Tecnologia e produção de texto transformam alunos em repórteres da escola - PORVIR
Crédito: Flickr/Prefeitura de Itapevi

Diário de Inovações

Tecnologia e produção de texto transformam alunos em repórteres da escola

Jornal de turma do 4º ano do ensino fundamental reúne ferramentas digitais, pesquisa e diferentes disciplinas em escola pública de Poços de Caldas (MG)

por Lilian Kelen Almeida Bernardes / Cristiane Aparecida Félix ilustração relógio 23 de junho de 2023

O que um projeto interdisciplinar para os alunos do 4º ano do ensino fundamental precisa ter para ser atrativo? Qual o caminho para colocar os estudantes como protagonistas dessa ideia e ainda homenagear nossa região? E a tecnologia, que tanto estimula as crianças, como pode ser conectada efetivamente ao currículo? Somos professoras da Escola Municipal Maria Ovídia Junqueira, em Poços de Caldas (MG), e essas perguntas nos estimularam a desenvolver um projeto que une tecnologia, produção e interpretação de texto. Criamos, então, o projeto do “Jornal Deixa que a Gente Conta”, inspirado no jornal “Mantiqueira”, único ainda impresso na cidade. 

Nossos alunos se dedicaram à pesquisa e à reportagem para relatar como era o universo escolar. O primeiro passo foi alinhar nosso plano de aula com os componentes curriculares e habilidades que os alunos precisariam desenvolver. Um exemplo: dentro da língua portuguesa, trouxemos a habilidade EF04LP16, que trata basicamente da produção de notícias. 

Mas, quais seriam essas matérias? Decidimos, assim, desenvolver 20 eixos temáticos que serviriam de base para a pesquisa e transformados em seções. Entre os tópicos, selecionamos “fato ou fake”, entrevistas com as diretoras e com a coordenadora da escola, outra parte traria a agenda de eventos. Também selecionamos poesias e atividades lúdicas para publicação.


Nossa meta era ter nossos alunos protagonistas dentro do mundo da tecnologia, que pudessem desenvolver a capacidade de pesquisar, organizar e reunir informações, bem como elaborar uma uma produção coerente e significativa. Todo o trabalho foi desenvolvido em grupo, pois também queríamos observar as questões socioemocionais e o convívio – afinal, o projeto foi feito no segundo semestre de 2022, com a volta às aulas presenciais e às dificuldades comuns a todos depois de dois anos de pandemia. 

Dividimos a turma em cinco grupos e sorteamos quatro temas para cada. Partimos para mediar as pesquisas, que aconteciam quase todos os dias, e criamos um grupo de WhatsApp para as trocas e ideias, que iam além da sala de aula. Tudo era muito integrado. Fazíamos uma conversa às segundas-feiras, como se fosse uma reunião de pauta, para decidir sobre o que escreveríamos, quem entrevistaríamos e, no dia seguinte, os alunos usavam os computadores para montar o jornal.

Contamos com o Ativamente, programa de educação digital da secretaria municipal, em todas as etapas de construção. Ao longo de quatro meses, com apoio do monitor do programa, Pablo Santos, os estudantes ganharam familiaridade com o notebook, para digitar os textos no Google Docs, selecionar as fotos e criar as páginas. Transferíamos as fotos tiradas pelo nosso celular para o computador e as reuníamos, junto com os textos finais e editados, no Google Drive

Clique na imagem abaixo para conferir a galeria de fotos:

Mas, antes disso, eles colocaram a mão na massa, literalmente: levamos um microondas para a sala e fizemos um bolo de caneca, para publicar a receita no jornal. Rodas de conversa também foram registradas em vídeos e trabalhos sobre bullying e cyberbullying, entre outras atividades que se transformaram em reportagens. 

Durante o processo, tivemos o apoio de toda a comunidade escolar. As famílias acompanharam de perto as pesquisas e o trabalho dos alunos. Depois da pandemia, não era tão fácil falar com desenvoltura sobre a vida no futuro ou mesmo resgatar a história da escola entrevistando a equipe. Mas todos se empenharam muito. 

Tamanho foi o engajamento da turma que ficou difícil selecionar o que entraria ou não no jornal. Eles traziam muitas ideias, e nós, como professoras, precisamos mediar as dificuldades de um aceitar a decisão do outro, abordando na prática a empatia e o respeito.

A diagramação do jornal foi feita pelo editor de texto do Google. Por lá, há alguns modelos práticos para o uso de boletim informativo. Nós nos empolgamos tanto que fizemos uma edição com 62 páginas! Pensamos em imprimir os exemplares em uma gráfica de jornal, mas ficaria muito caro. Veio, então, a ideia de uma apostila, mas o valor seguia alto. Nossa escola está localizada em uma comunidade que não poderia colaborar com os recursos, mas não desistimos. Optamos, então, por comprar uma encadernadora e os materiais necessários e fizemos cópias para todos os nossos alunos e para a escola, que ajudou no que pôde, mas 90% dos gastos foram nossos.

Finalizamos o projeto no final de novembro em um evento, que contou com a secretária de educação da cidade, Maria Helena Braga, e outros representantes da prefeitura. Os alunos leram suas cartas para falar sobre a experiência e os aprendizados ao longo das atividades. Sem contar que o nosso jornal foi notícia do jornal local que nos inspirou

Atualmente no 5° ano, os estudantes, nossos ex-alunos, já nos convidaram para um chá-literário, com leitura de cordéis e poesias. Um filme passou pela nossa cabeça e nos orgulhamos de ver que o incentivo pela escrita segue rendendo novos projetos. Mais do que o lado acadêmico, professores são responsáveis por criar memórias. O trabalho ao longo dos últimos meses com nossos alunos para a criação do jornal “Deixa que a gente conta” demonstrou esse poder.


Lilian Kelen Almeida Bernardes

Formada no magistério e futura pedagoga, é educadora no ensino fundamental 1. Atua na educação há dois anos.

Cristiane Aparecida Félix

Cursando licenciatura em letras, é formada em pedagogia. Possui dez anos na área da educação, atuando desde a educação infantil ao fundamental 2.

TAGS

aprendizagem baseada em projetos, educação midiática, ensino fundamental, Finalista Prêmio Professor Porvir, interdisciplinaridade, Prêmio Professor Porvir

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