Google Expeditions convida toda a classe para um passeio virtual - PORVIR
Crédito: Vinícius de Oliveira

Inovações em Educação

Google Expeditions convida toda a classe para um passeio virtual

Com a ajuda dos óculos de realidade virtual Google Cardboard, alunos conseguem visitar monumentos, maravilhas naturais e até a lua

por Vinícius de Oliveira ilustração relógio 4 de dezembro de 2015

A atividade mal começou e o que mais se ouve é “Caraaaaaamba!”, “Uaaau!”. O óculos é ligado e imediatamente a classe é levada para um passeio por uma floresta no meio da África até que alguém olha ao redor e dá de cara com um enorme gorila. Um novo grito, desta vez de susto. Avisados pelo colega, aos poucos mais alunos vão se aproximando do local onde o animal está e o instrutor aproveita para dar as primeiras explicações, como se estivesse comandando uma caminhada por uma trilha em mata fechada.

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Tornar a aula mais divertida e levar alunos para uma viagem inimaginável de ser feita com o ônibus escolar é a proposta do Google Expeditions, projeto que traz conteúdos interativos à sala de aula com ajuda dos óculos de realidade virtual Google Cardboard. Vendidos por cerca de US$ 10 dólares na loja virtual Amazon dos Estados Unidos, o dispositivo feito de papelão com lente de 45 milímetros funciona acoplado a um celular e carrega uma filosofia diferente daquelas dos equipamentos de mais de US$ 1.500, como o Oculus Rift, cuja fabricante foi adquirida recentemente pelo Facebook. Neste primeiro momento, ainda como projeto-piloto, a caravana do Expeditions tem visitado algumas escolas particulares e públicas de São Paulo (SP), Florianópolis (SC) e Manaus (AM). Além do Brasil e dos Estados Unidos, onde teve início em setembro, o projeto deve passar por escolas da Nova Zelândia, Reino Unido, Canadá, Singapura, e Dinamarca.

O Porvir acompanhou a visita do Expeditions à unidade Morumbi da Escola da Vila, na zona sul de São Paulo, para saber como acontece a interação em sala de aula. Guiados por um instrutor, alunos e professores puderam conhecer de perto alguns dos 100 lugares disponíveis para visitação, como o arquipélago de Fernando de Noronha, o Castelo de Versalhes, na França, e o parque Yosemite, nos EUA. Como no mundo virtual as possibilidades são infinitas, até mesmo o pouso da nave Apolo 11, ao lado dos astronautas Neil Armstrong e Buzz Aldrin, pôde ser visto de perto em detalhes, o que fez alunos se perguntarem “por que existem tantas crateras na lua?”.

A todo o momento, alunos são convidados a levantar das carteiras. Dentro do ambiente virtual, seus movimentos são acompanhados de perto pelo instrutor, que usa um tablet para comandar a atividade. Cada um dos cenários possui uma página com notas explicativas vão ajudar o professor quando o projeto ganhar corpo e chegar à sala de aula. À primeira vista, tudo parece um ambiente semelhante ao que pode ser acessado na ferramenta Google Maps, mas os óculos tornam o “passeio” mais imersivo.

João Guilherme Battaglia, 12, aluno do 6º ano, diz ter gostado de estar no meio de uma floresta pela primeira vez e conta que “a impressão é que tudo parece real”. Essa mesma avaliação é compartilhada por Júlia Mendonça, 12. A aluna do 7º ano ainda vê uma vantagem clara em relação ao jeito tradicional de aprender. “Isso é mais legal que um livro porque dá uma sensação que você está presente no lugar. Não é só uma foto, é bem realista”, diz. Para ela, o projeto pode ajudar especialmente em matérias como ciências e história. “Elas são mais teóricas e, com isso, não fica só na decoreba”.

O professor de ciências Pablo Candiani, é mais cauteloso. Ele considera que projeto se tornará mais interessante quando o professor tiver a oportunidade de produzir o conteúdo e utilizá-lo dentro de sua própria sequência de aulas. “É uma ferramenta muito legal, tem uma qualidade muito boa, mas se não tiver uma proposta de ensino por trás vira entretenimento”. Essa nova possibilidade, aliás, já aparece no horizonte do Google e abrirá espaço para a criação de uma enorme comunidade de aprendizado, segundo conta o diretor de educação Rodrigo Pimentel. “Em determinado momento, a gente vai ter visitas criadas pelos próprios professores e alunos que serão disponibilizadas de forma gratuita para o mundo inteiro. Imagina que legal ter um aluno na China que faz uma visita ao quintal dele, caminha por Pequim e coloca isso para um outro aluno aqui no Brasil baixar e conhecer”.

Outro incremento que deve aparecer em breve são os passeios virtuais por meio de vídeos. Isso, no entanto, coloca um desafio para o principal trunfo do projeto até aqui: o custo. Foi justamente por esse fator que o Expeditions conseguiu chegar a salas de aulas de comunidades ribeirinhas no Amazonas, que sequer estão conectadas à rede de energia elétrica. “Pelo fato de ser uma ferramenta que não demanda conectividade, você já mata de cara o grande problema das escolas públicas”, diz Pimentel.

Uma vez superada a fase-piloto, o projeto deve se apoiar na presença massiva de celular entre alunos e professores do ensino básico: 79% nas escolas públicas e 84% na rede particular, de acordo com dados da pesquisa Tecnologia da Informação e da Comunicação (TIC) Educação 2014. “A verdadeira inclusão digital no Brasil, nas escolas públicas, se dará pelo celular. Não precisa reinventar a roda. Já está lá. O Expeditions só traz mais um tema a essa discussão: como levar tecnologia acessível, baixa conectividade e juntar com o que os meninos já usam”.


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conectividade, ensino fundamental, ensino médio, google, realidade virtual, tecnologia, tecnologia vestível

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