Professora grava podcast para ensinar literatura, artes e cultura no fundamental 1
A escolha de produzir um podcast se deu porque a professora identificou a facilidade de ouvir e gravar esse tipo de recurso didático
por Daniela Paolini 15 de setembro de 2021
Ao iniciar minhas pesquisas sobre o que implementar de diferente em 2021, me deparei com o podcast. Já tenho costume de ouvir alguns programas de meu interesse e recentemente passei a pesquisar podcasts infantis. Fiquei encantada ao escutar as próprias crianças narrando histórias ou ensinando algo. Testei com os meus filhos, passamos a escutar juntos alguns episódios e a receptividade foi tão positiva que tive a certeza de que esse poderia ser um caminho inovador e motivador para os meus alunos.
Apesar de estar familiarizada com o modelo, a minha maior dificuldade foi buscar uma plataforma que fosse fácil de se manusear e que eu pudesse aprender sozinha, sem nenhum custo adicional. Foi quando, por meio das minhas pesquisas, encontrei a plataforma Anchor, do Spotify. É uma plataforma gratuita e de fácil acesso.
Assisti a diversos vídeos tutoriais para aprender e comecei a fazer alguns testes com os meus filhos de 8 anos, antes de implementar com os meus alunos. Fui aprendendo a gravar no celular, passar para a plataforma, editar o áudio, incluir trilha sonora de fundo, música de abertura e fechamento, transições de um áudio para o outro. Hoje já estou bastante acostumada com a ferramenta, mas digo que sigo em processo de aprendizagem.
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A ideia de criar um podcast junto com a turma teve como um dos principais objetivos compartilhar com amigos, familiares e demais integrantes do colégio os projetos realizados pelos alunos do 3º e 4º ano do fundamental 1 que permanecem no Período Ampliado do Colégio Augusto Laranja.
Com o objetivo de reaproximar os alunos da literatura, da arte e da música, o projeto que está sendo desenvolvido ao longo de 2021, visa apresentar às crianças novos olhares sobre esses aspectos e, pegando carona no ensino remoto, que aproximou ainda mais os alunos da tecnologia, pensei na criação do podcast como forma de interagir com a comunidade escolar, além de estarmos alinhados à essa geração.
A cada trimestre, aprofundamos temas da literatura, das artes e da música. No primeiro, falamos sobre a importância do hábito da leitura e juntos, fizemos a leitura do livro “Diário de Pilar na Amazônia”, de Flávia Lins e Silva. A escolha do livro foi em conjunto e pudemos, além de praticar a leitura, nos aprofundarmos na cultura indígena e brasileira. Como produto final do trimestre de literatura, produzimos 3 episódios do podcast com os alunos contando um pouco sobre o livro, os momentos que mais chamaram a atenção deles e um episódio específico sobre o dicionário próprio inventado por Pilar, com palavras divertidas e engraçadas.
Já no segundo trimestre, demos um giro na arte modernista, cubismo e xilogravuristas, mas, nos aprofundamos mesmo na arte urbana e nas diversas formas de se expressar por meio dela. Conhecemos os principais grafiteiros brasileiros como Eduardo Kobra, Os Gêmeos, Bieto, Pixote Mushi, O Crânio, Nina Pandolfo e Panmela Castro. Para essa temática, produzimos mais três episódios nos quais os alunos puderam falar sobre arte, arte urbana e sobre os artistas. Agora, vamos mergulhar na música brasileira e nos diversos estilos produzidos no país, com mais três episódios previstos para gravação.
Essa prática pode ser considerada inovadora na escola e até mesmo experimental. O projeto, que era para ser implementado apenas no primeiro trimestre, foi um sucesso entre os alunos que participaram, e agora vamos continuar até o final do ano. Com o apoio da coordenadora do Período Ampliado (P. A.), Valeska Leivas, realizarei um treinamento com os demais professores do P.A. sobre como utilizar essa ferramenta de áudio para que possam implementar também com outras faixas etárias.
Os próprios alunos foram a minha motivação por buscar algo inovador para as nossas aulas e como produto final dos nossos projetos trimestrais. Essa faixa etária precisa de ferramentas que conversem com essa geração para que possam se manter ainda mais motivados e interessados na realização de projetos.
Após um ano com o ensino remoto, os alunos tiveram ainda mais contato com a tecnologia e trabalhar com esse tipo de ferramenta tornou-se algo bastante atual. Escutar um podcast hoje em dia é muito fácil e está ao alcance de todos e em qualquer hora ou lugar, como no carro, em casa, enquanto realiza uma atividade física, etc.
Apesar dessa ferramenta conversar com essa geração, senti uma resistência no começo. Alguns alunos sentiram dificuldade para se expressar durante as gravações, outros trabalharam a timidez em ouvir a própria voz, mas, depois que os três primeiros episódios foram lançados às famílias e à comunidade escolar, o retorno das famílias e da escola como um todo foi tão positivo que isso os motivou ainda mais, sentiram orgulho do trabalho realizado e toparam dar continuidade ao projeto de podcast ao longo deste ano. Hoje já conseguiram vencer a timidez e a autonomia, já propõem pauta, trilha sonora e realizam a edição junto comigo.
Acompanhar a velocidade da tecnologia para a geração “Xennial” não é uma tarefa fácil. A minha é a última geração que se lembra como era a vida antes da internet, mas sabe bem como é a vida com a sua existência.
🎧 Ouça: Porvir/RNPI ‘De 0 a 5’ #4: O impacto da pandemia e do ensino remoto na alfabetização
Daniela Paolini
Formada em Pedagogia e pós-graduada em Psicopedagogia. Atua desde então na Educação, adquirindo cada vez mais experiência profissional passando pelo Ensino Fundamental I e acompanhamento com alunos de inclusão. Trabalha no Período Ampliado do Colégio Augusto Laranja, desenvolvendo projetos junto à equipe, alunos e comunidade escolar, além do acompanhamento pedagógico com os alunos. Atualmente, dá aula para alunos do 3º, 4º e 5º Ano do EF I, totalizando 15 alunos que permanecem na escola no contra turno do período regular. Também tem formação em Comunicação Social com especialização em Jornalismo e pós graduação em Comunicação Corporativa, pela Universidade Anhembi Morumbi.