Professores lançam movimento para ajudar colegas no uso de tecnologia
Com o fechamento das escolas, educadores de todo o país se mobilizaram para trocar experiências e apoiar quem precisa adaptar conteúdos para o ambiente digital
por Marina Lopes 26 de março de 2020
Na última semana, quando secretarias de todo país anunciaram a suspensão das aulas para conter a pandemia do coronavírus COVID-19, a educadora Giselle Santos, especialista em inovação e tecnologias educacionais, fez uma postagem despretensiosa no seu Facebook. Em tom pessoal, ela ofereceu trinta minutos por dia da sua agenda para conversar com professores que precisavam de ajuda para dar aulas online, tinham dúvidas sobre o uso de ferramentas ou até mesmo buscavam um ombro amigo para desabafar. Desde então, a ideia se espalhou e deu origem ao movimento SOS 30 Minutos, que já reúne mais de trinta educadores de todo o país.
É o seguinte, ainda que eu saiba que é um privilégio poder trabalhar de casa, ter sido obrigado a dar aulas online, ou…
Publicado por Giselle Santos em Domingo, 15 de março de 2020
Engajados em oferecer mentoria e segurar virtualmente a mão dos professores que precisam de ajuda, os integrantes do grupo disponibilizaram horários diários na plataforma Calendly. “Tudo isso veio de um sentimento que neste momento precisamos de escuta ativa, muito mais do que uma lista de ferramentas”, conta Giselle, que é certificada pelo programa Google Innovator e atualmente mora no Rio de Janeiro (RJ).
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Apesar de ter fundado uma startup de educação há pouco tempo, ela conta que decidiu deixar o negócio um pouco de lado para se dedicar ao atendimento gratuito de professores. “Eu achei que seria leviano usar esse momento para cobrar alguma coisa. Com a movimentação para o fechamento das escolas, surgiu uma tsunami de listas e ferramentas. As pessoas começaram a confundir o que era educação a distância e o que era educação remota. Eu percebi que os professores estavam ficando loucos com tudo isso”, analisa.
Especialista em integração tecnológica e professor de design thinking e ciências humanas no Sant’Anna International School, em Vinhedo (SP), Tiago Cunha foi um dos adeptos do movimento. “Estamos percebendo que os professores estão muito engajados no processo. Eles estão dispostos a aprender o máximo possível para que as aulas não parem e os alunos não sejam prejudicados”, observa ele, que também é certificado pelo programa Google Innovator.
Muitos dos professores que abriram suas agendas fazem parte dos GEG (Grupos de Educadores Google), mas Tiago faz questão de lembrar que educadores de todo o país que trabalham com tecnologia educacional também estão oferecendo ajuda. “Isso acabou virando uma onda.”
Um pedido de ajuda da escola pública
Ao ver essa iniciativa circulando pelas redes sociais, o educador Felipe Nogueira, diretor da Escola Municipal Valmir de Freitas Monteiro, em Volta Redonda (RJ), decidiu procurar ajuda para elaborar um plano de contingência para a sua escola. “Quando eu percebi que o retorno das aulas iria demorar mais do que o previsto, comecei a articular os professores da nossa escola para pensar em uma migração para o ambiente virtual”, relata.
Depois de observar que os colégios particulares já estavam avançando na adaptação de conteúdos e construção de ambientes virtuais de aprendizagem, ele marcou uma conversa com a educadora Renata Capovilla e pediu orientação sobre como poderia utilizar a plataforma Google Sala de Aula para disponibilizar atividades online durante o período de fechamento das escolas. “Pensei que a escola pública também deveria estar envolvida nessa estratégia para garantir equidade”, ressalta.
“A partir daí, eu comecei a trocar ideias com os meus professores. Bolamos uma estratégia e apresentamos para secretaria de educação da nossa cidade, que permitiu a ação como caráter experimental”, conta o educador, que já conseguiu cadastrar quase todos os alunos da escola na plataforma. “Nesse momento, é muito importante os governos ouvirem quem está no chão da escola. Os professores têm muito a contribuir. Muitas vezes a solução pode estar dentro da própria rede.”
Professora oferece apoio pelo Instagram
Com experiência em projetos de formação de professores, Lígia Monteiro, de São Paulo (SP), também se sensibilizou com o desafio enfrentado por muitos educadores nas últimas semanas. Para construir com escolas que estavam dando os primeiros passos na elaboração de conteúdos e estratégias de aprendizagem para o ambiente digital, ela começou a compartilhar dicas no seu perfil profissional do Instagram (@IntellectusDigital).
“De repente a lousa do professor ficou online. Além de lidar com tudo isso de uma hora para outra, estamos vivendo um período desafiador em termos emocionais e de saúde”, observa Lígia. Como um caminho para diminuir a insegurança dos educadores com as ferramentas, ela começou a tirar dúvidas pelo Instagram, montou um grupo no Telegram e passou produzir conteúdos sobre diferentes metodologias e ferramentas.
Entre as postagens, estão reflexões sobre gamificação, ensino híbrido, flexibilização curricular, metodologias ativas. A professora também dá dicas para quem precisa criar uma sala de aula digital, está em dúvida com o uso de plataformas ou até mesmo gostaria de diversificar os recursos, incluindo narrativas digitais, quizzes ou quadrinhos. “A maior dúvida que eu vejo que eles trazem é de como gravar as aulas e fazer videoconferências”, aponta.
Em menos de uma semana, Lígia conta que o perfil ganhou 300 seguidores. “Muitos professores estão abertos a trocar conhecimento, e o Instagram é um lugar que eles já estão mais familiarizados”, conclui.