início do trabalho é demorado. A palha precisa estar bem seca para fazer as tranças e a depender do clima, uma tonalidade diferente será obtida. Depois de trançar é preciso dar forma com as mãos. Eu trabalho em cima de medidas e proporções o tempo todo”, comenta a artesã. Como você já viu aqui no Porvir, a matemática está em todos os lugares, e o trabalho da Cleide é mais um exemplo disso.
Expansão do Feito em Casa
Para além das videoaulas, todas as quintas-feiras, às 9h30, integrantes do coletivo Zebra 5 realizam uma transmissão ao vivo no Canal Muda Cultural, no YouTube, para ampliar o debate e tirar dúvidas sobre os temas das oficinas. Ao longo do ano, também deve ser realizada uma série de oficinas presenciais para educadores em diferentes endereços culturais e regionais de ensino na capital paulista e em cidades do interior. Para mais informações, é possível entrar em contato com a organização do projeto pelo formulário disponível no site Feito em Casa ou acompanhar o projeto no Instagram e no Facebook.
Aborda as linguagens tradicionais das artes visuais de modo dinâmico, dando prioridade às produções plásticas.
- Desenho e expressão – Vivian Bortolotti
- Desenho: processo de criação de uma HQ – Walter Júnior
- Pintura: Aquarela – Andrea Aly
- Pintura em stencil – Lucio Dedubiani
- Ilustração com colagem – Natali Padovani
- Escultura – Priscila Leonel
- Artesanato cerâmico – Priscila Leonel
- Xilogravura – Julia Contreiras
Reaproveitamento de materiais e propostas relacionadas ao universo infanto juvenil, com jogos e brincadeiras.
- Brinquedos com materiais do cotidiano – Patrícia Marchesoni
- Bonecos de lã – Luciana Carranca
- Criaturas instrumentosas e máscaras sonéticas – Adriano Castelo
- Jogos de tabuleiro – Thiago Maia Attié
- Colagem em jogo – Alberto Duvivier Tembo
- Engenhocas, traquitanas e gambiarras – Leonardo Gallep
- Maquetes lúdicas – Andrea Aly
- Bonecas Abayomi – Bea Bonifácio
É hora de aprender como registrar fotografias ecológicas a partir do uso de soluções fotossensíveis, estamparia ecoprint, artesanato com taboa (um tipo de planta encontrada em brejos) e palha de milho, filtro dos sonhos usando cipós, entre outras produções.
- Filtro dos sonhos – Dayane Maria Nunes
- Luthieria com sucata – Mauro Tanaka
- Antotipia: fotografia ecológica – Mariane Carvalheiro
- Pintura com materiais naturais – Alberto Duvivier
- Assemblage natural: insetos fantásticos – Alberto Duvivier
- Estamparia: impressão botânica – Larissa Glebova
- Artesanato com taboa – Cleide Toledo
- Artesanato com palha de milho – Alice de Oliveira
Participantes são incentivados a dar um novo destino a itens que provavelmente seriam descartados, como roupas, retalhos de tecidos, papelão, cabides, folhas de papel, entre outros.
- Construção de estandarte – Bruna Amaro
- Bordado contemporâneo – Priscilla Paduano
- Tecelagem contemporânea – Juliana Maia
- Cartazismo – Maiara Pagani
- Encadernação – Natali Padovani
- Macramê – Priscilla Paduano
- Tear alternativo – Tiyoko Tomikawa
- Upcycling – Chrystianne Leite