Na volta ao presencial, estratégias personalizadas desenvolvem a oralidade no ensino bilíngue - PORVIR
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Inovações em Educação

Na volta ao presencial, estratégias personalizadas desenvolvem a oralidade no ensino bilíngue

Explorar jogos, brincadeiras e outros elementos lúdicos é uma das recomendações para evitar que os alunos se sintam expostos nas aulas de inglês

Parceria com Edify

por Luciana Alvarez ilustração relógio 17 de dezembro de 2021

Jogar, brincar, experimentar atividades, fazer projetos em pequenos grupos e ter momentos exclusivos com o professor são estratégias que ajudam os estudantes a perder a inibição na hora de falar o que já sabem de inglês. Fazer tudo isso dentro de um horário de uma aula, em uma classe cheia, é possível com planejamento e jogo de cintura.

Para Camila Herculano, professora de inglês e empreendedorismo da rede Marista em Curitiba (PR), o caminho para permitir a personalização é trabalhar com projetos. Na fase de aulas remotas, ela aproveitou o interesse dos alunos de 6º a 9º anos nas redes sociais para que produzissem pequenos vídeos com conteúdos.

Não era preciso mostrar o rosto. E, como não precisavam entregar exatamente as mesmas coisas, os estudantes mais inibidos tiveram oportunidade de ganhar confiança paulatinamente. “Alguns se sentiam mais à vontade atrás das câmeras, filmando, editando. Mas, com o passar do tempo, acabaram perdendo a timidez”, conta a professora.

No retorno ao presencial, quando não há mais possibilidade de se esconder por trás da câmera, a ideia de Camila é continuar usando temas que despertem o interesse em projetos nos quais cada um pode andar no seu próprio ritmo. “Meu propósito é sempre o encantamento. A unidade em que trabalho é uma unidade social, onde alguns alunos têm múltiplas vulnerabilidades, e a maioria mal tinha tido contato com a língua inglesa quando ingressam. Não adianta eu chegar e colocar gramática para eles. Faço um tripé: inglês, empreendedorismo e projeto de vida”, explica Camila.

Mesmo no presencial, o mundo digital continua conectado às aulas de Camila. Recentemente, ela fez um projeto de fotografia com explicações e debates em grupo na sala, mas criou também um Padlet (plataforma para criação de mural virtual) para que os alunos publicassem suas criações fotográficas. “Nas aulas a gente estudou sobre ângulos, sobre as ferramentas que existem no celular. Eles perceberam que vários nomes já estão em inglês. Depois, fizeram fotos muito criativas e deram explicações sobre que mensagem queriam passar com elas. Esse projeto foi um sucesso”, recorda-se.

No final do ano letivo, começou a trabalhar com gamificação, algo que deve desenvolver ainda mais no próximo ano letivo. “Eu não sabia nada sobre como fazer jogos, mas li alguns artigos e fomos descobrindo juntos. Eu não gosto da aula tradicional; uma aula boa tem sempre algo diferente”, afirma.

Materiais didáticos, que às vezes se parecem camisas de força, trazem o potencial de ser apoio para a diversificação de atividades e estratégias. E já há muitos com propostas assim. “Na editora, a gente trabalha com premissa de que one size does not fit all (um tamanho não serve para todos)”, afirma Raquel Carlos, gerente da Learning Factory, editora dos livros da rede Edify.

A importância da personalização

Basicamente, há duas formas de promover a personalização no material didático: por meio de recursos digitais e pela própria proposta dos livros. Sempre é muito proveitoso, diz a gerente. “De forma individualizada, eu vou aprender o que preciso, da minha forma e no meu ritmo. Na sala de aula, faço isso por meio do trabalho por projetos. Eu tenho a perspectiva de uma habilidade que os alunos devem alcançar e, para isso, lanço um desafio. Mas os alunos vão em busca de seus próprios caminhos”, diz Raquel.

Os recursos digitais, que permitem que cada um siga trilhas diferentes, do aprofundamento ao reforço, estão prestes a ganhar ainda mais um recurso para desenvolvimento da oralidade: um assistente de voz para conversar com os estudantes. Ele está em fase de teste e deve chegar para as escolas a partir do próximo ano letivo.

“Ao falar, o estudante se expõe, e isso traz inseguranças para muitos. O digital pode e vai ser uma oportunidade para desenvolver a oralidade. O assistente que estamos desenvolvendo vai permitir que ele pratique num ambiente seguro e, aos poucos, aumente sua confiança”, explica Raquel.


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Além da segurança, o recurso digital pode ampliar o tempo de prática do ouvir e falar. “É por meio da oralidade que a gente mostra mais nossa capacidade bilíngue –, mas é também o maior desafio para o professor de uma sala de aula com 20 alunos ou mais criar essas oportunidades. O aumento do tempo de prática é importante para a fluência. Numa sala de aula grande, esse assistente pode ajudar no sentido de fazer com que mais alunos pratiquem mais”, afirma.

Explorar jogos, brincadeiras e outros elementos lúdicos é uma das recomendações da especialista em ensino bilíngue Ekatherina Ugnivenko, coordenadora no colégio Gracinha, de São Paulo (SP), para evitar que os alunos se sintam expostos nas aulas de inglês. “Alguém que tenha vergonha de ler em voz alta, às vezes em uma gincana, ou durante um game, vai falar sem se sentir que está sendo avaliado por todos, que está no foco da atenção”, explica. E jogos podem ser usados em qualquer idade, até mesmo com adultos, lembra a professora.

Ekatherina também sugere que o inglês seja mostrado de forma contextualizada a algo da vida real, mas especialmente que algo desperte o interesse dos alunos. Mais uma vez, essa é uma abordagem que pode ser feita em qualquer realidade.

A personalização também é possível, ainda que para alguns contextos ela seja muito mais fácil do que em outros. “Alguns professores têm outros profissionais que os apoiam, então eles podem dar atenção a um aluno ou grupo específico. Mesmo quando isso não acontece, o trabalho por estações dentro da sala diversifica as atividades e permite um trabalho não padronizado”, afirma.

Ao separar a classe em grupos, cada um realizando atividades diferentes, o professor consegue juntar por potenciais semelhantes, ou colocar alunos mais engajados para dar uma certa tutoria aos que estão com mais dificuldade. “O que não pode ficar para os alunos é a ideia de que o aluno supostamente forte vai ajudar o supostamente fraco. Esse tipo de proposta tem que ser feita com delicadeza, de forma que todos se sintam valorizados”, ressalta.

A coordenadora do colégio Gracinha lembra ainda que o trabalho personalizado só terá sentido de fato se a forma de avaliação também for individualizada. “No retorno à presencialidade, ter um processo de avaliação diagnóstica constante se tornou mais primordial. O professor deve estar atento ao processo do aluno, onde está em comparação à expectativa do curso, em relação aos colegas e ao que ele mesmo apresentava antes. A evolução em relação a ele mesmo precisa ser respeitada e valorizada”, garante.

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