Para fortalecer a aprendizagem, foco deve estar em propósito e engajamento
por Débora Garofalo
26 de junho de 2025
O fim do semestre é um período em que muitos estudantes, especialmente da educação infantil e do ensino fundamental, demonstram sinais de cansaço, desmotivação e um ritmo mais lento, antecipando as tão aguardadas férias. Esse fenômeno, que se intensifica com a expectativa do recesso, é um desafio constante para educadores que, nessa fase, buscam revisar conteúdos, consolidar aprendizagens e fechar ciclos pedagógicos de maneira significativa.
De acordo com dados de 2023 do Todos Pela Educação, organização sem fins lucrativos focada na defesa do acesso à educação básica, mais de 54% dos professores relatam queda no engajamento dos estudantes nas últimas semanas do semestre.
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Além disso, levantamento feito em 2022 pelo Instituto Península aponta que 61% dos docentes sentem dificuldade em manter a atenção dos estudantes em momentos de revisão ou fortalecimento das aprendizagens, especialmente quando as atividades seguem formatos expositivos.
Diante desse cenário, surge a necessidade de pensar o fortalecimento das aprendizagens não apenas como um espaço de recuperação, mas como uma oportunidade de ressignificar a aprendizagem. Isso significa transformar esse momento em experiências dinâmicas, criativas e integradas ao cotidiano dos estudantes.
Inovação no processo de fortalecimento das aprendizagens
Estudos na área de neurociência aplicada à educação, como os desenvolvidos pelo Instituto Ayrton Senna, indicam que aprendemos mais e melhor quando estamos emocionalmente engajados. A aprendizagem significativa acontece quando o estudante vê sentido no que está fazendo, quando o currículo dialoga com sua vida, seus interesses e quando há espaço para interação, colaboração e criatividade.
Além disso, os dados do Relatório de Desenvolvimento da Educação Global, publicados pela Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura), em 2023, reforçam que práticas ativas, como projetos, jogos, desafios e atividades mão na massa, aumentam em até 35% a absorção dos conteúdos, comparadas às metodologias expositivas tradicionais.
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Apostar em estratégias criativas permite não só fortalecer as aprendizagens, como também manter o engajamento e despertar o protagonismo estudantil. Uma das propostas mais eficientes é a realização de oficinas temáticas integradas, nas quais os principais conteúdos do semestre são transformados em experiências interativas.
Por exemplo, ao revisar frações, uma oficina de culinária matemática permite que os estudantes coloquem a mão na massa, utilizando medidas e proporções de forma prática. Quando o tema é biomas, a construção de maquetes ecológicas pode integrar ciências, arte e sustentabilidade, tornando a aprendizagem concreta e prazerosa.
Outra estratégia envolvente é a “Caça ao Tesouro do Conhecimento”, onde um circuito de desafios é espalhado pela escola. A cada etapa, os estudantes enfrentam charadas, perguntas ou problemas ligados aos conteúdos que precisam ser revisados. Essa atividade, além de promover a revisão, estimula a cooperação, o raciocínio lógico e o pensamento crítico.
Inspirado nos famosos jogos de fuga, o “Escape Room Educacional” também se torna uma poderosa ferramenta. Nele, a turma precisa desvendar enigmas, resolver problemas matemáticos ou interpretar textos para conseguir abrir uma caixa misteriosa ou “escapar” de uma situação fictícia. É uma maneira altamente engajadora de revisar conteúdos de forma colaborativa e divertida.
Uma outra opção e realizar uma feira de saberes, alternativa potente para transformar a revisão em protagonismo. Em vez de retomar os conteúdos de forma passiva, os estudantes são convidados a criar pequenas apresentações, seja em cartazes, vídeos, podcasts, dramatizações ou maquetes, sobre temas trabalhados durante o semestre. Esse processo amplia a autonomia, desenvolve a comunicação e consolida os conhecimentos de maneira efetiva.
A tecnologia também é uma grande aliada nesse processo. Jogos digitais e ferramentas de gamificação, como Kahoot, Wayground (antigo Quizizz), Wordwall e Minecraft Educação, tornam as revisões muito mais atrativas. O site Edutopia mostrou em levantamento recente que o uso da gamificação eleva em 42% o engajamento dos estudantes, além de favorecer o processo de ensino e aprendizagem.
Além dos ambientes tradicionais, utilizar espaços externos faz toda a diferença. Práticas de aprendizagem ao ar livre, como trilhas dos saberes, desafios físicos associados a perguntas ou jogos no pátio, jardim ou quadra, proporcionam momentos de descontração aliados à aprendizagem, contribuindo para a renovação das energias e o aumento do foco.
Outra proposta potente são os projetos de curta duração, que conectam os conteúdos a temas de interesse dos estudantes, como meio ambiente, cultura digital, esportes, música ou tecnologia. Por serem interdisciplinares, esses projetos favorecem uma visão ampla, mostrando a aplicabilidade prática dos conhecimentos no cotidiano.
Dicas práticas para educadores
- Aposte no protagonismo dos estudantes: quanto mais ativos no processo eles forem, maior será a motivação e fixação dos conhecimentos;
- Utilize materiais acessíveis e simples: cartolinas, recicláveis, sucatas e objetos cotidianos são suficientes para transformar atividades em experiências marcantes;
- Estimule o trabalho em dupla ou em grupo: A aprendizagem colaborativa, na qual um estudante ajuda o outro, potencializa a fixação dos conteúdos e desenvolve habilidades socioemocionais;
- Crie momentos de celebração das conquistas: inclua certificados, medalhas simbólicas ou simples reconhecimentos verbais. Esse gesto fortalece a autoestima e o sentimento de pertencimento;
- Inclua espaços para autocuidado e bem-estar: atividades como alongamentos, meditações guiadas, rodas de conversa e músicas relaxantes ajudam a reduzir o estresse típico do encerramento do semestre.
O fortalecimento das aprendizagens não precisa (nem deve) ser visto como um castigo ou uma extensão exaustiva das aulas. Ao contrário, pode ser um espaço fértil para consolidar saberes, fortalecer vínculos e despertar na turma a percepção de que aprender pode – e deve – ser algo prazeroso, curioso e conectado à vida. Quando professores se permitem inovar, experimentar e criar, também se sentem mais motivados, resgatando o propósito do ensino. Afinal, mais do que transmitir conteúdos, educar é criar experiências que façam sentido para quem aprende.
Débora Garofalo
Professora, mestra em Educação, gestora em inovação, integrante da comissão municipal de Direitos Humanos, embaixadora do Instituto Ayrton Senna e da Varkey Foundation. Considerada uma das 10 melhores professoras do mundo pelo Global Teacher Prize.





