Por que é preciso investir na recomposição de aprendizagem?
É fundamental ter um plano de ação bem definido para identificar o problema e compreender o objetivo que precisa ser alcançado. Confira alguns passos para a implementação.
por Amanda Servidoni Evangelista / Rebeca Veras Gonçalves 11 de abril de 2023
Falar sobre a recomposição da aprendizagem não é algo novo, mas desde o início da pandemia da Covid-19, o número de estudantes apresentando lacunas significativas na aprendizagem aumentou. Por isso, o principal desafio do educador hoje é conhecer o cenário da sua sala de aula e, a partir disso, planejar estratégias considerando o desenvolvimento das habilidades e desafiando os diferentes perfis dos estudantes.
Para esse processo, não existe uma única receita, mas é fundamental ter um plano de ação bem definido para identificar o problema e compreender o objetivo que precisa ser alcançado. Alguns conceitos podem ajudar a nortear o caminho.
O primeiro deles é a mitigação das perdas, que visa minimizar os danos causados pela pandemia. O segundo olha para a recomposição, a partir de três propostas de trabalho: remediação, mais conhecida dentro do contexto escolar como recuperação e considera que todos os estudantes precisam de apoio por terem passado muito tempo fora do ambiente escolar; intervenção, processo que acompanha o estudante com dificuldade de aprendizagem; e a aceleração, que diagnostica as lacunas, pensando em cada estudante dentro das suas particularidades.
Para promover um ensino de qualidade e significativo, é importante escolher o melhor formato e método de acordo com o perfil de cada turma, de forma responsável.
As principais ações a serem consideradas estão divididas em três grandes pontos: avaliação, para diagnosticar e monitorar o que foi consolidado e destacar o que ainda precisa ser desenvolvido; planejamento, que prioriza as principais necessidades dos estudantes e o que é fundamental a ser recomposto e desenvolvido no ano em curso, podendo ser baseado nos objetivos de aprendizagem e nas estratégias a serem colocadas em prática ou em um novo plano de ação, caso seja necessário redirecionar o que não funcionou; e aplicação, que deve ser consciente e intencional, com foco na formação integral e na oferta de caminhos diferenciados que atendam à diversidade da sala de aula e estimulem o protagonismo dos estudantes, sem deixar de lado a comunicação e o acolhimento.
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Ao pensar nas séries de transição, é importante considerar a profundidade das lacunas de cada turma. No caso das turmas de alfabetização, por exemplo, é necessário realizar sondagens específicas para avaliar a leitura e a escrita (espontâneas), a fim de compreender em qual nível a criança se encontra (pré-silábico, silábico com ou sem valor sonoro, silábico alfabético e alfabético).
A partir dessa avaliação, é possível pensar em propostas de leitura e interpretação de textos que possam ser incluídas na rotina da sala de aula, visando o engajamento dos alunos. É fundamental respeitar a maturidade cognitiva das crianças e propor situações em que elas se sintam à vontade. O desafio precisa ser alcançável e as sondagens diagnósticas devem ser realizadas de maneira constante ao longo do ano letivo, permitindo que o professor possa entender o cenário da sala e desenvolver as diferentes potencialidades dos estudantes.
Já nas séries mais avançadas, é importante ter uma noção das habilidades que precisam ser desenvolvidas e verificar se há fundamentações preliminares, considerando a espiralidade prevista pela BNCC (Base Nacional Comum Curricular). As habilidades anteriores serão a sustentação para as propostas do ano em que o estudante está inserido e, com uma noção do todo, é possível diminuir o distanciamento entre o que precisava ser aprendido e o que precisa ser aprofundado.
Por fim, para garantir um trabalho que minimize os danos causados pela pandemia, é interessante que o professor tenha consciência do estudante como um ser integral, e que o maior propósito não está diretamente relacionado ao conhecimento cognitivo, mas sim à criação de um ambiente seguro e saudável que proporcione interações, espaço de fala e, consequentemente, o desenvolvimento das habilidades.
*Crédito da imagem: Depositphotos
Amanda Servidoni Evangelista
Formada em história, é mestra em teoria e historiografia literária. Atualmente, atua como analista de conteúdo pedagógico do Focos, núcleo de formação continuada da SAS.
Rebeca Veras Gonçalves
Formada em pedagogia, é especialista em educação infantil e múltiplas linguagens, também em gestão e coordenação pedagógica. Atualmente, é especialista de conteúdo pedagógico do Focos, núcleo de formação continuada da SAS.