Especialista em inclusão, professora cria horta sensorial para 680 estudantes
Tudo o que é produzido na horta da escola em Aracati (CE) tem feito parte dos lanches e o projeto já reflete no cardápio mais saudável dos familiares
por Andreia do Nascimento Silva 10 de março de 2022
Possibilitar às crianças a oportunidade de aprender por meio do estímulo sensorial, incluindo estudantes que, em meio à condição de saúde, por vezes não conseguem interagir. Essa foi a motivação da escola.
A proposta da Horta Sensorial promove o acesso e o direito em ser sujeito do conhecimento, considerando espaço e tempo da aprendizagem, que também é individual e coletiva. A partir desta intencionalidade, desde 2020, o projeto vem construindo memórias afetivas, apropriação do conhecimento e experiências pedagógicas aos 680 estudantes matriculados da educação infantil ao ensino fundamental – em especial aos 45 atendidos pelo AEE (Atendimento Educacional Especializado) no Colégio Marista Aracati (CE).
O projeto nasce da necessidade de trabalhar de forma significativa os cinco sentidos (tato, olfato, paladar, audição e visão) a partir do cultivo de ervas medicinais, flores e frutos em canteiros suspensos. O plantio e a colheita estimulam competências e habilidades a partir da exploração dos diversos tipos de recursos de aprendizagem, integrando-as ao dia a dia da escola, gerando fonte de pesquisa, observação, avaliação e conhecimento.
Para a realização da Horta Sensorial, utilizamos ferramentas de jardinagem, adubos, sementes e mudas, tijolos, mangueira e regadores, material criado pelos alunos no Projeto Sucata e uma composteira. Além do trabalho em sala de aula, organizamos um cronograma de atividades para que todas as turmas possam participar da aula de campo, em um espaço da escola destinado às práticas de educação ambiental.
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Iniciamos com um momento de ambientação, interação e depois, em outro momento, partimos para a mão na massa. Vale frisar que contar com o apoio da equipe pedagógica faz total diferença. Claro, no começo a curiosidade gera ansiedade, depois os estudantes passam a interagir e compreender o toque, os cheiros e a experimentação como elementos da aprendizagem. Tudo o que é produzido na horta tem feito parte dos lanches na escola.
É importante destacar que, para os estudantes com autismo, a mudança de rotina precisa ser preparada: não dar para ir a outro espaço sem construir a perspectiva de mudança, saída, trajeto a um lugar da experiência.
Após a implantação do projeto, temos observado que os estudantes estão mais conscientes, responsáveis e respeitando a natureza como parte integrante dela e, ao mesmo tempo, difundindo, incentivando o convívio com todos – respeitando sempre as diferenças, o tempo e o nível de aprendizagem de cada aluno.
Outro resultado importante tem sido a abertura dos estudantes com autismo, os quais, na sua maioria, fazem seletividade alimentar. Por meio da Horta Sensorial, estão se permitindo explorar novos sabores por meio do contato direto com as frutas existentes no espaço.
Os conhecimentos são problematizados na escola e transportados para a vida familiar dos educandos, e já notamos, cada vez mais, a aceitação dos produtos naturais e mais saudáveis no cotidiano.
Estratégias como essa, de formação sistemática e continuada, tornam-se um mecanismo capaz de gerar mudanças na cultura alimentar, ambiental, educacional e social.
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Andreia do Nascimento Silva
Graduada em letras, especialista em psicopedagogia, gestão e coordenação pedagógica, tem curso de libras e práticas inclusivas. Atualmente, é especialista em educação inclusiva e acompanha os estudantes da educação infantil ao ensino fundamental no Colégio Marista de Aracati (CE).