Dia da Juventude: a voz de jovens que transformam suas realidades - PORVIR
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Inovações em Educação

Dia da Juventude: a voz de jovens que transformam suas realidades

Data marca um compromisso mundial pela garantia de direitos para jovens no mundo todo, reconhecendo-os também como figuras-chave no processo de transformação da sociedade

por Criativos da Escola ilustração relógio 12 de agosto de 2019

Todos os dias, os mais de 48 milhões de jovens brasileiros entre 14 e 29 anos enfrentam os desafios de viver, estudar e trabalhar em um país de proporções continentais, desigualdades abismais e culturas diversas como o Brasil. São jovens como Conceição, que faz licenciatura teatral; ou Rodrigo, que acorda às 6h40 para pegar ônibus e ir para a escola; ou ainda Brena, que toca um projeto sobre igualdade de gênero na sua comunidade. As múltiplas vivências de jovens como estes e de outras partes do mundo são celebradas em 12 de agosto, no Dia Internacional da Juventude. Data instituída pela Organização das Nações Unidas (ONU), a solenidade marca um compromisso mundial pela garantia de direitos para esse público no mundo todo, reconhecendo-os também como figuras-chave no processo de transformação da sociedade.

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A construção dessas pessoas enquanto sujeitos de direito, no entanto, é moderna; nas sociedades greco-romanas, crianças ou adolescentes eram considerados meros objetos de propriedade ou uma fase de “imperfeição” provisória; no Brasil colônia, a depender da classe social, crianças e jovens tinham que trabalhar tanto quanto os adultos, e não lhes era resguardado nenhum tipo de proteção.

Hoje, longe de ser considerada como uma fase passageira ou sem direitos, a juventude é compreendida como uma condição social de intensas transformações, atravessada e moldada por onde esse jovem nasce, sua classe social, seu gênero e raça, sendo a geração que mais sente na pele a presença ou ausência de políticas públicas ou do Estado em si, mas também aquela que é capaz de alterar e transformar o seu entorno.

Segundo o último censo do IBGE de 2010, a população brasileira é majoritariamente jovem, sendo que 52% tem entre 14 e 29 anos e mais de 80% deles vivem em áreas urbanas. É também uma juventude multirracial; quase 50% deles se declara negro ou pardo, enquanto 34% branco.

O país também é um dos pioneiros em legislação pela juventude. O Estatuto da Criança e do Adolescente, criado em 1990, promulga, nos seus mais de 100 artigos, uma listagem de direitos, além dos dispositivos para a participação social. Mas embora a legislação brasileira seja uma referência ao redor do mundo, os desafios do jovem no país continuam crescentes, fazendo-os, muitas vezes, a criar alternativas próprias diante da omissão do Estado ou falta de acesso a direitos e serviços.

Desde 2015, o programa Criativos da Escola, iniciativa do Instituto Alana, premia jovens estudantes de todo o Brasil que alteram positivamente seus territórios, escolas e comunidades. Os projetos premiados são uma pequena amostragem de uma juventude que, contrariando o senso comum de uma faixa etária de pouca ação, está engajada na construção de um mundo mais justo.

“O jovem está em constante transformação. Ele é a transformação”, relata Rodrigo Cardoso, 17, um dos idealizadores do projeto Xeque Mate, que usa o xadrez para recuperar a autoestima de uma escola em São Gonçalo (RJ). “Ele é uma transformação ambulante, pode mudar de opinião e a cada dia trazer uma ideia nova. Tem também uma boa capacidade de adaptação, consegue absorver conhecimento e botá-lo em prática. É bom incluir os jovens nesse momento de transformação da sociedade, porque é aí que ele mostra todo seu potencial”.

O olhar inovador para as questões da atualidade é, para Conceição Soares, de 20 anos, uma das qualidades inerentes da juventude. Ela é uma das responsáveis pelo Ecomuseu de Pacoti, museu comunitário que valoriza os saberes locais da homônima cidade cearense.

“A gente costuma dizer que os jovens são o futuro, mas isso significa que eles são deixados para depois. Estamos vivendo o agora, experimentando o presente. Temos que ser agentes do presente”, afirma a jovem, que hoje cursa licenciatura em teatro.

“Quando se tem a participação dos jovens diante de um problema ou uma situação social, conseguimos visualizá-lo por diferentes ângulos. A juventude tem uma voz alta, e aos poucos foi conseguindo seu espaço. Apesar dos retrocessos, a galera tem uma criatividade e está disposta a propor mudanças, a ser a mudança”.

Mas para o jovem efetuar as mudanças é preciso proteger sua trajetória. Embora pioneiro em leis de proteção à infância e adolescência, na prática, o jovem brasileiro é um dos mais sujeitos à violência e à exposição das desigualdades. Segundo o último Atlas da Violência, lançado em 2019, são os jovens negros e de periferia que encabeçam a lista de mortandade no Brasil.

“Falando como uma mulher negra de periferia, eu sei que um dos maiores desafios hoje em um Brasil de retrocessos e de ataque à educação é permanecer vivo”, arremata Conceição. “Aí podemos falar de outros desafios, que é o de enfrentar o sistema que acaba com você, que não deixa a galera pobre ficar em cima, e enfrentar uma sociedade que não necessariamente acredita nessa juventude”.

Rodrigo, que vive em uma área vulnerável do Rio de Janeiro, corrobora dessa visão: “Eu moro em uma área onde tudo é perigoso. É difícil sair cedo e chegar tarde sem correr o risco de sofrer um assalto ou algo pior. Como encorajar o jovem a estudar, a trabalhar, se o redor dele é tão arriscado”?

Como o jovem se relaciona com política no brasil?

Em 2019, com o corte em políticas públicas de educação tanto superior quanto básica, o jovem tem tomado a frente de diversas manifestações contra o desmonte. Em maio deste ano, muitos deles tomaram as ruas em protesto ao contingenciamento na área de ensino superior anunciado pelo Ministério da Educação (MEC).

“Um dos maiores desafios que encontramos ainda hoje é o acesso uma educação boa e para todos. Com esse corte de verbas que o novo presidente implementou, muitas universidades federais não têm como se manter abertas, prejudicando professores e nós, jovens”, alerta Brenda de Souza, 17, que toca um projeto de equidade de gênero em Apíuna (SC) chamado Educação pela Saúde.

É nas escolas que muitas das ações transformadoras acontecem; estudantes se unem para formar grêmios ou iniciativas multidisciplinares que podem transformar o espaço escolar e quebrar com os muros entre escola e comunidade.

Para Brena Nogueira, 18, que está no terceiro ano do Ensino Médio e faz parte do projeto Questão de Gênero na cidade de Senador Pompeu (CE), ao se comunicar com seus iguais, o jovem tem um grande potencial transformador em mãos, principalmente com as redes sociais, que cumprem um papel importante em disseminar os feitos dessa juventude, além de ser um espaço para experimentações e diálogos.

“Temos um domínio maior sobre elas e atrás de uma tela tudo é mais fácil. As redes sociais são aliadas na hora da gente se impor, de falar o que pensamos, para poder nos expressar sem reprovação”.

Todos os quatro jovens demonstraram surpresa com a data 12 de agosto; mas a fala de Rodrigo resume a importância desta data, embora não seja tão conhecida. “É importante o jovem ter uma data para ser reconhecido. É como se alguém dissesse para ele ‘jovem, você é importante, você tem o seu potencial’. Devia ter um foco maior nessa comemoração para dar ao jovem alguma parabenização por aguentar esse momento difícil de passagem e para ajudar ele a seguir seu caminho”.

Texto: Cecília Garcia
Edição: Jéssica Moreira


TAGS

educação infantil, ensino fundamental, ensino médio, ensino superior, participação dos estudantes

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