Programa bilíngue traz novas metodologias e projetos interdisciplinares para escola
Experiência do Centro Educacional Leonardo da Vinci, em Brasília, mostra como o aprendizado integrado de inglês pode estimular a inovação e o protagonismo
por Marina Lopes 1 de fevereiro de 2021
Do outro lado da tela, um estudante grava uma receita típica com a ajuda da sua avó portuguesa. Outro colega faz uma apresentação de capoeira com o seu pai. Uma parte da turma ainda explora a sonoridade de instrumentos africanos, experimenta pinturas no rosto e veste roupas de diferentes culturas. As atividades realizadas pelas crianças fazem parte de um projeto bilíngue do quarto ano ensino fundamental, do Centro Educacional Leonardo da Vinci, em Brasília (DF).
Desde 2019, a interdisciplinaridade, a colaboração e a investigação fazem parte da forma como os estudantes aprendem inglês na escola. “No modelo bilíngue, nós usamos o inglês como um meio. A criança vai aprendendo a língua e precisa usar essa ferramenta para apresentar seus projetos. Além de trabalhar toda a parte da cultura, estamos trazendo para os alunos a conexão com outras disciplinas”, explica a professora de inglês Adriana Campos, coordenadora do programa de inglês dos anos iniciais do ensino fundamental.
Para mudar a abordagem do ensino de idiomas e se transformar em uma instituição com carga horária estendida em língua adicional, a escola deu início a um projeto piloto em parceria com o programa bilíngue Edify. A experiência começou pequena, com duas turmas. Após seis meses, com bons resultados entre as crianças e receptividade por parte das famílias, a proposta foi expandida para turmas do primeiro ao quinto ano das três unidades do Centro Educacional Leonardo da Vinci. Hoje, já são 2.400 estudantes participantes do programa, com a inclusão dos sextos e sétimos anos do ensino fundamental.
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“O programa tem foco na aprendizagem baseada em projetos”, conta a professora, ao mencionar que as mudanças vivenciadas pela escola foram muito além da expansão da carga horária, que passou de duas para cinco aulas semanais de língua adicional. “Primeiro, a escola precisa passar por uma mudança de mentalidade. Quando você pensa em trabalhar com projetos, você também traz conteúdos de ciências, matemática e geografia para o aprendizado. O estudante é incentivado a expandir o uso da língua a partir de outras áreas do conhecimento.”
Aos poucos, a mudança de mentalidade também começa a ser refletida na instituição como um todo. Os murais em inglês ganham espaço nos corredores, novas datas temáticas passam a fazer parte do calendário da escola e professores de diferentes disciplinas começam a se envolver com essa abordagem. No último ano, por exemplo, uma brincadeira com a tradicional música “Who Took The Cookie?”, semelhante a nossa versão de “Fulano comeu pão na casa do João”, envolveu diversos educadores da escola no misterioso sumiço dos cookies do professor Sérgio Dornelles. As crianças fizeram debates online e votaram em questionários para tentar descobrir quem pegou os biscoitos. No fim, com uma câmera escondida, o professor mostrou que ele mesmo comeu os cookies enquanto estava dormindo. Brincadeiras à parte, a narrativa serviu de incentivo para a turma do primeiro ano colocar, literalmente, a mão na massa e preparar uma receita junto com a família. Tudo em inglês.
“Mais recentemente, as escolas têm buscado uma virada de chave para um ensino que não foque apenas na língua estrangeira como uma disciplina, mas como um meio para o aluno ter experiências pedagógicas”, analisa Viviane Jesuz, mentora sênior do programa bilíngue Edify. “Quando falamos de educação bilíngue, temos um olhar holístico para o aluno. Pensamos em prepará-lo para ser um cidadão global”, complementa.
De acordo com ela, as estratégias e práticas da educação bilíngue também têm o potencial de trazer inovação para dentro das escolas. “Temos uma tendência de ter cada vez mais modelos de inovação sendo inseridos nos modelos curriculares. Quando olhamos para a escola hoje, vemos a necessidade de trazer para esse ambiente metodologias ativas e abordagens que tornem o aluno protagonista do seu processo de aprendizagem”, destaca Viviane.
Nesse formato, ela destaca que a avaliação também passa por processos de mudança. Além dos tradicionais exames internacionais, que certificam o nível de proficiência dos estudantes, em um programa de educação bilíngue, a avaliação formativa é um instrumento essencial para acompanhar o desenvolvimento dos alunos ao longo da execução dos seus projetos. “Não pensamos apenas no resultado final ou no nível linguístico que esse aluno pode alcançar, mas em todo o processo. A documentação pedagógica também tem um papel fundamental, incluindo o uso de portfólios”, diz a mentora sênior do Edify.
Com essa abordagem, a professora Adriana Campos afirma que no terceiro ano do programa já é possível ver resultados positivos na escola, principalmente no que se refere ao nível de confiança dos estudantes para se comunicar em uma segunda língua. “O inglês hoje faz parte de todas as atividades da escola, e as crianças se sentem muito mais confortáveis por saber que estão aprendendo inglês todos os dias com os colegas de sala”, conclui.