Projetos iniciados no ensino remoto permanecem vivos e evoluem no período presencial - PORVIR
Crédito: Monkey Business Images/iStockPhoto

Inovações em Educação

Projetos iniciados no ensino remoto permanecem vivos e evoluem no período presencial

Inspire-se em exemplos de práticas apoiadas em tecnologia que engajam estudantes e tiram o trabalho repetitivo da rotina de professores

Parceria com Microsoft

por Ruam Oliveira ilustração relógio 15 de março de 2022

A expressão “volta ao presencial” pode despertar diferentes pensamentos e reflexões. É a hora de retomar o convívio escolar, rever colegas, socializar e dar seguimento ao trabalho que já estava sendo feito no período anterior, quando as aulas ainda estavam em modo remoto.

Mas este mesmo “volta ao presencial” pode significar para algumas pessoas deixar de lado práticas e ferramentas que foram usadas no online. Aqui no Porvir compartilhamos diversas práticas e projetos que usaram da tecnologia como principal apoio no momento de ensinar.

Manter determinadas práticas concebidas remotamente e continuar , faz sentido?

“Acho que o desafio é olhar para a tecnologia e tentar entender o que ela trouxe de bom nesse momento tão difícil [de pandemia]. Ela trouxe várias coisas boas: a gente tem a possibilidade de correção digital, que facilita muito; a gente pode fazer um repositório de arquivos e colocar todo o material dos alunos na nuvem, por exemplo”, diz Fernando Puertas, educador Microsoft.


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Ao avaliar a experiência de ensino e aprendizagem até o último ano letivo, Puertas reconhece que o período, a despeito de todas as dificuldades,  proporcionou que diferentes metodologias fossem utilizadas e até mesmo modalidades distintas, como aulas síncronas e assíncronas, que não eram tão comentadas quanto hoje.

Voltar ao presencial não significa esquecer o que foi conquistado ao longo dos últimos anos. Entre as vantagens apontadas por Fernando, está o letramento digital de grande parte dos educadores. Hoje em dia é muito mais fácil encontrar quem se dá bem usando o Teams ou alguma plataforma de arquivos em nuvem ou de avaliação, por exemplo.

“A tecnologia potencializou muitas coisas, facilitou e automatizou muitas tarefas que antes eram manuais”, afirma Fernando.

Avaliar o território

Como estratégia para tentar manter o uso de aplicativos e plataformas digitais durante o período presencial, o coordenador dos anos finais do ensino fundamental da Escola Vera Cruz (SP), Daniel Helene, conta que fez junto ao corpo docente uma breve consulta para entender o que, no ponto de vista dos educadores e especialmente no uso da tecnologia, havia sido um ganho nos processos pedagógicos e que não podiam “perder”.

A partir dessa pesquisa, pensaram em diretrizes que levassem em consideração competências digitais docentes associadas ao trabalho pedagógico de cada um deles. Daniel comenta que um dos legados desse período é compreender que o trabalho pedagógico e as tecnologias digitais possuem fronteiras muito estreitas.

O coordenador comenta que também mantém na escola um processo formativo de incentivo ao desenvolvimento dessas competências digitais dos docentes. Ele relata que a possível resistência ao uso de tecnologias que ele poderia encontrar em 2019 já não ocorre agora.

Débora Rana, coordenadora do 3º ao 5º ano na Escola Vera Cruz (SP), também afirma que manter e o uso de aplicativos como Sway, SharePoint etc não foi difícil depois que a prática já estava introjetada na rotina. “A gente continua usando porque facilita. Ganhamos tempo, amplitude e mais alinhamento na comunicação e a organização fica muito facilitada. É uma opção muito contributiva”, conta.

Para Débora, usar tecnologias digitais hoje, mesmo que em um ambiente presencial, é uma atitude mais orgânica. Muitos educadores já incluíram a adoção de ferramentas e diferentes plataformas em suas rotinas quando e de que maneira podem usar determinadas plataformas.

Como citado por Fernando, a pandemia deixou um legado que é o letramento digital. No entanto, ele ainda aparece como um desafio para muitos educadores, seja devido ao acesso a dispositivos, seja conectividade ou outros aspectos estruturais.

É preciso formação

A professora Andrea Barreto, professora de Ciências da rede municipal do Rio de Janeiro (RJ) e Microsoft Innovation Educator Fellow, pontua que há o desafio da formação de docentes não somente para usar as plataformas, mas também para que haja um melhor entendimento sobre o modelo híbrido, por exemplo.

“A gente não foi preparado para trabalhar nesse modelo híbrido. Precisa de formação para entender que em um modelo híbrido não se faz dois planejamentos, duas realidades ou duas aulas diferentes. É uma aula contínua”, aponta.

Nesse sentido, continuar a usar ferramentas digitais passa pela necessidade de compreender os motivos pelos quais elas estão sendo utilizadas.

Como uma das estratégias de uso continuado da tecnologia, Andrea sugere que educadores lancem determinados desafios para o aluno nos quais eles comecem a fazer uma tarefa em casa e finalizem na sala. A educadora reforça que a formação de professores é fundamental para fazê-los entender essas possibilidades.

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Diferenças

Atuar no modo online e no presencial requer posturas e planejamentos muito distintos. Isso também implica conhecer bem as ferramentas e plataformas digitais a fim de integrá-las de maneira mais consciente, sem limitar as possibilidades de ambas as modalidades.

A professora Tábata Áurea Silva, do Colégio Santa Catarina, de São Paulo (SP), pontua que percebe a diferença nos ambientes e na maneira como cada estudante seu reagia. Mesmo que com respostas positivas aos estímulos, Tábata diz que o modelo presencial amplifica a possibilidade de troca e até mesmo de engajamento com as ferramentas digitais.

“A possibilidade de descobrir novas funções em uma plataforma diferente, por exemplo, utilizando as informações que são socializadas por professores e colegas, faz com que o estudante desenvolva mais autonomia, algo que eu não via com tanta frequência na modalidade online”, afirma.

Para continuar usando ferramentas digitais, a professora adaptou o que pedia de portfólio para os estudantes e passou a criar pastas em ambiente virtual. “Durante as aulas remotas minha visão sobre a avaliação mudou bastante. Consegui vivenciar em minha prática a potência do portfólio, um instrumento que me dá visibilidade de todo percurso percorrido por meus alunos. Sem dúvidas darei continuidade ao uso desse recurso”

A estratégia de unir, com a ajuda das metodologias ativas, aspectos interativos das ferramentas digitais tem funcionado para o professor Paulo Rogério Torezani, que dá aulas de ciências da natureza no Colégio Santa Catarina, em Santa Tereza (ES). O educador vem utilizando a interatividade de aplicativos para abrir espaço ao protagonismo do estudante. Para isso, utiliza painéis digitais, simuladores online e jogos em equipe que, de acordo com ele, tornam o tempo didático mais potente e organizado.

“As ferramentas digitais são grandes aliadas das metodologias ativas, da otimização dos tempos didáticos e da personalização do ensino, sem contar que algumas práticas são impossíveis de serem reproduzidas de forma não virtual. Usar estes elementos amplia a capacidade autônoma do aluno e garante ao professor um acompanhamento mais individual da trajetória do estudante”, diz Paulo.

O educador também pontua que percebe na prática o quão positivo é esse uso de dispositivos digitais em ambiente presencial. Um destes reflexos é o engajamento dos estudantes.

“Por mais que o formato digital tenha substituído as aulas presenciais em sua totalidade em determinado momento da pandemia, o espaço de encontro, de troca presencial é muito mais eficiente até mesmo para convergir as experiências virtuais que temos. Para mim, o grande passo é potencializar as aulas com o uso das ferramentas digitais, de modo que este ambiente virtual conecte cada encontro presencial, cada estratégia e objetivo de aprendizagem”, pontuou Paulo.

Primeiro passo

Julci Rocha, Diretora da Redesenho Educacional e Microsoft Innovation Educator Fellow, ressalta que é importante também realizar uma avaliação diagnóstica com os estudantes a fim de identificar quais habilidades foram adquiridas e quais ainda precisam desenvolver.

“Os professores devem organizar suas experiências de aprendizagem de maneira mais flexível e independente, de forma que os estudantes possam estudar de qualquer lugar e a qualquer tempo. O conceito de ‘uma aula pra todo mundo’ está cada vez mais distante, já que sabemos que os saberes adquiridos no contexto da pandemia são os mais diversos possíveis e que partir de um lugar comum será muito improvável. Portanto, esses tempos para além da aula regular, serão fundamentais. Porém, mesmo na aula regular é possível propor diferentes experiências, partindo de momentos de aprendizagem diferentes de cada um.”

Ela reforça que as escolas e educadores precisam compreender a importância da cultura digital na educação. Do contrário, corre-se o risco de descontinuar boas práticas aprendidas durante a pandemia. Julci também faz um adendo sobre a necessidade de que gestores públicos e privados garantam a conectividade nas escolas, dispositivos e formação dos docentes para um uso inovador dos recursos. “Os professores, por sua vez, precisam assumir seu papel como profissionais do século 21 e engajar-se numa jornada de aprendizado pessoal para compreender melhor como as tecnologias podem potencializar o aprendizado”, comenta.

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