Na alfabetização, contato com professor deve pautar aulas presenciais e online
Aprendizagem acontece quando aulas presenciais, online e remotas têm atividades bem planejadas e estruturadas. Jogos e plataformas digitais facilitam o processo e trazem informações sobre o desenvolvimento das crianças
por Fernanda Nogueira 16 de julho de 2021
O uso planejado e estruturado dos momentos de aula presenciais e online ajuda a melhorar os resultados do processo de ensino e aprendizagem na etapa de alfabetização. Enquanto os encontros presenciais ou aulas online ao vivo podem ser usados para o desenvolvimento de habilidades, os jogos digitais mostram como as crianças absorvem o que foi trabalhado em aula, como avançam e que dificuldades apresentam. Esses dados permitem uma atuação personalizada em relação às necessidades de cada um.
Na etapa de alfabetização, segundo Claudia Benedetti, gerente de produto da Plataforma AZ, as aulas ao vivo, presenciais ou online, são fundamentais, porque o professor precisa estar em contato com os alunos. “É a etapa mais importante da vida acadêmica de uma pessoa. Quando não é feita a contento, traz prejuízos para a vida toda. Precisa dar muita atenção.”
As plataformas online auxiliam escolas, professores e familiares ao sistematizarem o processo de mediação, trazendo habilidades e objetivos de aprendizagem de forma estruturada.
A BNCC (Base Nacional Comum Curricular) norteia o trabalho. “Pensamos sobre como atingir as habilidades e competências, quais são os melhores métodos e estratégias a serem usados. Construímos, a partir disso, a jornada de aprendizagem do aluno, planejada com objetivos específicos e pautada nas sequências didáticas, com as habilidades da BNCC sempre muito integradas”, afirma Claudia.
Assim como acontece nas aulas presenciais, o ambiente virtual precisa ser um espaço planejado, que agilize e facilite a comunicação e que gere evidências sobre o progresso, para o professor e para o aluno. “O professor precisa ter um relatório em mãos sobre a fase de aprendizagem e de desenvolvimento. Isso é fundamental na alfabetização, que tem grupos heterogêneos, com crianças em diferentes fases e níveis de alfabetização e letramento.”
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Personalização
Além da questão das evidências de aprendizagem, que permitem a mediação do professor, há também a possibilidade de personalização maior do processo, de acordo com Claudia. “A geração de evidências ajuda o professor para que atue exatamente onde precisa com o aluno, turma ou grupo. Ele consegue gerar indicadores mais precisos, que permitem uma atuação personalizada, com foco na aprendizagem.”
O aspecto lúdico é outro ponto importante. “O jogo é planejado para motivar o aluno. Ele ganha pontos, avança nas missões, ganha condecorações, supera desafios. A gamificação traz a ludicidade e ajuda a criança a se motivar para a aprendizagem, a refletir sobre hipóteses”, afirma Claudia.
É fundamental contar com o envolvimento da família. A plataforma AZ, por exemplo, traz soluções de comunicação. O professor consegue mostrar a evolução da criança aos pais sem ter que esperar pela reunião de pais, segundo a gerente.
“A família, neste momento em que estamos, é muito importante no processo. Tem experiências de familiares que jogam com as crianças, se envolvem. A criança fica motivada, empolgada. A colaboração ajuda muito.”
Mediação
Entre as necessidades específicas dos estudantes na etapa de alfabetização ao usar a tecnologia estão a preparação do material didático, a mediação de um adulto, preferencialmente especializado, e o tempo de exposição.
“Nesta fase, em que os alunos ainda não têm total autonomia, o professor é o leitor, constrói as hipóteses com eles em atividades e exercícios. Os jogos estão preparados para o processo, trabalham som e imagem para que as crianças consigam fazer relações e se sintam estimuladas”, explica Claudia.
O tempo de uso da tecnologia deve ser qualificado, de acordo com a gerente. “A dosagem é importante. Não vai fazer com que a criança fique jogando o tempo todo. É um momento. Indica missões e jogos específicos para determinados conteúdos e projetos.”
Recuperação
Ao recuperar a aprendizagem no contexto da pandemia, é preciso descobrir quais são as lacunas por meio de um mapeamento diagnóstico, segundo Rafaela Beleboni, gerente de avaliações e indicadores de aprendizagem da Conexia Educação.
Antes disso, é necessário selecionar quais são as habilidades a serem avaliadas. “Considerando este momento, é importante priorizar algumas habilidades, aquelas que são mais importantes. Feito um mapa de foco, o professor pode, então, preparar um documento diagnóstico, que consiga avaliá-las.”
A avaliação é feita com o uso dos jogos digitais, que mostram erros e acertos da criança. O resultado traz informações sobre habilidades a serem priorizadas e desenvolvidas, o que facilita o planejamento e a seleção de atividades pelo professor. “Precisa fazer aulas que possibilitem ao aluno desenvolver aquilo que ele ainda não sabe e consolidar aquilo que já sabe.”
Esta intervenção personalizada pode ser feita tanto em momentos de aulas presenciais como remotas. “É importante interagir diretamente com o aluno, fazendo boas perguntas e dando bons feedbacks (retornos avaliativos) para que ele evolua naquela etapa de alfabetização em que está”, diz Rafaela.
Resultados
Na Escola Interativa, que tem unidades em Flores da Cunha e Antônio Prado, no Rio Grande do Sul, o uso de tecnologia se intensificou no ano passado. Com a criatividade dos professores, o envolvimento das famílias em casa e o acompanhamento sistemático, o trabalho com as crianças trouxe resultados, segundo Catia Diegues Vaz Marostica, coordenadora geral da escola.
“A ludicidade foi muito utilizada, com brincadeiras, com o livro e o planejamento do professor. Tinha atividades legais, que deram resultados muito bons. Tivemos 100% de alfabetizados. Fizemos avaliações diagnósticas e agora, no segundo ano, conseguimos fazer todo o acompanhamento”, diz Catia.
A professora do primeiro ano do ensino fundamental Rafaela Prigol conta que procurou usar o que as crianças tinham em casa para ensinar as letras, durante as aulas online ao vivo. “Pedia para procurarem objetos que começassem com a letra “C”, por exemplo. É diferente. No presencial, a gente vê, consegue ajudar. No online, precisa da família.”
Neste ano, a escola voltou ao ensino presencial, com algumas crianças estudando a distância por decisão dos pais. A tecnologia faz parte das aulas em sala de aula e em casa. “Trabalhamos a autonomia dos estudantes com as atividades digitais. Isso começa com a educação infantil e se intensifica no fundamental e médio. Sempre com o olhar da escola e do professor. Antes, precisavam levar o livro para casa, agora eles abrem o computador, pegam os exercícios e fazem. Tudo isso facilita o novo modelo de aprendizagem”, explica Catia.
A diretora da escola, Eroni Mazzochi Koppe, lembra que o primeiro ano é um momento muito importante na vida da criança, quando ela toma gosto pela aprendizagem. “Tem que ser lúdica, uma brincadeira do aprender. Eles vão juntando vogais e consoantes, aprendendo a escrever as próprias palavras. Cada um escreve sua palavra, seu desejo. Constroem a alfabetização até chegarem a pequenas frases e textos, com a oportunidade tão importante de amar a aprendizagem.”
A escola desenvolve projetos com a participação de todas as turmas. Neste ano, os estudantes escreveram cartas sobre a pandemia. O trabalho foi todo feito online, com apresentações e vídeos para os familiares e a comunidade. “Procuramos resgatar a comunicação de antigamente com uma modelagem atual, digitalizada”, conta Catia. O trabalho vai se transformar em um livro com a coletânea de todas as cartas.