Projeto trabalha identidade racial e repertório cultural a partir da língua inglesa - PORVIR
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Diário de Inovações

Projeto trabalha identidade racial e repertório cultural a partir da língua inglesa

Professora de ensino fundamental 2 conta como desenvolveu projeto para que estudantes entendessem o racismo por meio de reflexões, debates e leituras

por Marcélia Leal ilustração relógio 12 de maio de 2021

Antes de começar este projeto, eu entendia que discutir o racismo em sala de aula é importante porque a escola pode ser local de origem de atos discriminatórios e de violência, que muitas vezes são permitidas por professores e gestão, mesmo que de forma silenciosa. O racismo traz danos difíceis de serem revertidos.

Com isso em mente, decidi desenvolver um projeto voltado pra Língua Inglesa onde os alunos do 9º ano do ensino fundamental do Centro de Ensino Lúcia Chaves (São Luís, Maranhão) pudessem compreender de maneira mais ampla o que é racismo por meio de reflexões, debates e leituras e também os colocando como protagonistas desse entendimento.

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Alunos participam de atividade em sala de aula. Um deles ergue os punhos e outra pessoa tira fotoCrédito: Marcélia Leal

Atividade de dramatização em sala de aula

O estudo desse idioma nem sempre faz muito sentido para todos os estudantes, que podem encarar a si mesmos como simples espectadores. Isso me fez repensar a maneira como ministrava conteúdos, justamente tendo em vista que, num mundo globalizado, o inglês é um idioma muito requisitado no mercado de trabalho e, portanto, útil para os projetos de vida dos estudantes.

Esse caminho me ajudou a organizar o projeto, que colocou cada estudante como protagonista. Trabalhamos identidade racial e ampliação de vocabulário e repertório cultural, por exemplo. O objetivo era promover discussões étnico-raciais que são essenciais para a construção de um espaço pedagógico antirracista.

Usando músicas e textos em inglês, passeamos pelas histórias de Martin Luther King Jr., Nelson Mandela, pelo movimento Black Lives Matter (Vidas Negras Importam), além de conversarmos sobre a formação de Quilombos, e também lermos poemas como O Navio Negreiro.

Usar elementos lúdicos é sempre uma estratégia positiva. Para mim era essencial que eles se vissem representados. Para isso, fizemos um estudo sobre super heróis negros. Foi proposta para que a turma criasse uma história em quadrinhos, em inglês, que refletisse a representatividade que buscávamos. O enredo foi criado com a ajuda de um professor que já atuava na escola.

O aprendizado desta segunda língua se concretizou com a produção de um dicionário temático, com frases relacionadas ao combate ao racismo. Foi uma forma de dar significado e contextualização ao que viam durante as aulas. Como resultado, vi alunos antes ausentes tendo uma participação mais efetiva.

Outras ações foram puxadas a partir deste primeiro projeto. Também fizemos um ensaio fotográfico, o que impactou positivamente a autoestima. Realizamos visita ao Museu do Negro (Cafuá das Mercês) para ampliar o que eles conheciam da história afrobrasileira. Locais que antes não eram frequentados pelos estudantes. Para treinar a escrita em inglês aproveitamos os ensaios fotográficos criando legendas que representassem aquele momento.

Saber que o Maranhão tem 74% de sua população negra, reforça a importância de tratar sobre o tema. Chegamos com o projeto a outros espaços, como ouvindo palestra com Erik Moraes, presidente da Comissão da Verdade da Escravidão Negra da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), em uma ação importante para entender sobre os direitos. Recebemos doação de 30 livros para formação de uma biblioteca temática. Entre os que contribuíram nesta iniciativa está o defensor público Bruno Antonio Barros Santos.

Esse é um projeto que cresce a cada dia. Já criamos jogos de tabuleiro em inglês, e mantemos a criatividade aguçada para conhecer e ampliar o entendimento sobre os aspectos étnico-raciais.


Marcélia Leal

Formada em Letras-Inglês pela UESPI (Universidade Estadual do PiauÍ), atua desde 1996 como professora de inglês. É concursada na rede pública do Maranhão e trabalha com projetos desde 2002. Em 2020, ficou entre os 50 melhores educadores do Prêmio Educador Nota Dez com projeto voltado às questões raciais.

TAGS

aprendizagem baseada em projetos, competências para o século 21, ensino fundamental, inclusão, tecnologia

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