Metodologias ativas deixaram de ser tendência para se transformar em demanda urgente - PORVIR
Crédito: SDI Productions/iStockPhoto

Coronavírus

Metodologias ativas deixaram de ser tendência para se transformar em demanda urgente

Aprendizagem baseada em projetos ganha força pelo poder de engajamento que tem sobre os alunos e pela forma como envolve conceitos teóricos, aplicação prática e criatividade para solução de demandas sociais

por Isabel Costa ilustração relógio 15 de julho de 2020

Houve um tempo – e ainda neste século –, em que a tecnologia e a educação tentavam encontrar uma zona comum de atuação e esbarravam em dilemas geracionais. Chega a ser curioso lembrar que professores proibiam celulares em sala de aula e que trabalhos precisavam ser manuscritos porque havia certa resistência com o uso de computadores. Essas barreiras, embora sigam existindo, estão em processo de ruptura e o que temos presenciado há alguns anos é uma fusão mais natural e fluida entre recursos tecnológicos e metodologias ativas de ensino e de aprendizagem.

E isso passa por uma importante premissa: o papel da tecnologia na educação não pode se resumir a ferramentas e plataformas. Ela não pode ser só a forma do bolo, uma embalagem, por mais importantes que sejam os avanços, facilidades e oportunidades que os produtos proporcionem. A tecnologia precisa ser parte integrante de processos que compõem a busca por habilidades e competências entre alunos e professores.

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Para exemplificar melhor essa premissa, podemos olhar para o cenário atual, marcado pelo ensino remoto. Se um computador ou smartphone serve apenas de plataforma para um modelo convencional de aplicação de conteúdo para o estudante acessar de casa, a tecnologia foi colocada apenas como um acessório. E com esse modelo a distância, as dinâmicas tradicionais tendem a sofrer impactos pela dificuldade de engajar os alunos sem o contato próximo.

Assim, a disseminação de metodologias ativas deixou de ser uma tendência forte para se transformar em demanda urgente para uma realidade que, embora possa ser passageira, vai ter consequências que podem ser definitivas na educação. E entre cases de sucesso e trilhas de conhecimento da abordagem STEAM (sigla em inglês para a união de áreas educacionais composta por Ciências, Tecnologia, Engenharia, Artes e Matemática), os trabalhos por projetos ganham força pelo poder de engajamento que têm sobre os alunos e pela forma como envolve conceitos teóricos, aplicação prática e criatividade para solução de demandas sociais.

A eficiência de metodologias ativas pode ser vista em iniciativas como o Prêmio Respostas para o Amanhã e a Maratona UNICEF Samsung. São programas que proporcionam justamente essa união entre tecnologia e educação dentro dos processos de ensino e aprendizagem, colocando professores ao lado dos alunos e dando aos estudantes um protagonismo que é necessário no desenvolvimento de competências e habilidades.

O resultado dessa convergência e dessa mistura está em projetos promissores que conseguem identificar necessidades dentro da realidade dos alunos. Quando ele descobre que pode resolver um problema do bairro onde mora ou ajudar a combater uma doença, ele se sente estimulado a estudar, a pesquisar e a criar. O estudante se deixa envolver, se coloca no centro de temas sensíveis e, assim, produz com maior satisfação por vislumbrar um futuro melhor.

Conseguimos ilustrar melhor com um exemplo que vem de um grupo de alunos do Instituto Federal do Paraná que participa da edição deste ano da Maratona UNICEF Samsung. Um dos integrantes da equipe é deficiente auditivo e ajudou os colegas a desenvolver um aplicativo que ensina conteúdos de matemática e ao mesmo tempo apresenta a linguagem de sinais e outros elementos da cultura surda. O app foi batizado de MatemáTIC Libras e deixou Carlos Eduardo de Carvalho feliz e empolgado por ampliar a representatividade e a inclusão dos surdos e oferecer a essa comunidade uma nova forma de aprender.

Além desse aplicativo criado pelos estudantes paranaenses, a Maratona UNICEF Samsung deste ano tem apresentado projetos que impressionam pela visão apurada que os jovens têm de nossa sociedade. Grupos de vários estados brasileiros, como por exemplo Amazonas, Mato Grosso do Sul, Rio de Janeiro, Santa Catarina e Bahia, falaram de economia solidária, de prevenção de infecções sexualmente transmissíveis e de acessibilidade, sempre com ideias criativas para ajudar a disseminar pautas tão importantes.

Roteiro semelhante de engajamento pôde ser visto nos grupos que chegaram à reta final do Prêmio Respostas para o Amanhã em 2019 – a edição deste ano tem inscrições abertas até 10 agosto. Vimos no projeto vencedor, por exemplo, alunos da rede pública de ensino, da escola EEMTI Marconi Coelho Reis, de uma cidade no interior do Ceará, Cascavel, descobrirem que a folha de goiabeira serve de base para a produção de um filme biodegradável que pode ajudar a tratar pacientes com queimaduras de primeiro grau e outras lesões cutâneas.

E de Boa Vista, Roraima, veio um método para combater larvas de Aedes aegypti, responsável por transmitir doenças como dengue, zika e chicungunha na região. O grupo analisou as propriedades de uma espécie da vegetação local, que a princípio parecia ser apenas uma planta que podia ser venenosa para o gado, e a transformou em um biolarvicida que pode vir a se tornar uma solução barata para conter epidemias no Brasil.

Essas são só algumas amostras de como educação e tecnologia devem caminhar juntas a todo instante e receber o máximo de estímulo possível. Investir em iniciativas e projetos como esses significa um olhar cuidadoso para o futuro. Representam uma importante causa de responsabilidade social, de cidadania e de capacitação que são capazes de transformar o planeta.


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aprendizagem baseada em projetos, ciências, ensino fundamental, ensino médio, tecnologia

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