No Instagram, professora de língua portuguesa propõe aos alunos o Manifesto do Isolamento
Atividade é como 'um abraço distante, como inspiração e como uma reflexão', diz a professora Grasielly Lopes
por Grasielly Lopes 22 de julho de 2020
Diante de contexto tão adverso, com demandas totalmente diferenciadas e com o espaço de trabalho alterado, busquei, para além da nossa nova rotina, um modo mais leve e diferenciado para atender às expectativas, ao material didático e ao conteúdo específico de cada ano.
Como professora de língua portuguesa e literatura notei que precisávamos de “respiros” criativos e de um espaço para expressão e compartilhamento das produções tal como um “mural da escola”. Muitos alunos, inicialmente, relataram suas angústias em relação ao presente e ao futuro, principalmente os alunos do 3º ano do ensino médio.
Depois de muito pensar e com base em alguns conhecimentos que somei ao longo dos anos de sala de aula e cursos voltados para mídias, como o Geração Futura Educadores, entendi que, neste momento, seria importante estarmos conectados, para além das plataformas educacionais, por meio de uma linguagem mais próxima dos jovens, ampliando, assim, os caminhos para a proximidade a partir do mote: “estar perto não é físico”, como diz o artista Felipe Morozoni.
Assim, nasceu o espaço @res.piramos no Instagram e, por meio dele, temos ecoado nossas produções. Os retornos das postagens têm sido bem positivos e o processo vai se dando ao seu tempo, a partir do acolhimento e da visibilidade do que produziram, isso também é importante, pois valida o que estão sentindo e se sentem representados também pelos colegas.
Antes da página ser criada, tratei do assunto nas aulas síncronas e os alunos presentes gostaram muito e concordaram com a ideia. Passamos por uma decisão coletiva, verificando as diferentes formas de produção, como também como se sentiam em relação a isso. Após consenso, decidimos fazer. Como o objetivo é pedagógico, e não exposição pessoal de ninguém, tem funcionado muito bem. As postagens acontecem por semana e aos poucos vamos multiplicando a ideia.
É algo simples que pode fazer a diferença, funcionar como um abraço distante, como inspiração e como uma reflexão. A literatura e a arte se fazem cada vez mais necessárias e poder relacionar estéticas mais antigas com a atualidade é muito rico. O percurso também prevê trabalho interdisciplinar com as disciplinas de arte e história.
Deste modo, os alunos produziram composições artísticas tendo por base as estéticas literárias estudadas, apresentaram fotografias de própria autoria, desenhos, frases e produções que, de algum modo, representassem o que estão vivendo, assim, como resultado, surgiram produções destacando a sensibilidade e o valor da natureza, do cotidiano, do equilíbrio, do estar em contato consigo, como também produções que evidenciaram suas angústias, emoções, saudades, tédio e sonhos, olharam para as sensações e para as pequenas coisas e a partir delas fizeram trabalhos belíssimos e criativos diante dos instrumentos que tinham.
Penso que para além desse momento de distanciamento, tal espaço é e será importante como um espaço de valorização e pertencimento, logo não perderá o seu valor e mesmo aqueles que não quiseram seus trabalhos publicados sentem-se, de algum modo, contemplados ali. Quando voltarmos à escola, o que agora é um meio para nos unir poderá significar para além disso, será nosso acervo, uma narrativa coletiva e poderá ser mais um caminho para que os ecos da aprendizagem ultrapassem os muros da escola.
Veja abaixo exemplos de atividades (baixe um PDF feito pela professora)
O que: Produção de Manifesto do Isolamento e composição artística buscando representar-se no contexto atual por meio de escritas, desenhos, colagens ou qualquer linguagem que se relacione com as estéticas estudadas na Semana de 1922 e defendidas pelos poetas modernos.
Grasielly Lopes
Professora de língua portuguesa e literatura há 20 anos, graduada em letras pela Unesp (Universidade Estadual Paulista - Assis) e mestre em literatura e vida social pela mesma instituição. Acredito na educação como percurso de troca e transformação e há belezas tantas nisso. Após longa jornada entre rede pública, privada e ensino superior, atualmente sou professora do ensino médio da Rede SESI.