Canadense é eleita melhor professora do mundo e ganha prêmio de US$ 1 milhão
Em um trabalho que vai além das práticas em sala de aula, Maggie McDonnell transforma a vida de estudantes de uma comunidade marcada por casos de suicídio
por Redação 20 de março de 2017
A professora canadense Maggie McDonnell conquistou neste domingo (19) o Global Teacher Prize, prêmio de US$ 1 milhão oferecido anualmente pela Fundação Varkey ao melhor professor do mundo. A cerimônia que aconteceu em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos, teve a presença do professor brasileiro Wemerson da Silva Nogueira, um dos dez finalistas, que já escreveu sobre seu projeto de escuta de alunos ao Porvir. O anúncio da vitória de Maggie foi feito pelo astronauta francês Thomas Pasquet em uma mensagem por vídeo enviada da Estação Espacial Internacional.
Nascida na província da Nova Escócia, Maggie passou cinco anos trabalhando na África Subsaariana em ações de prevenção à AIDS logo após conseguir o diploma de bacharelado. Quando voltou ao Canadá, obteve o título de mestrado e descobriu que o país começara a debater abusos cometidos contra povos indígenas, incluindo a exploração predatória do meio ambiente e a grande desigualdade socioeconômica. Diante desse cenário, aproveitou a oportunidade para começar a lecionar para comunidades indígenas e, ao longo dos últimos seis anos, tornou-se professora de uma cidade da província de Quebec com 1.300 habitantes da população Inuit chamada Salluit, localizada no Ártico canadense, que é acessível somente por transporte aéreo e convive com temperaturas de -25º C no inverno.
Tais condições fazem com que muitos professores prefiram pedir transferência no meio do ano letivo (muitos atribuem ao estresse) e o desenvolvimento da educação no Ártico acaba prejudicado. O próprio diretor da escola Ikusik High School, em que Maggie trabalha, pediu licença de seis semanas por questões psicológicas. Segundo a professora, existe um mito de que o dia letivo acaba às 3 da tarde. “Acho que como professora de uma pequena comunidade do Ártico, seu dia nunca acaba. As portas podem até serem fechadas – mas o relacionamento com seus alunos é constante à medida que você compartilha a comunidade com eles”.
Na região Inuit de Nunavik, a gravidez de adolescentes e os casos de abuso sexual são comuns e tarefas domésticas sobrecarregam as mulheres. Para mudar essa situação Maggie criou um curso de habilidades para a vida focado em meninas que resultou 500% de aumento em programas que antes era dominado por meninos. Ela também levantou US$ 30 mil para o preparo de refeições quentes para a comunidade e mais US$ 20 mil para um programa interno em que estudantes preparam pratos saudáveis para seus colegas. Em outra iniciativa, estabeleceu uma parceria com creches onde seus estudantes trabalham na sala de aula com professores experientes para receber mentoria e melhorar seu entendimento a respeito da educação na primeira infância. Para combater o uso de álcool, cigarro e outras drogas entre adolescentes, Maggie criou um programa de ginástica para que jovens e adultos adotem hábitos saudáveis.
A estratégia de Maggie tem sido transformar alunos de “problema” em “solução” por meio de iniciativas chamadas de “atos de gentileza” que os envolveram em atividades de seu interesse que acabaram aumentando em muito a frequência escolar. Entre os exemplos estão: comandar uma cozinha comunitária, fazer caminhadas por parques nacionais para conhecer práticas de preservação e sustentabilidade, e frequentar programas de prevenção ao suicídio – a região teve cinco casos em 2015, todos de jovens entre 18 e 25 anos.
Durante a cerimônia, Maggie descreveu como se sentiu ao entrar na escola após um aluno perder a vida. “Como professora, quando eu venho à escola na manhã seguinte, uma carteira fica vazia na sala de aula. Existe tranquilidade e silêncio”.
Mesmo diante de suas próprias dificuldades, os estudantes de Maggie também parecem continuar o legado da professora e conseguiram US$ 37 mil para um programa de prevenção a diabetes. Maggie também foi mãe adotiva temporária de crianças na comunidade, incluindo alguns de seus próprios alunos.
Histórico
Em 2016, a professora palestina Hanan al-Hroub foi a vencedora por seus esforços em encorajar estudantes a deixarem a violência de lado e adotarem o diálogo. Em 2015, ano da primeira edição, o prêmio foi para Nancie Atwell, dos Estados Unidos.