Acolhida de alunos na volta às aulas começa pelo fortalecimento da equipe pedagógica - PORVIR
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Inovações em Educação

Acolhida de alunos na volta às aulas começa pelo fortalecimento da equipe pedagógica

Confira recomendações do programa Volta ao Novo, do Instituto Ayrton Senna, para o início do ano letivo. Antes de começar a falar em qualquer tipo de recuperação de aprendizagem, docentes também precisam fortalecer o próprio lado emocional

por Ruam Oliveira ilustração relógio 19 de janeiro de 2022

Acolhimento. Essa é uma palavra que tem sido muito ouvida. Muitas têm sido as discussões em torno da necessidade de olhar para questões socioemocionais no ambiente escolar e incluir essa temática nos currículos das escolas. E é uma demanda realmente importante.

Desde o início da pandemia de covid-19, assuntos que envolvem saúde mental e aspectos socioemocionais têm ganhado mais força. Porém, esse debate não é restrito apenas a esse período. Já na BNCC (Base Nacional Comum Curricular), existem diversos exemplos de que o assunto deve estar pautado entre as competências a serem desenvolvidas nos estudantes com vistas a uma educação integral.

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Muitos docentes sabem dessa importância e que isso é uma demanda que está além do contexto pandêmico. O professor José Nilton, que é mobilizador estadual do programa Volta ao Novo na rede do Piauí, diz que falar sobre habilidades socioemocionais deve ser uma tarefa a começar pelos próprios professores e professoras. “Como receber as famílias, as crianças e jovens nas escolas, se as nossas emoções estão extremamente fragilizadas?”, ponderou.

O programa do qual faz parte é uma iniciativa conjunta do Instituto Ayrton Senna em parceria com o Consed (Conselho Nacional de Secretários de Educação) e Undime (União dos Dirigentes Municipais de Educação) para levar formação sobre as competências socioemocionais a redes de ensino de todo o país. O programa se norteia pelas macrocompetências socioemocionais: resiliência emocional, amabilidade, abertura ao novo, engajamento com o outro e autogestão.

Muito se discute, também, com base em pesquisas realizadas durante a pandemia, que a aprendizagem foi prejudicada por tantos cenários de incerteza no campo da educação. Carlos Mandel, gerente de Canais e Alianças do Instituto Ayrton Senna, destaca que debater competências socioemocionais em sala de aula é também uma forma de apoiar na recuperação de possíveis atrasos escolares.

Um dos focos do programa, de acordo com ele, foi buscar um fortalecimento socioemocional dos educadores antes mesmo que eles pudessem trabalhar o assunto diretamente com os alunos. “Não tem como o professor tratar isso com seu estudante, sem que ele consiga entender e saber sobre as competências socioemocionais”, diz Carlos.

A fragilização dos docentes percebida pelo professor Nilton foi importante para ele reforçar que a formação que executava era necessária. “A formação tinha como objetivo maior a acolhida, o fortalecimento dos vínculos e, principalmente, a escuta empática. Então, antes de dizer para os professores que as famílias precisavam ser acolhidas de maneira diferente, nós acolhemos esse público [docente] primeiro.”

Trabalhar os aspectos socioemocionais é entender que o estudante é uma pessoa inteira, com demandas que estão além do aspecto cognitivo, explica Nilton. Ele ressalta que é compreensível que muitos professores não estejam preparados para lidar com o tema, porém garante que é necessário ter um empenho por parte dos docentes, assim como entender a maneira como preparar o ambiente para essa abordagem.

“A gente trabalha muito com abordagens, discute impactos também, até trabalhando essa questão da postura ao conversar com outro, ao ouvir o outro. Isso torna o professor mais sensível a algumas realidades que estão presentes, especialmente na escola pública”, afirma.

Tempo e planejamento

Há, contudo, certo receio por parte de muitos educadores quando o assunto é participar de muitas formações. Grande parte dos professores e professoras têm um tempo muito concorrido, o que pode fazê-los pensar muito antes de inserir uma temática nova em sala de aula, principalmente quando ela não é parte efetiva do currículo.

A professora Izabela Van Ham, que dá aulas de ciências e biologia na rede estadual de Minas Gerais e que também participou do programa Volta ao Novo, destaca que, apesar desse problema com o tempo, uma boa estratégia é incluir de forma interdisciplinar o assunto, assim como prever, já no planejamento, que o assunto deve ser abordado.

Ela reforça que a intencionalidade é fator fundamental para inserir a discussão sobre habilidades socioemocionais nas aulas. Muitos professores têm interesse em discutir o tema, ela própria já o fazia de maneira “instintiva”, como mencionou, inserindo alguns comentários que somente depois foram introduzidos de maneira mais intencional no projeto pedagógico.

“O foco [na aula] era certa competência cognitiva. Então, mesmo nos meus primeiros contatos com as competências socioemocionais, não havia um foco, uma prioridade nessas competências. O grande pulo do gato quando entrei para o Volta ao Novo foi perceber que a gente precisa colocar essas competências socioemocionais, no mesmo nível de importância das competências cognitivas”, afirmou.

Um outro fator que a professora destaca é que tratar desse tema, mesmo que com uma necessidade aparentemente aprofundada pela pandemia, deve ser uma tarefa contínua. “Ela precisa continuar porque as famílias continuam sendo as mesmas, com novos desafios que estão por vir”, destaca.

Carlos pontua também que o programa não quer ser algo que transforme excessivamente a rotina do professor, mesmo porque muitos docentes atuam com cargas horárias muito altas. Com o programa, a ideia é reforçar a intencionalidade, como citou a professora Izabela. “É muito desta visão de dar a ferramenta para que o professor consiga, na sua própria didática incorporar isso e adequar à sua realidade.”

O Instituto Ayrton Senna preparou um e-book contendo práticas e a sistematização de conteúdos abordados durante a formação que você pode conferir aqui.


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formação continuada, socioemocionais

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