Ciência de Dados entra na lista de itinerários formativos na rede pública
Curso inédito, elaborado por Fundação Telefônica Vivo e CIEB, está conectado às competências da Base Nacional Comum Curricular e apoia inserção dos jovens no mercado de trabalho
por Ruam Oliveira 17 de janeiro de 2022
Você já deve ter ouvido falar o quão importante é prestar atenção na Ciência de Dados. Informações sobre economia, saúde, política ou comportamento, por exemplo, estão constantemente nas telas dos celulares, em jornais ou em programas de televisão. Quantas vezes uma palavra foi pesquisada no Google, quantas curtidas aquela foto que você postou mais cedo teve ou quantas visualizações aquele vídeo de animais fofinhos que compartilharam com você também são dados.
Ou seja: a Ciência de Dados já faz parte do cotidiano e, também, do universo dos estudantes. E esse é um cenário que tende a se tornar cada vez mais presente ao longo do tempo. Muitas profissões consideradas “do futuro” esperam que as pessoas saibam ler e interpretar bem os dados.
Entender essas informações vai muito além da vida profissional, claro. É uma forma de compreender o mundo e entender o contexto em que se vive, como uma questão de cidadania. Inclusive, a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) também traz, entre as suas competências gerais, um item destacando a Cultura Digital, que muito se relaciona com a Ciência de Dados.
Olhando para esse cenário, a Fundação Telefônica Vivo lançou recentemente o primeiro itinerário de formação técnica e profissional em Ciência de Dados para os jovens do ensino médio. Inédito, o conteúdo será disponibilizado para redes de escolas públicas – técnicas e regulares – e de educação profissional já em 2022, começando nos estados de Santa Catarina, Mato Grosso do Sul e Espírito Santo.
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O projeto é realizado junto com o Centro de Inovação para Educação Brasileira (CIEB), parceiro técnico da empreitada. “A habilidade de analisar e interpretar dados gerados pelas tecnologias tornou-se uma condição fundamental para ler e compreender o mundo, tal como Paulo Freire se referia à alfabetização” diz Lúcia Dellagnelo, diretora-presidente do CIEB. “Nesse sentido, precisamos democratizar a alfabetização em dados, inserindo-a no currículo da educação básica para que todas as crianças e jovens possam viver e exercer plenamente seu propósito no mundo, como reconheceu a OCDE [Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico] em 2019”, complementa.
Na prática
A secretaria de Educação de Santa Catarina já se programa para implementar o curso no primeiro semestre de 2022. Como método de preparação, os docentes irão participar de uma série de encontros formativos antes do início das aulas. Essa formação será constante e deve acontecer ao longo da implementação do curso, prevista para dois anos.
“Nós sabemos que a sociedade tem passado por uma transformação tecnológica muito intensa, muito rápida. Neste contexto de revolução, de inovação, de transformação tecnológica e digital, muitos dados são produzidos e há uma carência de profissionais capacitados para a gestão e análise desses dados, para compreender os fenômenos que estão relacionados sobretudo a essa quantidade massiva de dados”, afirma Luís Duarte, Coordenador da Educação Profissional da secretaria catarinense.
Luís destaca que o curso de Ciência de Dados foi criado para servir como uma trilha de aprofundamento. Ele está dividido em três eixos que serão ministrados ao longo de quatro semestres. Começando na segunda série do ensino médio, o primeiro e segundo semestre serão ocupados pelo eixo de gestão de dados. Já no 1º semestre da 3º série do ensino médio, os estudantes terão contato com Big Data, que compõe o segundo eixo previsto no curso. O terceiro eixo, a ser implementado no segundo semestre para estudantes do 3º ano, abordará a análise de dados. A proposta é que, ao final de cada trilha, os estudantes saiam com um certificado de assistente do respectivo tema estudado.
Acesse o site do itinerário formativo
“Na medida em que os conteúdos contribuem para o desenvolvimento do pensamento crítico e a capacidade de tomar decisões, esperamos que os jovens possam tomar melhores decisões em suas vidas, contribuindo não só para a empregabilidade, mas também na formação de cidadãos conscientes do seu papel e protagonistas em suas vidas”, declara Americo Mattar, diretor-presidente da Fundação Telefônica Vivo.
Como implementar?
Por ora, a aplicação é experimental, porque Ciência de Dados ainda não é um curso que faz parte do Catálogo Nacional de Cursos Técnicos (CNTC) do Ministério da Educação. Para que as redes de ensino possam aplicá-lo, no entanto, basta submeter o curso aos seus Conselhos Estaduais de Educação.
Lúcia Dellagnelo explica que para disseminar a implementação do curso, um guia de implementação foi elaborado e disponibilizado no site do programa. O material cobre questões de natureza prática para a oferta efetiva de programas profissionalizantes na rede pública, e ainda um projeto pedagógico de curso, que apresenta justificativas, critérios de avaliação, metodologia de ensino-aprendizagem e demais questões pedagógicas.
“Em conjunto, os três materiais oferecem todas as informações e diretrizes necessárias para a inserção do tema no planejamento pedagógico de escolas e redes públicas de ensino”, diz a presidente do CIEB.
O Novo Ensino Médio, que tem previsão de implementação em 2022, traz além dos itinerários formativos, uma nova composição focada no protagonismo do estudante e temáticas atuais que são do interesse das juventudes para que, assim, a experiência de aprendizagem seja mais significativa.
“Precisamos democratizar a educação em dados. Todas as profissões necessitarão da leitura e análise de dados. Além disso, a educação em dados contribuirá com o crescimento pessoal e profissional dessa geração e com o desenvolvimento do país. A transformação digital da sociedade tornou a Ciência de Dados uma área crítica para todas as nações”, reforça Lúcia.
O coordenador de Santa Catarina ressalta que, entre as profissões do futuro, alguém especializado em lidar com dados está entre uma das principais demandas, o que justifica a criação e implementação de um itinerário formativo dedicado ao tema.