Boas práticas no modelo remoto inspiram novos processos em aulas presenciais
Há a possibilidade de manter o uso de muitos aplicativos usados durante o ensino remoto mesmo que em uma modalidade presencial
por Ruam Oliveira 2 de dezembro de 2021
É real: as aulas presenciais estão por aí. Ao longo de aproximadamente dois anos, muitas escolas tiveram que se reinventar – ou reajustar certas práticas – para inserir tecnologia no dia a dia. Seja porque a necessidade maior era essa, seja porque viram o momento como oportuno para aperfeiçoar metodologias que já utilizavam.
Houve uma explosão de aplicativos – e também o aperfeiçoamento de muitos. Foi esse o período em que instituições, educadores e educadoras, entraram no clima para usar o Sway, por exemplo, e criar uma linha do tempo ou espaço para que os estudantes pudessem produzir conteúdo de maneira organizada. E esse é só um exemplo das muitas aplicações que foram surgindo neste período remoto – e que ainda podem ser úteis num modelo presencial.
“Durante a pandemia com as formações vejo que os professores perceberam como a tecnologia pode facilitar e melhorar a qualidade das aulas. Sendo assim, eu mantive o desenvolvimento das atividades por aplicativos e ferramentas digitais e a possibilidade de entrega das atividades pela internet”, afirma Geovane Graia, professor de filosofia e de apoio à tecnologia da informação na Escola Estadual Luzia de Abreu, em São Paulo (SP).
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O professor, que continua usando tecnologias digitais em sala de aula, afirma que, em muitos casos, é um jeito simples e fácil de receber atividades ou até mesmo desenvolver habilidades previstas no currículo.
Nem tudo o que foi aprendido ao longo desse período deve ser desperdiçado. Inclusive as boas práticas ao usar ferramentas como o Teams ou outras plataformas de videoconferência.
Pensando nas habilidades necessárias para o século 21, muitas escolas estão se organizando para continuar usando a característica de apoio que a tecnologia proporciona para atividades que exploram mais que conhecimento acadêmico. César Lisboa, professor doutor no ensino fundamental anos finais do Colégio Marista Arquidiocesano de São Paulo, conta que, na escola onde trabalha, o projeto chamado “Conexão 21” responde justamente a essa proposta.
O projeto tem a participação de professores de diferentes componentes curriculares, que desenvolvem projetos por meio do uso de ferramentas digitais e metodologias ativas. Houve um período inteiramente online, uma abordagem híbrida e, agora em período presencial, as ferramentas digitais continuam ativas.
No caso do projeto do professor César, trata-se de trabalhar metodologia científica. Os estudantes começam aprendendo sobre resenha, artigo de opinião e grupos onde realizam um projeto que deve ser apresentado em banner, como nos congressos científicos. Para essa produção, os estudantes devem usar aplicativos como Powerpoint e Word, além de realizar reuniões online pelo Teams, por exemplo.
A divisão em grupos ainda considera alunos que estão no presencial e alguns outros que permanecem no modelo online devido a problemas de saúde ou comorbidades.
Com relação ao uso de ferramentas digitais, César reconhece que neste período de uso massivo das tecnologias, as escolas aprenderam em dois anos o que levariam quase sete caso se interessassem por tecnologias. O docente do Marista também considera que ficou mais simples realizar alguns processos. A avaliação, por exemplo, é um dos elementos que foi modificado pela presença da tecnologia, do seu ponto de vista.
“Esse processo de feedback (retorno avaliativo) contínuo entre professor e aluno descaracterizou completamente a modalidade avaliativa. Começava a valorizar muito mais o percurso do que o fim. A gente foi trocando figurinhas e o aluno foi tendo chances de, dentro daquele prazo, melhorar a sua produção”, afirma.
Online antecipando o presencial
Em outros casos, a presença mais constante de ferramentas online na relação entre professores e estudantes também facilita a comunicação do que vai acontecer na escola.
“Como professora, eu utilizo a tecnologia como uma antecipação de conteúdo e também na produção dentro da sala de aula. A tecnologia hoje já virou parte [da rotina], ela é uma ferramenta que está integrada nesse desenvolvimento das atividades”, afirma Margarete Aparecida Ticianel, coordenadora pedagógica da Escola Estadual Reverendo Omar Daibert, em São Bernardo do Campo, e professora de Língua Portuguesa do Colégio Arbos, em Santo André, ambos municípios vizinhos à capital paulista.
Margarete, que também atua como formadora de professores, comenta que tanto em sua experiência na rede privada de ensino, quanto na pública, têm conseguido manter muitas das práticas que aprendeu usando tecnologia. “A gente consegue, mesmo com o celular deles, logar [em diferentes plataformas] sem ter que baixar aplicativos. Então não precisa de um celular muito cheio de memória”, afirma. Entre os aplicativos que ela mais usa estão Teams, Kahoot, Sway, Nearpod e Popplet.
Para a educadora, não é mais possível fugir do uso de tecnologia em sala de aula. O que costuma dizer para os professores durante as formações é que trata-se de uma ferramenta que veio para auxiliar no dia a dia. “Eu vejo que todos eles que passaram por isso [de ter que se aprimorar e compreender melhor o uso da tecnologia] viram a necessidade que tem de trabalhar e estudar essa nova visão da educação, esse novo modelo educacional”, pontua.
O professor Geovane reforça que a tecnologia já faz parte da vida dos alunos e, portanto, utilizá-la é uma forma de tornar a aula mais interessante.”Sem contar nas inúmeras possibilidades que a tecnologia pode nos trazer que o quadro branco não nos possibilita. Com computadores e televisores em sala de aula, temos acesso a vídeos e aplicativos que facilitam o ensino. Esses dias vi um professor de química representando as moléculas em 3D, não é o máximo?”, diz.
Já a professora Margarete defende que usar tecnologia também é uma forma de fazer com que os estudantes se sintam mais pertencentes ao processo de aprendizagem. Um dos desafios, no entanto, segue sendo fazer com que a turma entenda que os aparelhos tecnológicos são para uso pedagógico e não somente para o entretenimento para acesso a redes ou aplicativos de mensagem.
“O que é importante nesse momento é conscientizá-los de que essa tecnologia é um recurso pedagógico, porque até então ele era só interação, comunicação e diversão. E desde o ano passado ela teve que se remodelar. Então, a gente tem que fazer todo um trabalho de conscientização, de letramento digital mesmo”, afirma Margarete.
O professor César concorda que este também é um desafio. Ele afirma que além do uso de aparelhos celulares fora de contexto, tenta evitar uma exposição excessiva e desnecessária às telas. Ou seja, busca um equilíbrio entre o uso consciente e engajado da tecnologia e o momento em que ela não é necessária.