Os sistemas educacionais e suas revoluções iminentes
Na segunda de uma série de três matérias, especialistas defendem que a educação deve se tornar uma bandeira nacional
por Redação 27 de dezembro de 2012
O tema educação tem se tornado – e deve ser cada vez mais – o centro dos debates internacionais, apostam especialistas consultados pelo Porvir para trazer previsões para 2013. Não é só porque pessoas interessadas no assunto estão se dedicando com afinco. Até estão, mas o momento político para todas essas mudanças de sistema é mais propício: as cidades renovam suas prefeituras, o país discute o Plano Nacional de Educação, algumas leis importantes para a prática diária escolar tramitam ou vão entrar em vigor.
E quando se fala sobre um assunto, a tendência é que seus atores passem por um processo também de valorização e profissionalização. Aumentam-se as iniciativas voltadas para a profissionalização da gestão escolar, um movimento internacional discute a adoção de um novo currículo mais adequado às diferenças e os professores, peças-chave nos processos de ensino-aprendizagem, deverão ter seu papel reavaliado, passar por novas e constantes capacitações. Confira, a seguir, a compilação que fizemos sobre tais revoluções, que se mostram iminentes nos sistemas educacionais.
Não perca amanhã o encerramento da série com a matéria sobre as novas habilidades.
“Professores e estudantes discutirão mais e mais o tema da educação, insatisfeitos com certos modelos. Nesse processo, buscarão soluções próprias, seja criando redes sobre o tema, levantando a voz como fez a Isadora, do Diário de Classe, ou se organizando dentro de suas próprias escolas e universidades para experimentar outros percursos de aprendizagem.”
Carla Mayumi
Coletivo Educ-ação
“A educação em 2013 entrará como prioridade na pauta das principais lideranças do país, sejam elas do Legislativo, do Executivo e das empresas ligadas à educação. A principal discussão será como a tecnologia poderá colaborar com o processo de transformação do ensino tradicional (1.0) para o ideal (3.0).”
Jorge Proença
Kiduca
“Para contribuir com a melhoria das políticas públicas de educação, escolhemos algumas frentes de atuação, que expressam o nosso foco: oferta de educação integral para crianças e adolescentes, aprimoramento da gestão educacional, prática de avaliação de projetos sociais e mobilização social para a causa educacional.”
Fundação Itaú Social
“O futuro da educação 3.0, da tecnologia na educação pode ser brilhante, desde que a gênese seja mudada, da ponta – o gestor educacional – à criança em fase de alfabetização. Se não mudarmos os métodos primários, jamais alcançaremos a excelência educacional tão necessária para o crescimento do país.”
Marco Melo
Educar Educador
“Novas alternativas de governança para as escolas que sejam geradora de autonomia para os diretores de escola”
Antonio Carlos Carneiro
Instituto Alana
“Em 2013, o iABCD vai investir no desenho universal da aprendizagem (Universal Design for Learning) que é um conjunto de princípios que propõem a criação de currículos flexibilizados e customizados, que possam oferecer oportunidades para que todos aprendam. Um currículo articulado e flexível elimina potenciais barreiras no acesso à aprendizagem e prioriza o domínio do ato de aprender. Dessa forma, serão alcançados alunos com e sem transtornos de aprendizagem. É a paradoxal, mas necessária, customização do acesso universal à educação.”
Mônica Weinstein
iABCD
“O ano de 2013 precisa ser o ano da aprovação do Plano Nacional de Educação e da mobilização pelos planos municipais, distrital e estaduais. Nada melhor para os novos prefeitos e secretários municipais do que começar seu trabalho com um grande debate sobre as políticas educacionais em seus municípios. Como espaço privilegiado para essa debate local, que precisa ser bem aprofundado, os gestores públicos e as organizações da sociedade civil podem fazer um bom uso das etapas preparatórias para a segunda Conae (Conferência Nacional de Educação), que acontecerá em Brasília, em fevereiro de 2014.”
Daniel Cara
Campanha Nacional pelo Direito à Educação
“Em 2013, o fonoaudiólogo poderá fazer parte da equipe da escola, uma vez que um projeto de lei prevê essa possibilidade. Isso seria muito bom para a educação no Brasil, pois muitos dos problemas que iniciam na fase escolar poderiam ser evitados ou corrigidos como variações no tempo da aquisição de fala e da leitura e escrita que podem ocorrer durante os primeiros anos escolares. Muitas vezes, a falta de informação sobre o que fazer leva a indicações de ‘terapias’ quase sempre desnecessárias. Parece que isso está ficando claro, e a possibilidade de mudança será benéfica para todos: professores, crianças e seus familiares.”
Irene Marchesan
Sociedade Brasileira de Fonoaudiologia
“O ano de 2013 é um ano muito importante para a educação. Em janeiro, assumem os novos prefeitos e seus gestores educacionais que terão pela frente, até 2016, o desafio de universalizar a oferta de pré-escola para crianças de 4 e 5 anos. Também desafio deles será a efetiva implementação do Pnaic. O PNE estará em tramitação no Senado Federal e outras duas importantes leis também tramitam na Câmara dos Deputados: a Lei de Responsabilidade Educacional e a de Reformulação do Ensino Médio. Essas leis, se bem debatidas e, posteriormente, implementadas com eficiência, poderão ajudar a darmos o tão necessário salto em nossa educação.”
Priscila Cruz
Todos Pela Educação
“Acredito que este será o ano da educação musical. Desde a aprovação da lei 11.769, que retorna a obrigatoriedade do ensino de música nas escolas, finalmente estão surgindo iniciativas que viabilizam este conteúdo dentro da educação básica. O desafio é proporcionar um ensino de qualidade, mesmo com a pequena carga horária que em geral é destinada à música. Para mim, o segredo é que alunos engajados continuem aprendendo fora dos muros da escola. Acredito especialmente na importância da formação de pessoal na área e no uso de tecnologia, como jogos, animações e ferramentas de composição.”
Giordano Cabral
Daccord
“A literatura acorda a fantasia, a imaginação, vitais para o cérebro realizar sinapses sobre temas abstratos – como a matemática – e desafiadores, como a equidade e a sustentabilidade. O mundo que queremos não existe, ele precisa ser imaginado. Por isto – e muito mais – considero imprescindível que seja tratada como prioridade nacional a efetividade da lei 12.244/2010, que determina que até 2020 todas as escolas do país, públicas e privadas, devem ter uma biblioteca, universalizando o acesso a leitura e à literatura e atuando de forma integrada ao projeto político pedagógico da escola.”
Christine Fontelles
Instituto Ecofuturo
“Além do benefício do aprendizado virtual, que, em 2013, deve se consolidar cada vez mais, é possível prever jovens com cabeças mais abertas, que aprendem a entender e respeitar as diferenças entre as “aldeias” globais, hoje, conectadas. É fato que teremos uma igualdade cada vez mais acentuada entre o papel do professor e do aluno na classe de aula. No futuro, teremos o diálogo estimulado, em que os professores irão encorajar seus alunos a desenvolver habilidades de raciocínio, a terem liderança para resolverem problemas e se apaixonarem pelo conhecimento. O aluno, por sua vez, precisa, desde cedo, ser capacitado para desenvolver um olhar crítico, podendo assim avaliar com inteligência esse mar de informação – isso certamente será uma habilidade vital.”
Equipe Polinize
“Acredito que teremos uma forte discussão sobre capacitação dos professores em novas mídias, ferramentas para apoio a sala de aula e web; e teremos o início deste processo de virtualização de parte dos cursos. Para mim, os conhecimentos serão discutidos on-line e a sala de aula será um espaço de giro do conhecimento tácito e de socialização dos conhecimentos. Além disso, o aluno terá um papel mais ativo e o professor começa a ampliar suas atividades como articulador/mediador”
Gustavo Borba
TEDxUnisinos
“Nunca a educação foi tão bombardeada para adotar uma tecnologia. Durante o século passado, houve tentativas através do rádio, televisão e computador. Mas, neste século, houve difusão da tecnologia, acesso a ela e principalmente o surgimento de uma geração que nasce consumindo mídias digitais. Criou-se um ambiente onde existe uma pressão para que a escola adote tecnologias digitais, porém o professor não tem formação para utilizar estes artefatos e tampouco a metodologia adotada é adequada para isto. Prevemos que haverá uma modificação na formação do professor, na metodologia e uma revisão do currículo.”
Anderson Duarte
Redu
“Acho que uma tendência não só para o próximo ano mas para os próximos anos e principalmente para os países em desenvolvimento é a criação de oportunidades que facilitem o processo de saída da escola para a universidade ou para o mercado de trabalho. Acesso à educação básica já não é o maior desafio. A qualidade da educação também já está sendo debatida nesses países. Acho que um próximo passo será criar mais oportunidades, principalmente para as meninas, de acesso à universidade ou ao mercado de trabalho.”
Justin Reeves
ONG 10×10 e Girls Rising
“Acho que para o ensino médio e para o ensino superior o grande tema será a retomada das carreiras técnicas que são fundamentais para o país, para esse crescimento econômico e protagonismo que o Brasil está vivendo. Precisamos de características pessoais, como pessoas que trabalham em equipe e que compartilham resultados. Mas também precisamos de bons técnicos para produzir pesquisa, desenvolvimento e conhecimento.”
Rosângela Melatto
Intel